O que esperar da ‘Earnings Season’, a temporada de balanços das empresas americanas?

É hora de analisarmos a safra de balanços das empresas que negociam nas bolsas americanas

Pregão da Nyse: Foto: Valor Econômico

Chegamos a mais uma divulgação dos resultados (‘Earnings Season’ ou temporada de balanços) das empresas que negociam nas bolsas americanas, em especial do quarto trimestre de 2022. Esse é um momento importante para avaliarmos como as empresas têm se saído num cenário de desaceleração econômica, inflação alta, taxas de juros subindo, queda na confiança do consumidor, entre outros aspectos negativos que afetaram o mercado norte-americano em 2022.

A safra de balanços nos EUA nos ajuda a interpretar o impacto micro dos eventos macro que vemos todos os dias. Observar o que se passa com as empresas no dia a dia nos ajuda a ter uma noção do que se passa na economia real e pode ser um driver importante para o mercado nessas próximas semanas. Como sempre em termos de mercado, tudo é uma questão de expectativas e realidade.

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Neste artigo vou abordar algumas percepções e perspectivas através de dados e informações públicas que não refletem a minha opinião. Apresento neste post as expectativas do mercado em geral.

Vale lembrar que os números podem muitas vezes variar, portanto, não tome como regra o que vamos escrever aqui. Mais do que os números, a ideia com esse post é passar uma noção, uma direção do que se espera dos resultados desse trimestre.

O que é a ‘Earnings Season’?

Antes de começarmos, vale explicar o que é a ‘Earnings Season’ e alguns termos que acompanham a temporada de balanços de empresas nos EUA.

O que são os Earning Reports?

São as publicações de resultados trimestrais e/ou anuais das empresas. Quando elas anunciam ao mercado seus lucros, prejuízos, custos, despesas, fluxo de caixa, entre outros. É uma declaração pública oficial da empresa acerca do momento vivido pela companhia e eventuais perspectivas sobre o futuro.

10-Q, 10-K?

As empresas públicas são obrigadas a apresentar o relatório chamado 10-Q (trimestral) e o 10-K (anual) junto à Securities and Exchange Commission (SEC). Os principais componentes do 10-Q são a demonstração de resultados, o balanço patrimonial, a demonstração dos fluxos de caixa e os comentários da administração. Não supervalorize os números apresentados

É importante ressaltar que os balanços e números apresentados se referem ao período que vai de 30 de junho de 2022 até 30 de setembro de 2022. Ou seja, é um olhar sobre o passado da empresa, vendas e lucros que já aconteceram e que não há garantia de repetição.

Por que a ‘Earnings Season’ é importante para o mercado?

Porque fornece uma fotografia de como as empresas vêm se comportando em meio ao cenário atual e o que pensa/planeja para seu futuro.

Junto com os earnings (ganhos) passados, muitas empresas apresentam ‘guidances’ (previsões) sobre seus resultados futuros e/ou realizam reuniões públicas, quando a diretoria da empresa fala ao público. O earnings season é bastante aguardado pelos analistas de mercado que visam fazer diversas projeções sobre os números da empresa e, com a divulgação pública desses números, eles podem comparar se suas estimativas estão alinhadas ou não.

Essa comparação (expectativa vs. realidade) tende a criar impactos nos preços das ações. Em mercado de capitais trabalhamos com frequência em função de expectativas e, por isso, números acima ou abaixo das expectativas de mercado tendem a gerar fortes oscilações nos preços das ações.

Como posso acompanhar essa divulgação?

As empresas normalmente possuem uma área de Relações com Investidores (RI, em portugês, ou IR, na sigla em inglês para ‘Investor Relations’), onde postam seus relatórios nas datas previamente informadas.

No mesmo local no site das empresas você encontra mais informações sobre as datas de eventuais reuniões públicas com a companhia.

O que esperar desta ‘Earnings Season’ que já começou?

De forma geral, segundo a Factset, espera-se uma queda de 4,1% (-4,1%) de forma agregada nos lucros das empresas do S&P 500 para o 4T22. Se -4,1% for o declínio real do trimestre, isso marcará a primeira vez em que o índice registrou uma queda de lucros ano a ano desde o terceiro trimestre de 2020 (3T20).

