Petrobras e Vale em queda: o que explica a descida das gigantes na bolsa e o que está por vir?
As duas empresas mais negociadas da bolsa ajudam a derrubar o Ibovespa ao menor nível desde novembro; saiba os motivos e o que esperar agora
As ações atreladas ao minério de ferro e ao petróleo caem em bloco nesta terça-feira, mantendo a tendência dos últimos dias. Dessa maneira, as duas empresas mais negociadas na bolsa, a Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR4; PETR3), que atuam no mercado de commodities, contribuem para derrubar o Ibovespa. O principal índice de ações da bolsa opera no menor nível desde novembro.
Em 30 dias, a Petrobras desce 4,36% (PETR4) e 4,74% (PETR3). A Vale cai 4,30%.
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Na terça, as ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3; PETR4) tinham queda superior a 1%. As cotações são do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico.
Nesse sentido, o minério de ferro fechou a terça-feira com queda de mais de 6%, a US$ 110 por tonelada. Enquanto isso, o petróleo Brent desceu perto de 1%, a US$ 77 o barril. Os dados são do Trading Economics.
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PMI da China ajuda a derrubar minério e VALE3
Com relação ao minério de ferro, o destaque é “a atividade industrial da China, que, como um todo, está recuando”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor industrial da China, caiu para 49,5 em maio, de 50,4 em abril, segundo dados oficiais do governo chinês. Dados abaixo de 50 indicam contração da atividade econômica.
Com isso, há uma demanda estruturalmente menor vindo da China por minério de ferro.
“A China está engajada em criar uma economia menos dependente de investimento e mais de consumo interno, como a americana”, diz o Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
China: proposta anti-especulação afeta VALE3 e pares
E o resultado disso tem sido uma redução no ímpeto investidor do governo chinês, principalmente no que diz respeito a setores consolidados, como o de construção civil. O segmento é ávido comprador de aço, vergalhões e outros insumos que tem o minério e ferro como insumo.
Com isso, a queda de preço do minério de ferro afeta os papéis de mineradoras e siderúrgicas no Brasil.
Nesse sentido, o atual cenário já vinha sendo planejado desde 2020, quando, em discurso, Xi Jinping, presidente chinês, disse que ativos imobiliários não deveriam ser utilizados como forma de especulação. Mas, sim, para moradia.
“Ele implementou as linhas vermelhas (que frearam a atuação de grandes incorporadoras). Uma delas é (a exigência de) que o caixa das incorporadoras não poderia ser menor que a dívida de curto prazo. Por isso, houve a hecatombe de algumas incorporadoras como a Evergrande”, diz Roberto Dumas, economista e professor do Insper.
Petróleo e gás e o impacto sobre a PETR4
Já com relação ao petróleo, a queda no preço da commodity está relacionada principalmente “à reunião da OPEP, que decidiu antecipar em alguns meses o aumento da produção da commodity, afetando o preço negativamente”, destaca Jonas Scorza, sócio da Fundamenta Investimentos.
A proposta da China para os próximos dois anos também é de redução do consumo de petróleo e gás.
Nesse sentido, a ideia do governo chinês é acelerar a eliminação de veículos motorizados antigos, apostando nos veículos movido a energia renovável.
Já com relação ao gás, cujos resultados também afetam a saúde da Petrobras (PETR4), a queda no preço da commodity está relacionada a estoques mais altos em função de um inverno ameno no hemisfério norte.
“Além disso, há uma normalização de oferta-demanda na Europa advinda de um desligamento da cadeia de oferta com a Rússia”, destaca Scorza. Isso tende a favorecer a PETR4 nesse segmento.
Nova fase da economia chinesa também impacta commodities
A queda do petróleo e do minério de ferro se acentuou na última semana, depois de a China anunciar um plano de ação para reduzir as emissões de carbono em 2024 e 2025.
O objetivo é reduzir as emissões de dióxido de carbono em cerca de 130 milhões de toneladas até ao final de 2025.
O plano inclui redução do consumo de combustíveis fósseis, no aumento da utilização de energia limpa e na modernização do aço e de outras indústrias. Isso afeta diretamente também o setor siderúrgico brasileiro, que também tem a China como grande destino para seus aços.
A proposta prevê a proibição da adição de nova capacidade de produção de aço.
Para Scorza, isso significa “deixar de produzir aço só por produzir”. Isso basicamente significa que pode haver uma mudança para “um aço mais limpo”.
“As empresas brasileiras que focam na exportação de aço terão que dançar conforme a música. De qualquer forma, já temos uma matriz energética bastante limpa no Brasil. Sendo assim, poderemos nos beneficiar por ter um aço de acordo com especificações internacionais”, destaca.
Além disso, posição de neutralidade em conflitos econômicos, como o envolvendo EUA e China, favorece o Brasil nesse novo cenário.
Outras commodities metálicas
A queda no preço do minério de ferro não deve ser repetida por outras commodities metálicas. Nesse sentido, o cobre deve seguir valorizando, tendo em vista que seguirá sendo utilizado nas novas propostas de eletrificação mais sustentáveis.
“Vamos ter um descolamento do preço de outras commodities metálicas com relação ao minério de ferro”, avalia Dumas, do Insper.
Como fica a demanda daqui em diante?
No curto e médio prazo, a transição energética na China e em outros países ainda dependerá de combustíveis fósseis. Com isso, a tendência é de uma demanda um pouco mais fraca, porém, estável.
“O fato de a China buscar ser ‘carbon neutral‘ em 2060 não significa que ela vá consumir e emitir menos carbono, mas que ela vai conseguir compensar essas emissões. Na verdade, a China prevê um pico de emissões pra 2030”, destaca Scorza, da Fundamentos.
“A China é e continuará sendo, por décadas, uma das maiores economias mundiais e um dos maiores mercados consumidores de insumos variados”, avalia o analista. Isso pode beneficiar principalmente a Vale (VALE3) e seus pares, mas também a Petrobras (PETR4) e outras petroleiras.
Além disso, Europa e EUA parecem não estar no mesmo ritmo de eletrificação e redução do consumo de combustíveis fósseis.
“Vemos expectativa de ‘peak oil‘ sendo empurrada mais pra frente, e objetivos de eletrificação (que inclui carros elétricos) sendo revisados pra baixo”, acrescenta Scorza.
Outra demonstração de que o pico de demanda por petróleo ainda não chegou é o interesse de gigantes globais do petróleo por novas áreas de exploração – que inclui a Margem Equatorial do Brasil, Guiana e Venezuela.
“Ainda há interesses e incentivos econômicos em extrair petróleo de águas profundas”, conclui.