Qual o tamanho do buraco de capital no Credit Suisse?

Ações do Credit Suisse fecham alta de mais de 8%, mas desconfiança persiste

Sede do banco de investimentos Credit Suisse, em Zurique - Foto: Divulgação/Credit Suisse
Sede do banco de investimentos Credit Suisse, em Zurique - Foto: Divulgação/Credit Suisse

As ações do Credit Suisse fecharam em alta de 8,86% na Bolsa de Zurique nesta terça-feira. Ainda assim, acumulam queda de 15,26% desde o início de setembro e de 50,55% desde o início do ano. A instituição financeira enfrenta uma forte crise de confiança.

O Credit Suisse passou os últimos dias digladiando-se contra rumores nas redes sociais on-line sobre a solidez de seu balanço patrimonial, empenhado em convencer investidores e clientes de que a queda livre de suas ações e a forte alta dos swaps de crédito contra calotes não retratam a verdade sobre a saúde do banco.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

No centro do furacão há uma simples pergunta, que analistas e comentaristas do mercado não param de se fazer desde que o Credit Suisse anunciou no verão europeu a intenção de enxugar sua unidade de banco de investimento e cortar 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,52 bilhão) em custos: qual será realmente o tamanho do buraco de capital do banco com esses planos?

Em setembro, analistas do Deutsche Bank estimaram que os drásticos planos levariam a instituição de crédito suíça a ter que encontrar 4 bilhões de francos adicionais, levando em conta os custos de reestruturação, a necessidade de expandir outras linhas de negócios e a pressão das autoridades para reforçar suas taxas de capital.

Últimas em Economia

Demitir milhares de funcionários e encolher o banco de investimento são medidas que trariam custos relacionados às demissões e, possivelmente, perdas com baixas contábeis referentes à liquidação de investimentos de alto risco. O banco também precisaria investir em outras partes de seus negócios – em especial, a gestão de fortunas – para expandir os os fluxos de receita e compensar a perda de receita na área de banco de investimento.

Na sexta-feira, analistas do banco de investimento Keefe Bruyette & Woods estimaram a quantia em 6 bilhões de francos. Isso, segundo seus argumentos, obrigaria o Credit Suisse, depois da venda de ativos, a pedir aos investidores 4 bilhões de francos em capital “para acomodar um plano de expansão claro e/ou neutralizar quaisquer imprevistos, como processos ou os temores de fuga de clientes.”

Para um banco cujo valor de mercado encolheu para 10 bilhões de francos após a queda das ações nas últimas semanas, de 25%, a perspectiva de sair com o chapéu na mão pedindo dinheiro aos investidores, que já foram obrigados a tolerar perdas com escândalos como os da Archegos e da Greensill, parece cada vez mais amedrontadora.

Altos executivos do banco – que programou para o fim de outubro o anúncio dos planos para enxugar o banco de investimento – são categóricos ao afirmar que um aumento de capital seria o último recurso.

“Quero ser claro, não sondamos investidores em busca de capital”, disse um executivo de banco de investimento que passou o fim de semana ligando para os principais clientes e contrapartes tentando tranquilizá-los sobre a saúde financeira do banco.

“Estaremos nos desfazendo e vendendo ativos suficientes para financiar essa forte reorientação que pretendemos alcançar rumo a um negócio estável.”

O banco planeja vender partes de seu banco de investimento – incluindo possivelmente sua área de produtos securitizados – que, segundo analistas, poderia levantar até 2 bilhões de francos.

Gerentes do Credit Suisse foram obrigados a lançar uma ofensiva de persuasão após o aumento na semana passada dos spreads dos swaps de crédito (CDS), contratos de derivativos usados como proteção contra calotes, ter indicado que os investidores estavam ficando cada vez mais pessimistas em relação ao banco. Ao longo do fim de semana, redes de relacionamento social on-line e fóruns na internet foram inundadas por rumores sobre um colapso iminente do banco.

Na segunda-feira, ficou claro que a campanha de comunicação do banco não conseguira abrandar o nervosismo no mercado. Operadores e investidores correram para vender ações e títulos de dívida do Credit Suisse enquanto compravam CDS.

O CDS de cinco anos do Credit Suisse subiu mais de 100 pontos-base na segunda-feira, com alguns operadores cotando-o em até 350 pontos-base, de acordo com cotações vistas pelo “Financial Times”. As ações do banco caíram para seus menores níveis históricos quando o mercado abriu, para menos de 3,60 francos suíços, desvalorizando-se cerca de 10%. Os papéis mostraram recuperação no fim do pregão de segunda-feira, e nesta terça-feira fecharam em alta.