Para receitas, existe a expectativa de crescimento de 3,8% na comparação anual. Caso venha a se confirmar esse número, este seria a menor taxa de crescimento de receitas desde o quarto trimestre de 2020 (4T20). Já a os analistas da Bloomberg Intelligence esperam quedas de 3,1% dos lucros no quarto trimestre, em comparação com o ano anterior.

Independentemente do número, entendo que o mais relevante aqui é a compreensão de que as expectativas são de queda de lucros em uma forma agregada para esse quarto trimestre de 2022 (4T22).

Fonte: Factset

Previsões

Como fechamento do ano, essa é uma ‘Earnings Season’ que guarda especial atenção e importância, pois se refere ao ano todo de 2022. E, portanto, servirá de guia de expectativas acerca do que os executivos esperam para 2023.

Até aqui vimos mais empresas reportando expectativas mais negativas do que positivas para o 4T22. No geral, 100 empresas do S&P 500 emitiram guidances (previsões) trimestrais de lucro por ação (EPS – earnings per share), sendo que dessas, 65 emitiram guidance negativo e 35 emitiram guidance positivo.

Expectativa vs. realidade

E parte dessa visão negativa acerca de futuro veio sendo colocada nas expectativas de analistas e do mercado para com os resultados. Houve uma forte revisão de projeções de lucros para baixo, incorporando mais pessimismo nas expectativas.

Seguindo os ciclos econômicos, a lucratividade das empresas sobe e desce ao longo dos anos, mas em especial vemos um declínio de lucro por ação (EPS) mais forte durante recessões. Há um forte sentimento entre os analistas de mercado de que a economia dos EUA caminha para uma recessão.

Mas isso não quer dizer que este é o cenário que vamos presenciar. Trata-se de expectativas, as quais podem sempre ser falhas. Edward Yardeni, um respeitado analista de mercado e fundador da casa de análise Yardeni Research, vê o cenário de forma diferente. Para ele, uma recessão pode ser evitada e com isso ele projeta crescimento de lucros para 2023 e 2024, de 4,7% e 11,1%, respectivamente.

Como ler isso?

As empresas possivelmente preparam o mercado para eventuais dificuldades futuras decorrentes do cenário. É como se preparar para o pior, o qual nem sempre acontece, mas é melhor estar preparado. Como sempre, dado que temos expectativas já negativas e deterioradas, os resultados, ainda que mostrem quedas de lucros e/ou receitas, podem trazer surpresas que movimentariam o mercado.

Setorialmente

Bancos

Falando setorialmente, os bancos deram início à divulgação de resultados nos EUA na sexta-feira (13). De acordo com o FactSet, as estimativas de lucro para o setor financeiro apontam para uma possivel queda de 12,2%.

Por trás dessa queda está a redução das operações de mercado de capitais e o possível aumento nas provisões para eventuais aumentos de inadimplência. Por outro lado, como positivo, tivemos spreads de juros mais altos e a possível continuidade de expansão de crédito na economia. Vamos ver o que eles nos apresentam.

Energia

Para as empresas de energia, segundo levantamento da Facset, existe a expectativa de que as empresas do setor relatem o maior crescimento de lucros ano a ano entre os setores do S&P 500, em 60%, com receitas 34%possivelmente mais elevadas.

Indústria

O setor industrial é outro que pode contribuir positivamente para o crescimento de lucros nesse 4T22, com a expectativa de +38% na comparação anual. Esses são setores geralmente ciclicamente sensíveis e que mais sofreram durante a recessão do Covid-19, portanto, ainda “surfam” a recuperação da economia.

Materiais

Por outro lado, com expectativas negativas, temos o setor de materiais, onde estimaespera-se uma queda de lucros de 22%, segundo dados da Refinitiv, com os preços de insumos industriais tendo cedido mais recentemente. O segmento de serviços de comunicação pode apresentar uma potencial quedas de lucros, ainda segundo expectativa da Refinitiv, por conta da redução nos gastos com publicidade e perdas contínuas de streaming em muitas empresas de mídia.

Tecnologia

Em geral, para o amplo espectro de empresas de tecnologia, o qual representa quase um terço do S&P 500, existe a expectativa de possivel quedas de lucros à medida que os custos salariais aumentaram, a demanda empresarial desacelerou e ainda temos disrupções e dificuldades nas cadeias de semicondutores.

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