Previsões para alta da inflação no país ganham força

Consultorias e bancos já começam a rever para cima as projeções para 2022

- Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF
- Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF

Consultorias e bancos começam a rever para cima as projeções para a inflação de alimentos no país em 2022 para contemplar os efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O impacto deve ocorrer, principalmente, no trigo e seus derivados, mas se estende a outros grãos (milho e soja) também por um contágio do aumento de custos de fertilizantes e fretes, e a carnes de frango, suína e mesmo ovos, por causa das rações dos animais.

O movimento intensifica uma perspectiva que vinha pior para os preços de alimentos após a seca no Sul no início do ano. E isso ocorre quando se esperava que esse grupo de despesas desse algum alívio depois de altas expressivas nos últimos três anos: 6,4% em 2019, 14,1% em 2020 e 7,9% em 2021. Em 2019 e 2020, as variações ficaram inclusive acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, o índice oficial de inflação no país).

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Para 2022, a LCA Consultores, por exemplo, subiu de 5,8% para 6,3% a previsão para a evolução de preços de alimentos. Já o Banco Alfa ampliou sua estimativa de 5,5% para 6,3%. O banco Inter, por sua vez, revisou de 7,5% para 8,7%. A Asa Investments está com projeção de 5,4% para o aumento de alimentos e bebidas em 2022, mas com viés de alta, mesma situação da XP Investimentos, com taxa esperada de 5%. Há outros que ainda aguardam o desdobramento do conflito no Leste Europeu para avaliar melhor o impacto e rever as projeções, como são os casos de Claritas Investimentos e Ativa Investimentos.

“A inflação de alimentos é algo que não deu alívio desde o começo da pandemia. Na verdade, a gente já vem com taxas incômodas de alimentação no domicílio por três anos. E agora devemos ter o quarto ano seguido”, afirma o economista da LCA Consultores Fabio Romão.

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Os alimentos respondem por um quinto da inflação (o peso no IPCA de janeiro foi de 20,71%). No caso das famílias mais pobres, esse peso é ainda maior. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – que considera as famílias com renda entre um e cinco salários mínimos -, essa parcela é de 23,57%.

“A alimentação tem sido um fator a puxar a inflação para cima nos últimos anos. Há as questões climáticas, com climas mais extremos, muita chuva, muita seca. E isso pesa especialmente para as famílias de mais baixa renda. Quanto menos renda, menor é o espaço para abrir mão de outras coisas para comer”, afirma o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, lembrando do efeito cumulativo das altas dos últimos anos. Entre 2019 e 2021, o IPCA acumulou alta de 19,9%, enquanto a variação no preço dos alimentos foi bem superior, de 31%.

Antes mesmo do início da guerra na Ucrânia o cenário tinha ficado mais turvo para os alimentos em 2022, segundo economistas. No fim de 2021, as projeções estavam em torno de 3,5%, no caso da LCA Consultores e da Asa Investments, por exemplo. Mas a seca no Sul do país no início do ano apontou para impacto na lavoura de milho e de soja. Com isso, houve uma primeira leva de revisões. Agora, os desdobramentos do conflito levam a novas revisões para o IPCA geral e também para os preços de alimentos.

Mudança de cenário

“As perspectivas para a safra de 2022 eram muito positivas no fim de 2021, outra safra recorde. Só que aí começou o ano, tivemos problemas notáveis na soja e no milho no Sul e começou uma reversão. Com o conflito na Ucrânia, isso se intensifica. O trigo já subiu mais de 20%. Esse cenário levaria a uma inflação de alimentos mais perto de 7% ou 8%”, afirma o economista da Asa Investments Leonardo França Costa, que por enquanto, no entanto, mantém a projeção em 5,4%, porque “ainda há algumas incertezas pelo caminho”. A principal dúvida é o tempo de duração do conflito no Leste Europeu e seu real impacto na produção agrícola dos dois países.

O impacto de mais curto prazo mais claro é no trigo e seus derivados, explica Luis Otávio de Souza Leal. Rússia e Ucrânia respondem, juntas, por cerca de um quarto das exportações mundiais do grão. Itens como farinha de trigo, massas, biscoitos são alguns dos que tendem a sentir a alta do preço da commodity, que já subiu mais de 20% e atingiu o maior preço desde 2008. Mas também pode ocorrer contágio em milho (que a Ucrânia também produz), em soja – como parte dos principais grãos – e também nas carnes, por causa de efeito da alta de custos com ração.

“A médio prazo, temos expectativa de impacto em fertilizantes. Cerca de 22% do que importamos vêm da Rússia. O preço já estava alto e agora disparou. Isso pode ter impacto relevante na próxima safra. Ou o produtor usa menos fertilizante e tem menor produtividade, o que pressiona preços. Ou usa o fertilizante mais caro e aumenta o custo de produção”, nota ele.

Ontem, o JP Morgan e a Porto Seguro Investimentos revisaram suas projeções para o IPCA. No caso do primeiro, a inflação esperada subiu de 5,6% para 6% em 2022 e de 3,25% para 3,5% em 2023. Em relatório, economistas citaram os preços mais altos de combustíveis e de alimentos. Já a Porto Seguro ampliou a estimativa para a inflação este ano de 5,7% para 6%. A escalada dos preços de petróleo e de trigo em razão da guerra foi mencionada como fatores de influência para a revisão, além dos riscos e custos logísticos de transporte desses e de outros itens.

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