Prévia do payroll americano: expectativa de 238 mil vagas abertas nos EUA em março
Mercado aponta para a desaceleração na geração de empregos, que chegou em 311 mil em fevereiro
Nesta sexta-feira (7) será divulgado o “pai dos indicadores”, o payroll americano, como é conhecido o relatório de empregos não-agrícolas dos Estados Unidos (EUA). Isso impacta diretamente a inflação por lá e, dessa forma, a relação entre dólar e real por aqui (a Inteligência Financeira conta mais detalhes abaixo).
Aliás, o payroll americano é o principal termômetro do mercado de trabalho e forte balizador para as próximas decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
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O consenso da Refinitiv, companhia referência em dados do mercado financeiro, projeta 238 mil novas oportunidades de trabalho em março. Isto é, uma desaceleração em relação às 311 mil vagas abertas em fevereiro.
A desaceleração dos empregos parece ruim, mas o mercado irá comemorar, caso as projeções se confirmem.
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Isso porque o menor crescimento do mercado de trabalho nos EUA reduz a pressão inflacionária. E, portanto, pode ajudar o Fed a iniciar um ciclo de afrouxamento monetário. Ou seja: pode ser o começo do corte de juros nos Estados Unidos.
Como chegamos aqui?
Antes, vamos ao contexto. Em fevereiro, o consenso projetava a abertura de 205 mil novas vagas. Entretanto, o resultado foi além das estimativas, com a criação de 311 mil postos de trabalho nos EUA.
Assim como aconteceu em janeiro, quando a realidade bateu o consenso por 504 mil vagas abertas contra as 185 mil esperadas. Ou seja, quase o triplo da expectativa.
Mas desta vez pode ser diferente. Não que o dado não possa surpreender de novo… Mas, se seguir a tendência das outras pesquisas de emprego reveladas nesta semana, a tendência é apontar um desaquecimento no mercado de trabalho.
Dados da semana
Na quarta-feira (5) o relatório de empregos privados elaborado pelo centro de pesquisas ADP Research Institute veio abaixo do esperado. Foram criados 145 mil empregos em março, contra a expectativa de 200 mil e abaixo das 242 mil vagas abertas em fevereiro.
Vale lembrar que o relatório da ADP é conhecido no mercado como “prévia do payroll americano”.
Um dia antes, o Bureau of Labor Statistics (BLS) divulgou o relatório Jolts, sigla em inglês para Job Openings and Labor Turnover Survey, indicador americano semelhante ao Caged brasileiro. Caged é a abreviação para Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
O Jolts tem um mês de defasagem em relação aos outros, porém tem uma base mais ampla.
Além disso, mostrou que abertura de vagas em fevereiro foi de 9,93 milhões, ante os 10,56 milhões de janeiro. Isso marca a segunda queda consecutiva e a primeira vez, desde maio de 2021, que o resultado ficou abaixo de 10 milhões.
A expectativa para fevereiro era da criação de 10,4 milhões de vagas.
Payroll vai perder força?
Diante dos dados da semana, o mercado estava mais seguro que o payroll americano mostraria uma desaceleração. Contudo, o Departamento do Trabalho americano divulgou que o número de pedidos de seguro-desemprego foi de 228 mil, acima da projeção de 200 mil.
O planejador financeiro José Faria Júnior, CFP pela Planejar, não acredita na tese da água no chope. Afinal, ele trabalha com a expectativa que o payroll começará a perder força.
“Nesta semana tivemos seis relatórios sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, todos com números piores que os anteriores: o PMI Industrial, PMI Não-Industrial (Construção, Agro e Serviços), ADP, Jolts e os pedidos de seguro-desemprego”, completou.
Taxa de desemprego
Para o diretor de investimentos da Nomad, Celso Pereira, a taxa de desemprego tem se mantido abaixo dos 4% desde fevereiro do ano passado. Ele afirma, ainda, que a expectativa do mercado é que ela se mantenha nos 3,6% na divulgação desta sexta-feira.
Gonçalves, da Box, comenta que o desemprego deve se manter em 3,6%. Por outro lado, a estimativa é de que os salários cresçam 0,3% na comparação com fevereiro e 4,3% em relação com março de 2022, indicando aumento na remuneração dos trabalhadores.
Por que esses números são importantes?
Para realizar seu trabalho de manter o valor da moeda estável, os banqueiros centrais observam a inflação e o nível de emprego é um dos grandes influenciadores da inflação.
A Levante Investimentos explica: “inflação é o indicador mais relevante. Em seguida é o emprego”.
A instituição elenca dois motivos para isso. Primeiramente, “o emprego é um indicador atrasado, ou seja, é o que demora mais tempo para reagir às decisões de política monetária”.
Em seguida, “é um indicador determinante, pois pessoas empregadas – e com salários crescendo – consomem mais e mantêm os preços elevados, enquanto pessoas sem emprego, ou com salários menores, consomem menos e desaceleram a inflação”.
O que isso significa?
Se os indicadores de emprego mostrarem que há menos americanos trabalhando e menos dinheiro circulando entre os assalariados, será uma comprovação de que o aperto na política monetária – que se iniciou em 2022 – está fazendo efeito.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, diz que a desaceleração na criação de vagas de trabalho pode ser interpretada de maneira positiva. Pois poderia levar o Fed a considerar a redução da taxa de juros em suas próximas reuniões diante do arrefecimento da economia.
Segundo Faria Júnior, a expectativa é que com o dado mais fraco do emprego americano, o Fed possa parar de subir os juros e isso tende a deixar o dólar menos caro no Brasil.