‘Não tem como o Brasil ficar imune à turbulência’, diz ex-vice-presidente do Banco Mundial

Para Otaviano Canuto, crise da economia russa após sanções vai deixar bancos centrais ainda mais na corda bamba

Otaviano Canuto: ex-diretor-executivo do Banco Mundial e do FMI
Otaviano Canuto: ex-diretor-executivo do Banco Mundial e do FMI

Para Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e membro sênior do Policy Center for the New South, a turbulência econômica na Rússia coloca os bancos centrais em situação mais delicada, ou numa corda bamba que balança ainda mais.

Quais serão os efeitos da turbulência para o Brasil?

Vai ser através da transmissão doméstica do aumento dos preços de commodities energéticas e pelos fertilizantes. Há muitos fertilizantes, mas os russos não são plenamente substituíveis por produtos de outras origens. Isso pode, eventualmente, afetar a chegada e atrapalhar a safra. Não tem como o Brasil ficar imune à turbulência.

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Empresas anunciaram saída da Rússia ou suspensão de exportações. O que isso indica?

Estão dando respostas aos acionistas, mas é uma tendência muito forte. A Alemanha já começou a rever a estratégia de relação via gás com a Rússia e sua própria política nuclear. Os incentivos para se livrar das cadeias de valor que incluem Rússia serão fortes.

Qual será a reação dos bancos centrais em relação ao conflito e às sanções?

A guerra vem em um momento no qual a inflação já estava delicada por causa de preços de energia. No caso da Europa, provavelmente, apostava-se em elevação de juros suave no fim do ano. Mas no caso dos EUA, as apostas são sobre quantos aumentos de juros e com que velocidade o Fed irá fazer. Por causa das sanções, vamos ter uma carência de dólares no mercado, e o Fed vai empurrar para frente o início da redução do estoque de seus ativos na carteira.

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Os BCs já estavam em uma corda bamba entre, de um lado, a desaceleração do crescimento e, do outro, a inflação. Essa corda está balançando ainda mais. Sabemos a direção que vão, mas a velocidade e a intensidade é algo que só olhando o desdobramento dos choques é que vão poder dizer.

Qual será o impacto para os mercados e a economia mundial das sanções coordenadas do Ocidente contra a Rússia?

As sanções foram desenhadas de modo a deixar de fora alguns bancos para não prejudicar as transações atinentes a provisão de gás e trigo. A Rússia não tem muitas alternativas. O impacto imediato é muito forte. Não é por acaso que vimos uma corrida aos bancos e aos caixas eletrônicos pelos russos. Vai haver aumento considerável da taxa de inflação russa, além de choques decorrentes da paralisação de operações do sistema financeiro russo na relação com o resto do mundo.

Com agência O Globo.

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