Mercado vê nuances em tom de integrantes do Copom
Debates em torno do rumo da Selic, que recentemente colocaram traders e economistas em posições divergentes, também parecem refletidos, ainda que de forma contida, no colegiado
Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) mantiveram, desde a reunião de março, um tom bastante cauteloso em relação aos próximos passos da Selic no ambiente doméstico. No entanto, os debates em torno do rumo dos juros, que colocaram traders e economistas em posições divergentes nesse meio tempo, também parecem refletidos, ainda que de forma bastante contida, no colegiado.
Alvo principal das críticas do governo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi o primeiro a classificar, no início de abril, as diretrizes da proposta de arcabouço fiscal como “superpositivas”, já que removeriam o chamado “risco de cauda” para a trajetória da dívida. E, segundo relatos de participantes de reuniões privadas entre a autoridade monetária e investidores em Washington, Campos teria se mostrado mais otimista após os números do IPCA de março, que mostraram alguma descompressão dos núcleos. “Parece que o Roberto está querendo começar a ficar otimista”, relatou um deles ao Valor na ocasião.
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Foi exatamente nessa série de encontros nos EUA que as diferenças no tom das comunicações entre os membros do Copom ficaram mais evidentes. Se Campos soou um pouco mais aliviado com a evolução do cenário para o horizonte da política monetária, outros dirigentes se mostraram profundamente preocupados com a desancoragem nas expectativas; com o nível da inflação de serviços; e com a resiliência da atividade.
Declarações da diretora de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado, soaram bem mais conservadoras aos ouvidos dos presentes em Washington, já que ela se mostrou bastante incomodada com o nível ainda elevado da inflação no Brasil e no mundo. Na avaliação de alguns dos presentes, as falas indicariam uma porta fechada para cortes de juros ao menos nas próximas duas reuniões. A diretora, inclusive, reforçou a visão de preocupação com o processo de desinflação em entrevista dada ao Valor no início do mês passado.
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Ainda na opinião de alguns participantes do mercado, a postura do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, em suas falas em Washington e em reuniões com membros do mercado tem sido tão ou mais dura que a de sua colega. Nos EUA, ele voltou a exibir preocupação com o processo recente de desancoragem das expectativas e ressaltou que o custo da desinflação é maior com as expectativas distantes do centro da meta.
Na semana passada, as declarações de Campos no Senado foram percebidas pelos agentes como mais alinhadas ao pensamento geral dos outros membros do Copom. Segundo agentes, era natural que, cumprindo uma agenda institucional, Campos buscasse transmitir com mais precisão a visão dos demais membros do Copom.
Nesse contexto, ganham ainda mais relevância as indicações que serão feitas pelo governo às diretorias ainda vagas do BC. Ainda que exista uma sutil diferença na comunicação dos dirigentes da autoridade monetária, até o momento, a somatória das indicações dadas pelos membros não parece apontar para uma alteração relevante na comunicação da decisão de quarta-feira, que possa abrir espaço para o início do ciclo de cortes na Selic em junho.
Por Gabriel Roca