As duas frentes que mais parecem preocupar investidores e comentaristas nas mídias sociais são a posição de capital do banco, que indica sua capacidade de absorver perdas, e seus níveis de liquidez, que seriam colocados à prova em períodos de estresse de curto prazo. O banco tem reiterado que nenhuma das duas representa risco.

Em seu balanço trimestral mais recente, apresentado em julho, o Credit Suisse divulgou uma taxa de capital ordinário próprio, conhecida como CET1, que reflete sua resiliência financeira, de 13,5%, comodamente dentro de sua meta de 13% a 14% para 2022. Isso representa uma melhora em relação aos 11,4%, de 2015, e aos 12,9%, de 2020, e equivale a 37 bilhões de francos de capital.

Em comparação a outros bancos europeus, o Credit Suisse tem uma taxa CET1 semelhante às do UBS, HSBC, Deutsche Bank e BNP Paribas.

Além disso, o banco tem 15,7 bilhões de francos em capital adicional de nível 1 (AT1), que é levantado com a emissão dos títulos conhecidos como “conversíveis contingentes” (CoCos), porque podem ser convertidos em ações em tempos de estresse.

O Credit Suisse levantou US$ 1,5 bilhão em capital AT1 durante o verão europeu, em uma emissão de bônus que ofereceu 9,75%. Embora na época a emissão tenha dado a impressão de ser cara, deste então o banco teve sua nota de crédito rebaixada por várias agências de classificação de risco e o título é negociado atualmente com um rendimento de 12,5%.

Além disso, em seu balanço mais recente, o banco tinha 44,2 bilhões de francos do tipo de capital adicional conhecido como “gone concern”, que é exigido pelas autoridades reguladoras suíças para absorver perdas sem desencadear uma quebra.

“Precisaríamos queimar 97 bilhões de francos suíços em capital antes de que algo aconteça com clientes ou funcionários”, disse um executivo do Credit Suisse, somando o CET1, o AT1 e o capital adicional para absorção de perdas. “O UBS queimou bilhões na crise financeira e foi socorrido. Não é o caso do Credit Suisse agora.”

Ao longo do fim de semana também surgiram comparações com a forte onda de vendas de títulos do Deutsche Bank em 2016, quando as preocupações de que o banco alemão deixaria de honrar alguns pagamentos de cupom em seus bônus de capital provocaram fortes variações no mercado de CDS.

“[Recomendaríamos] cautela em ficar traçando paralelos com os bancos em 2008 ou com o Deutsche Bank em 2016”, disse o analista do Citigroup, Andrew Coombs.

“O mercado parece estar levando em conta no preço [das ações] um aumento de capital, altamente diluidor. Não achamos que isso seja um desfecho assegurado, então argumentaríamos que, nesses níveis, o Credit Suisse é uma [oportunidade de] compra para os mais ousados”.

No que se refere aos níveis de liquidez do banco, o Credit Suisse tem um índice de cobertura de liquidez de 191%, que é bem superior ao da maioria dos concorrentes. O índice reflete a quantidade de ativos financeiros de alta liquidez em mãos do banco que podem ser usados para honrar obrigações de curto prazo.

“Do nosso ponto de vista, observando as finanças da empresa no fim do segundo trimestre, vemos as posições de capital e liquidez do Credit Suisse como saudáveis”, disse Kian Abouhossein, analista do J.P. Morgan.

Mais para o fim da segunda-feira, os acionistas do banco pareciam ter se acalmado com as mensagens tranquilizadoras enviadas pelos analistas, ainda que também tenham surgido pedidos cada vez mais eloquentes pela antecipação da divulgação do novo plano estratégico. No fechamento do mercado em Zurique ontem, as ações do Credit Suisse voltaram para quase a mesma cotação em que haviam começado o dia, de 4 francos.

Por sua vez, na Austrália, um jornalista da rede de TV “ABC”, que no sábado havia escrito um tuíte de alta repercussão sugerindo que um grande banco de investimento internacional estava “à beira do precipício”, apagou a publicação e o canal informou tê-lo recordado das diretrizes da empresa para as mídias sociais.

Por Owen Walker e Robert Smith, Financial Times, de Londres.
A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


VER MAIS NOTÍCIAS