Moeda comum pode favorecer intercâmbio e fomentar a industrialização regional?
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a moeda comum permitirá a ampliação de transações comerciais entre Brasil e Argentina
Ao criar uma moeda comum com a Argentina, o Brasil quer estabelecer um mecanismo para favorecer o intercâmbio regional entre os países, independentemente da situação cambial da Argentina, explicou há pouco o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A medida também busca preservar a capacidade da indústria brasileira no mercado externo.
Haddad observou que o Brasil perde mercado para a China, por exemplo, por conta das condições de crédito.
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A moeda comum é uma das iniciativas que poderá permitir a ampliação de transações comerciais entre os dois países, e isso passa por aumentar oferta de prazo e de financiamento.
“Hoje, o fechamento da conta externa Brasil-Argentina é de 30 dias. Quem está dando crédito de longo prazo para a Argentina está levando o mercado de produtos industriais brasileiros”, disse Haddad. “A partir de fevereiro, vamos resolver um sistema de garantia que permita ao Brasil estender esse prazo”.
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Concorrência ou disputa comercial?
O cenário provoca uma concorrência que não é propriamente uma disputa comercial, segundo o ministro, e deixa de ser saudável à medida em que o Brasil possui produtos melhores e mais baratos, mas deixa de vender porque não tem uma forma adequada de garantia de financiamento.
Haddad lembrou ainda que as exportações de manufaturados do Brasil são em grande parte para a América do Sul e perder este mercado significa desindustrialização da região.
“Temos um problema de escassez de divisas na Argentina. Mas Argentina tem renda per capita maior, cresceu mais que a nossa economia”, exemplificou.
Nova engenharia
Haddad disse que a moeda comum ainda não tem nome nem prazo para entrar em vigor porque eles precisam estudar maneira de viabilizar o projeto, que agora será discutido por um grupo de trabalho. Ressaltou, contudo, que não se trata de uma moeda única.
“Estamos defendendo nova engenharia que não chegue a pagamento em moedas locais, que deram errado anteriormente. Mas que não chegue ao estágio de unificação monetária, como é o caso do euro”, disse.
Ao lado de Haddad, o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, disse que enviará uma equipe ao Brasil na primeira semana de fevereiro para discutir o tema.
“É nosso desejo trabalhar em um regime que aumente o volume de exportações e importações entre Argentina e Brasil”, pontuou o argentino.
Ideia de criar uma moeda comum não é nova
Em análise publicada no Valor Econômico, Francisco Góes, chefe da sucursal do Rio de Janeiro, lembrou que a ideia de criar uma moeda comum entre Brasil e Argentina não é nova. Em 1997, surgiu a proposta de estabelecer uma moeda comum entre os países do Mercosul.
O principal entusiasta era o ex-presidente argentino Carlos Menem (1930-2021), mas o projeto contou também com o apoio público do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A ideia, como se sabe, nunca prosperou.
Ausência de estudos técnicos
Passados 24 anos, volta-se a falar em moeda comum, o que é visto com ceticismo por economistas que estudam o Mercosul. A avaliação é que o anúncio junta o interesse político argentino, em especial do ministro da Economia, Sergio Massa, com a disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de voltar a ser um líder de destaque na América do Sul.
“A questão é que o anúncio parece ter vindo antes de que se aprofundem estudos técnicos sobre o tema no Brasil e na Argentina em uma inversão de lógica. O ideal, dizem economistas, seria primeiro fazer os estudos para que depois os presidentes fizessem o anúncio”, escreveu no Valor Francisco Góes.