Petróleo no maior nível desde 2014: vem aí (mais) aumento da gasolina?
Valorização da commodity tem sido puxada por tensões geopolíticas e desequilíbrio entre oferta e demanda
O preço do barril de petróleo tipo Brent, referência para a Petrobras e os negócios no Brasil, se aproxima dos US$ 90 nesta quarta-feira (19) – maior valor desde o final de 2014. A alta é influenciada por temores sobre a oferta da commodity devido a tensões geopolíticas, como o risco de guerra entre Rússia e Ucrânia, e restrições no mercado físico.
“A perspectiva ainda é de alta”, diz João Leal, economista da gestora de investimentos Rio Bravo. “Essa elevação é justificada por desequilíbrios entre a oferta e a demanda. Se por um lado a economia mundial continua retomando seu crescimento, a oferta de petróleo tem decepcionado.”
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No mercado brasileiro, a cotação do petróleo em um patamar ainda mais elevado pode influenciar novos reajustes dos combustíveis e encarecer indiretamente outros preços. “Para o cenário econômico, os maiores riscos se concentram na inflação, que deve continuar pressionada, e no cenário fiscal, principalmente por possíveis medidas de suavização do preço da gasolina”, diz o economista.
Na semana passada, a Petrobras já havia subido o preço da gasolina (4,85%) e do diesel (8,08%) vendido nas refinarias. Desde janeiro de 2021, a valorização dos dois combustíveis chegou a quase 80%. A companhia, no entanto, tem evitado repassar imediatamente as volatilidades externas para os preços internos. Isso indica que a empresa deve esperar uma estabilização do cenário antes de transferir o impacto.
Em um acompanhamento feito pela Ativa Investimentos, com o barril de petróleo sendo negociado próximo aos US$ 88, a defasagem no preço nas refinarias da gasolina doméstica em relação a internacional estava em 15%. Ou seja, a Petrobras poderia cobrar 48 centavos a mais no combustível vendido para as distribuidoras.
“Entendemos que quando a alta dos combustíveis é efetivada, essa tem o impacto inflacionário direto, pois o preço é repassado em alguns dias para a bomba nos postos e por sua vez aos consumidores”, diz o economista Guilherme Souza, da Ativa. “Além disso, ainda sofremos o impacto indireto, pois grande parte da distribuição e entrega dos produtos em geral é feito via transportes terrestres, o que por sua vez encarece o frete e o preço acaba sendo repassado nas prateleiras.”
O especialista da Ativa Investimentos menciona ainda uma eventual “inflação de expectativa”. “O potencial de reajuste não deveria se traduzir diretamente em inflação. Se o preço continua constante nas refinarias, em tese, deveria continuar nos postos”, afirma. “Contudo, os agentes podem antecipar as mudanças de mercados. Ou seja, se souber que o preço do barril de petróleo está em queda, o dono de posto pode se adiantar a uma possível decisão da Petrobras e reduzir o seu preço para ganhar espaço e clientes. Ou aumentá-lo se a dinâmica for oposta”, diz.