Medidas na direção correta, mas insuficientes: a reação do mercado ao pacote fiscal do governo

Incertezas permanecem e a tendência é de mais pressão no mercado financeiro, disseram economistas

Fernando Haddad, ministro da Fazenda do governo Lula Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fernando Haddad, ministro da Fazenda do governo Lula Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O pacote fiscal do governo federal vai na direção certa, mas não elimina dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública.

Esta foi a conclusão majoritária de economistas de instituições financeiras sobre as medidas anunciadas na quarta-feira (27) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com vistas a trazer uma economia de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

“As medidas vão na direção correta, mas são incompletas”, disse à Inteligência Financeira o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani.

Haddad anunciou maiores limites para o abono salarial, teto para correção do salário mínimo e os chamados super-salários.

Últimas em Economia

Por outro lado, o ministro confirmou a isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil por mês.

Segundo ele, isso será compensado na arrecadação com aumento da alíquota de IR para salários superiores a R$ 50 mil.

Para a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória, o pacote é insuficiente para fazer frente ao crescimento de gastos de mais de R$ 400 bilhões entre 2024 e 2025.

Segundo ela, isso mostra a dificuldade do governo em fazer uma revisão maior dos gastos, incluindo programas sociais que tiveram crescimento acelerado nos últimos anos.

“As medidas anunciadas são insuficientes para zerar o déficit, que estimamos em R$110 bilhões em 2025, ou 0,9% do PIB”, afirmou ela.

Frustação com pacote fiscal pode pressionar mais o câmbio

Dessa forma, o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, considerou a tendência de mais pressão sobre o mercado financeiro.

Nesse sentido, o mercado já repercutiu informações sobre o pacote que vazaram para a imprensa antes do anúncio oficial.

Assim, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuou 1,73%, a 127.669 pontos, fechando a sessão na mínima do dia na última quarta.

Enquanto isso, o dólar norte-americano disparou 1,81%, cotado a R$ 5,9124, máxima nominal histórica. Por fim, os juros futuros dispararam.

A XP Investimentos acrescentou ser necessário que o governo detalhe alguns pontos do pacote para ajudar o público a entender como conseguirá a economia prometida.

“Somar R$ 70 bilhões em impacto conforme anunciado parece, até agora, desafiador”, afirmou a XP.

Tom político do pacote pode criar outro desafio, no Congresso

Para Padovani, do BV, a forma como o anúncio das medidas aconteceu pode criar desafios extras para sua efetivação.

Isso porque, para entrar em vigor, o pacote de medidas precisa de aval do Congresso Nacional, dominado pela oposição ao governo.

Segundo o economista, ao dar ênfase a medidas positivas, como a isenção do IR para famílias de renda mais baixa, o governo indicou a preocupação com as eleições presidenciais de 2026.

No anúncio, Haddad fez críticas ao governo anterior e frisou que a atual gestão quer um “Brasil justo, com menos imposto e mais dinheiro no bolso”.

“Isso pode criar dificuldades políticas para aprovação no Congresso”, concluiu Padovani.

Para Vitória, do Inter, o anúncio da isenção de IR traz mais incerteza para a trajetória fiscal em 2026.

“Indica que o governo deve ter nova expansão fiscal no próximo ano eleitoral”, disse a economista.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

Mais em Brasil


Últimas notícias

VER MAIS NOTÍCIAS