Quanto o preço do arroz pode subir com impacto das enchentes no Rio Grande do Sul?

Para o Bradesco, desastre climático no estado terá consequências econômicas com implicações nacionais

Entre as preocupações dos efeitos econômicos das chuvas no Rio Grande do Sul está o preço do arroz, dada a representatividade do estado na produção nacional
Entre as preocupações dos efeitos econômicos das chuvas no Rio Grande do Sul está o preço do arroz, dada a representatividade do estado na produção nacional

O Bradesco (BBDC3, BBDC4) divulgou o relatório ‘Desastre Climático no Rio Grande do Sul: Uma avaliação preliminar dos impactos econômicos’. Além da dimensão humana, o banco destaca que a enchente de 2024 terá consequências econômicas com implicações nacionais. Entre as preocupações está a disparada dos alimentos, principalmente o preço do arroz, com forte impacto no bolso do brasileiro.

Nesse sentido, o Bradesco avalia os efeitos na inflação por duas óticas. Primeiro, o desabastecimento de produtos na região tende a gerar um choque de preços local. Afinal, o banco afirma não saber ainda como a coleta pode afetar os indicadores do IBGE.

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“A capital gaúcha tem peso de 8,6% no IPCA nacional. Resgatando o que ocorreu com os preços por conta do desabastecimento causado pela greve dos caminhoneiros de 2018, houve alta significativa, mas temporária, dos preços de alimentos e combustíveis. Os preços mais afetados foram os da gasolina, hortifruti e leite”.

Assim, o relatório indica que se Porto Alegre experimentar um evento parecido com a greve, “o impacto na inflação na cidade poderia chegar a 0,7 p.p.”. E, além disso, “o impacto sobre o IPCA nacional seria da ordem de 0,06 p.p., que provavelmente será revertido nos meses seguintes.”

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Contudo, comenta o banco, a natureza do choque causado pela enchente é diferente, ao afetar oferta e demanda, o que pode limitar a pressão sobre os preços.

“Os impactos indiretos sobre os preços de alimentos no restante do país podem ser mais relevantes. A principal preocupação neste momento está no preço do arroz, dada a representatividade do estado na produção nacional e a importância do produto na cesta brasileira.”

Outro desastre climático

Então, o Bradesco aponta que uma referência para pensar nos possíveis impactos em preços do cereal é o ciclone subtropical que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2008.

“Naquele momento, os preços subiram cerca de 40% no atacado e 20% no IPCA em um mês. A valorização do cereal naquele ano também foi influenciada pelos preços internacionais, em um contexto de menor produção e embargos à exportação impostos por diversos países.”

Simultaneamente, observa a instituição, há também alguma preocupação com os preços da soja.

“Já houve queda da produção do grão neste ano no Brasil e possíveis perdas no Rio Grande do Sul resultariam em uma menor oferta no mercado doméstico, levando a alguma pressão sobre os prêmios no segundo semestre.”

“Assim, em um primeiro momento, parece razoável considerar um impacto potencial de 0,2 p.p. na inflação deste ano, estimativa que considera uma alta de 5% da cotação da soja e um choque próximo de 20% do arroz no atacado.”

Perdas no agronegócio brasileiro

Similarmente, reiterando a tragédia humanitária, o Bradesco indica no mesmo relatório que a agropecuária será uma das atividades mais impactadas pelo evento.

Afinal, nas contas do banco, o setor responde por 15% do PIB estadual, o que representa 12,6% do PIB agropecuário brasileiro. Sendo arroz, soja, trigo e carnes os principais produtos produzidos.

“O estado está em período de colheita de verão, sendo que cerca de 70% da soja e 80% do arroz já foram colhidos. Supondo que metade do que ainda esteja no campo tenha sido perdido, estamos falando de 800 mil toneladas de arroz e 3,2 milhões de toneladas de soja a menos na produção brasileira.”

“Ou seja, 7,5% da produção de arroz no Brasil e 2,2% de soja podem estar comprometidos. Essas parecem ser estimativas conservadoras pois não há como saber o comprometimento da parcela já colhida em fase de beneficiamento.”

Enquanto no caso do trigo, diz o Bradesco, o plantio apenas começou. Assim, na visão do banco, ainda há tempo para que o plantio ocorra dentro da janela ideal (que vai até julho).

“Entretanto, os danos em solo e as perdas do produtor de soja podem reduzir a intenção de plantio e a produtividade do grão neste ano. A Conab já estimava redução de área de trigo, mas as previsões podem ser revistas para baixo nos próximos levantamentos de safra”.

Escoamento da safra

Além disso, o Rio Grande do Sul respondeu por 12% dos abates de suínos e 9,5% dos abates de frangos em 2023. É o que também indica o relatório do Bradesco.

“(Logo) Com parte da produção impactada pelas enchentes, teremos outro impacto negativo, especialmente para suínos, que têm ciclo mais longo. Considerando tais impactos, o PIB Agropecuário no Brasil pode recuar 3,5% (nossa estimativa anterior era de queda de 3,0%).”

“Por fim, as perdas no agronegócio podem ser ampliadas pela logística, que afeta tanto o escoamento da safra bem como impede a chegada de insumos. Esse parece ser um problema importante para os setores de laticínios e carnes, por exemplo.”

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