Para economistas, ata ‘mais suave’ mostra BC dividido, porém inclinado a cortar Selic

Para especialistas, BC também sinalizou ritmo mais moderado de corte da Selic

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

Os economistas com atuação no mercado financeiro avaliaram a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (27), com um tom mais “suave” do que o do texto do comunicado que acompanhou a decisão, na semana passada.

E, apesar de evidenciarem a divisão do colegiado – com parte dos diretores mais animados e outro grupo mais receoso com a economia -, a mensagem é de que, se as coisas continuarem mais ou menos como estão, o BC deve votar por um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa de juros Selic já na próxima reunião, entre os dias 1ª e 2 de agosto.

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‘Ata melhor que comunicado’

Para José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica, a ata veio em um tom “mais adequado”. “A ata ficou algo melhor que o comunicado”, diz. Ele tinha tecido crítica ao fato do BC não ter, na semana passada, sinalizado o início de uma redução de juros num horizonte não muito distante.

“(A ata) explicitou uma maioria que julgava que as condições estavam dadas para mencionar o início do processo de redução em agosto. O (relatório) Focus de segunda deve ter ajudado também”, afirma.

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Afrouxamento à vista

Para o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, a ata é direta. “A estratégia está aberta a um afrouxamento gradual da política monetária daqui para frente”, avalia. “Vemos a ata consistente com o nosso cenário base que considera um corte de 0,25 p.p. na taxa Selic em agosto, seguido de cortes de 0,50 p.p.”, diz. Megale projeta a taxa básica de juros em 12,00% no final de 2023.

João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, avalia que a ata traz um tom diferente do adotado pelo comunicado da semana passada. “A Ata do Copom mostrou um tom mais suave, dovish, do que o do Comunicado pós-reunião”, diz ele, que destaca a dúvida do BC sobre o início do corte. “Existe uma divisão dentro do Copom”, afirma.

Ata mostra Copom dividido

No penúltimo parágrafo da ata, os diretores do BC destacam que “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”. O trecho, no entanto, vem carregado de ressalvas. A primeira delas é que essa opinião, apesar de “predominante”, divide uma parte do colegiado.

Segundo a ata, um outro grupo mostra-se mais cético em relação ao atual processo de queda de preços.

O texto aponta que, para esses diretores, a dinâmica desinflacionária “ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário até então implementado”.

“Entretanto”, continua o texto, “os membros do Comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica”.

‘Era dos conflitos’

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, lembra que conflitos do tipo podem acontecer no colegiado. “Não é frequente (essa divisão, mas ocorre por vezes”, afirma. Ele lembra um outro momento, recente, em que o comitê se viu em situação parecida. “Em agosto do ano passado, por exemplo, quando o BC encerrou o ciclo de alta, dois diretores votaram por um aumento adicional.”

Schwartsman diz desconfiar que o BC entrou em um período de maior divergência dentro do comitê. Como exemplo, ele cita o próprio descasamento entre o tom da ata de hoje e do comunicado da semana passada. “O (Copom) praticamente se comprometeu com o início de redução da Selic em agosto. O esquisito, até onde vejo, é tomar o cuidado de não se comprometer com o corte da Selic no comunicado e, menos de uma semana depois, desfazer a mensagem”, pontua.

Queda com parcimônia

Os economistas também alertam para um outro ponto da ata, em que aumenta a estimativa de taxa de juros real neutra, de 4% para 4,5%. Para Cauê Pinheiro, estrategista da corretora do banco Safra, o trecho pode sinalizar uma taxa terminal da Selic mais alta do que a esperada até então.

“O BC informa que se as condições continuarem melhorando, existe espaço para um ponto de inflexão na política monetária, mas seria um ponto de inflexão com parcimônia”, diz.

Caio Megale, da XP, concorda. “Ao reforçar o risco de uma flexibilização prematura e ao elevar a taxa neutra de juros, o Copom sinaliza que, sob as condições atuais, não vislumbra um ciclo intenso de corte de juros”, diz.

Alexandre Schwartsman alerta que o BC coloca essa mudança diretamente em suas expectativas. “(A alta da taxa neutra) deve explicar, ao menos em parte, porque a projeção para o ano que vem caiu para 3,4% e não para 3,2%”, diz.

Sobre a ata do Copom

Pela primeira vez desde o início do atual ciclo de alta da taxa Selic, os diretores do Banco Central (BC) admitem que podem cortar os juros em uma próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em ata da última reunião do colegiado realizado na semana passada, os técnico citam que consideram as chances de voltar a estimular a economia, com redução da Selic, desde que mantida a atual tendência de queda na taxa de inflação.

No penúltimo parágrafo da ata, os diretores do BC destacam que “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”. O trecho, no entanto, vem carregado de ressalvas. A primeira delas é que essa opinião, apesar de “predominante”, divide uma parte do colegiado.

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