Pine diz não descartar Selic acima de 14%
Não é apenas o cenário fiscal incerto e o consequente aumento dos prêmios de riscos sobre os preços dos ativos, mas é também o crescimento muito forte da economia brasileira que pede que o Banco Central siga na trajetória de aumento de juros, afirmou Cristiano Oliveira, economista-chefe do Pine. Em encontro com jornalistas hoje em […]
Não é apenas o cenário fiscal incerto e o consequente aumento dos prêmios de riscos sobre os preços dos ativos, mas é também o crescimento muito forte da economia brasileira que pede que o Banco Central siga na trajetória de aumento de juros, afirmou Cristiano Oliveira, economista-chefe do Pine.
Em encontro com jornalistas hoje em São Paulo, Oliveira disse ainda trabalhar com uma projeção de Selic de 13% ao fim do ciclo atual de alta, considerando os parâmetros do BC de um hiato aberto de 0,5% (ou seja, sem ociosidade na economia) e uma taxa de juros neutra (aquela que não acelera nem contrai a economia) de 4,75%.
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Oliveira estima, no entanto, que o hiato está mais próximo de 1,4% e a taxa neutra do Brasil é de, pelo menos, 5,25%. “Com os parâmetros do BC, eu subiria até o redor de 13%. Mas parece que o BC vai ter de fazer um ajuste desses parâmetros”, afirmou.
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E, se o “nowcasting” do Pine (indicador em tempo real para a atividade) estiver correto, os juros terão de subir “bem mais”, disse Oliveira. “Não descartamos passar de 14%”, afirmou.
Olhando para os dados de atividade econômica e de desemprego hoje, Oliveira disse achar que o BC deveria acelerar o ritmo de alta da Selic, atualmente em 0,50 ponto percentual. “É provável que ele acelere, mas não sei se será em dezembro”, afirmou.
Ele pondera não saber se isso será realmente necessário, porque alguma desaceleração da economia pode vir de um impulso fiscal negativo, o que depende também do anúncio a ser feito pelo governo para o corte de gastos.
Sua expectativa é que o aumento da demanda agregada caia pela metade entre 2024 e 2025, de 4,4% para 2,2%. “Eu trabalho com a ideia de que esse efeito seja causado tanto pelo impulso fiscal negativo quanto pelo impulso monetário negativo. Se não houver impulso fiscal negativo no ano que vem, o juro vai ter de subir bem mais, provavelmente mais de 14%”, afirmou.
É por isso que o alinhamento entre política monetária e política fiscal “nunca foi tão importante”, segundo Oliveira.
Para ele, o peso do quadro fiscal recai mais sobre o “orçamento” do ciclo de alta de juros do que sobre o ritmo em si. Ao mesmo tempo, ele disse que “se a gente quer chegar mais longe de fato, é melhor chegar mais longe mais rápido”.
Na sua avaliação, Gabriel Galípolo, atual diretor e futuro presidente do BC, a partir do ano que vem, tem o perfil e as habilidades necessárias para conduzir o órgão e a política monetária em um ambiente que exige “bastante discussão entre Poderes”, disse Oliveira.
Banco Central
É interesse do próprio governo deixar o Banco Central atuar livremente, porque a inflação tem acelerado sobretudo para os mais pobres, o que pode afetar a popularidade do presidente Lula, e ainda tem um “caminhão” de alta de preços por vir, por exemplo, nos preços dos alimentos e principalmente das carnes, alerta Oliveira.
O executivo observou que os preços dos alimentos no atacado não param de subir, especialmente os das carnes, o que já tem contaminado o IPCA e deve continuar.
A “sazonalidade”, disse, é “perfeita” para repasse e absorção desses preços, já que houve aumento do salário mínimo e a taxa de desemprego está nas mínimas históricas.
Nos últimos 50 dias, o preço da carne subiu, no atacado, cerca de 25%, segundo Oliveira. No IPCA-15 de novembro, divulgado ontem, a alta das carnes foi de 7,5%. “Ainda tem um caminhão de inflação para aparecer de bovinos no IPCA cheio de novembro, no de dezembro e entrando no ano que vem”, afirmou.
Além de questões agrícolas, a depreciação do câmbio também ajuda a explicar a alta de preços no atacado, segundo Oliveira.
Ele espera uma alta de quase 16% dos preços agrícolas no atacado este ano. Em 2025, porém, eles devem desacelerar bem, para 3,1%, estima.
Ao longo do ano que vem, o choque nos preços da carne deve arrefecer, disse. Além disso, o regime climático deve ser neutro ou com um La Niña fraco, o que, historicamente, foram os melhores momentos para a safra brasileira, segundo Oliveira.
Ele também estima que, em 2025, a demanda deve crescer menos do que a oferta, portanto, uma desaceleração da inflação geral “é questão de lógica”, afirmou Oliveira. O economista projeta alta do IPCA de 4,8% em 2024 e de 4% em 2025.
Além disso, Oliveira nota que cada vez mais são os juros domésticos que estão pesando sobre a piora das condições financeiras, indicando que uma política monetária mais apertada terá capacidade de atuação para desacelerar o crédito, por exemplo, e, consequentemente, a atividade e a inflação.
Por outro lado, Oliveira calcula que o hiato ainda estará aberto em 1,4% no fim de 2024 (ou seja, sem ociosidade na economia). “A política monetária e a política fiscal precisam atuar juntas para esse hiato ficar menos pronunciado”, afirmou.
Por isso, do lado da política monetária, é necessário que o Banco Central continue subindo juros, disse.
Até estrategicamente em termos políticos, o governo deveria deixar o BC atuar “da forma mais livre possível”, porque a inflação está disparando entre os mais pobres, observou Oliveira. “Se eu fosse o governo, estaria preocupado, isso pode bater na popularidade do presidente”, afirmou.
Parte desse aumento da inflação aos mais pobres se deve aos preços dos alimentos, que a política monetária do BC não controla diretamente, mas cabe à autoridade observar os efeitos secundários desses choques. “Precisa cortar essa inércia”, acrescentou Oliveira.
*Com informações do Valor Econômico