Mercado está atento a quatro temas-chaves na ata do Fed

Investidores querem pistas quanto aos próximos aumentos dos juros nos EUA

A ata da reunião de maio do Federal Reserve será divulgada na tarde desta quarta-feira e os investidores estarão em busca de detalhes sobre quatro temas-chaves: condições financeiras, inflação, desaceleração econômica e títulos hipotecários (MBS, na sigla em inglês). Uma discussão mais profunda sobre essas questões tende a dar pistas quanto aos próximos aumentos na taxa de juros dos Estados Unidos.

Vale lembrar que, no encontro de maio, o Fed acelerou o ritmo de alta da taxa de juros com uma elevação de meio ponto percentual (pp), depois de ter iniciado o ciclo de aperto em março com uma dose menor, de 0,25 pp. Foi o primeiro aumento desta magnitude desde 2000. No encontro deste mês, a autoridade monetária também indicou uma nova alta de 0,5 pp na próxima reunião, em junho, enquanto Wall Street espera outro aumento de 0,5 pp em julho.

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Mas o que acontecerá após a reunião de maio dependerá da trajetória da inflação, do crescimento econômico e das condições financeiras.

Economistas do Deutsche Bank observam que na entrevista coletiva pós-reunião do mês o presidente do Fed, Jerome Powell, mencionou “condições financeiras” 16 vezes, uma indicação de que o tema era o foco da reunião.

“Powell e seus colegas demonstraram um foco crescente em condições financeiras mais apertadas como um substituto para fornecer orientações mais fortes sobre se a taxa de juros precisará atingir um nível restritivo ao longo do tempo”, dizem os economistas do banco alemão.

Segundo o Goldman Sachs, o Índice de Condições Financeiras dos EUA, calculado pelo banco de investimentos, encolheu para 99,29 pontos na última semana. Cerca de um mês atrás, a métrica estava em 98,64, enquanto no início do ano, girava em torno de 97, sendo que quanto maior o número, mais apertadas são as condições financeiras.

Enquanto as condições financeiras estão apertando, a inflação ainda está no nível mais alto em quatro décadas. “Quando vimos essas condições no passado, a velocidade desses movimentos levou o Fed a recuar os planos bem definidos para apertar a política”, disse Katie Nixon, diretora de investimentos da Northern Trust Wealth Management.

Ao mesmo tempo, os temores de que os aumentos sucessivos na taxa de juros dos EUA possam levar a economia americana a uma desaceleração econômica, ou até a uma breve recessão, antes que a inflação recue, esquenta a discussão de que o Fed pode interromper o ciclo de aperto com uma taxa de juros mais baixas.

Porém, Nixon, da Northern Trust, avalia que é improvável que o Fed inverta o rumo agora, dado que a autoridade monetária está “atrás da curva” de inflação. “O Fed apontou a inflação como o inimigo público número um e corre o risco de uma crise de credibilidade se a política monetária for alterada neste momento”, emendou.

Recentemente, Powell argumentou que o Fed poderia arquitetar um “pouso suave” da economia – o que significa que o crescimento continuaria à medida que apertasse a política monetária para combater a inflação – e Wall Street concorda. Porém, alguns participantes do mercado não descartam uma dinâmica estagflacionária de desaceleração do crescimento e preços ainda altos.

Por fim, o Fed disse que começará a encolher seu balanço patrimonial de US$ 9 trilhões a partir de 1º de junho, quando não mais reinvestirá recursos de até US$ 3 bilhões em títulos do Tesouro em vencimento e até US$ 17,5 bilhões em títulos lastreados em hipotecas por mês. Esses limites devem subir para US$ 60 bilhões e US$ 35 bilhões, respectivamente, em setembro.

Porém, alguns membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) sugerem que será preciso tornar essa ação mais agressiva, especificamente no que se refere ao mercado imobiliário. Economistas do Citi observam que discursos recentes de integrantes do Fed sugerem que o assunto pode não ter sido “discutido de forma robusta” na reunião de maio, então qualquer indicação em contrário representaria uma surpresa agressiva.

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