Excepcionalismo americano

Excepcionalismo americano acaba sendo também o excepcionalismo do dólar

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Foto: Leah Millis/File Photo/Reuters
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Foto: Leah Millis/File Photo/Reuters

O principal tema em debate no entorno da reunião de primavera do FMI, em abril, foi o “excepcionalismo americano”, ou seja, a capacidade da economia dos EUA seguir crescendo a um ritmo substancialmente maior do que a maioria das economias do Ocidente.

Em 2023, os EUA apresentaram crescimento de 2,5%, ante uma média de 2,2% na América Latina (região com renda per capita média muito inferior) e de apenas 0,5% na Eurozone.

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Para 2024, os economistas do Itaú projetam uma nova expansão de 2,5% nos EUA, 0,5% novamente na zona do Euro, e 2,0% na América Latina.

Vantagem americana deve continuar

Isso implica que a considerável vantagem dos EUA em termos de performance econômica deve continuar por pelo menos mais um ano.

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A história ensina que tal excepcionalismo não dura para sempre, mas pode continuar por vários anos. 

Naturalmente, performance macroeconômica superior tende a influenciar a política econômica e o comportamento dos preços de ativos.

Vamos focar aqui apenas nas economias desenvolvidas.

No caso dos EUA, a resiliência da atividade econômica, em especial os componentes privados da demanda doméstica, tem reduzido qualquer pressão para que o Fed adote uma postura mais acomodativa.

Por outro lado, a persistência de taxas de inflação acima da meta de 2%, com um mercado de trabalho que ainda está longe de apresentar esmorecimento, recomendam cautela.

Em resumo, para o Fed, no momento parece que o risco de um corte prematuro é maior do que o risco de postergação do movimento – isto porque corrigir um corte prematuro requereria uma virada abrupta da política monetária, similar ao stop-and-go dos 1970.

Panorama sobre a Europa

A situação na Europa é mais complexa.

A região sofre problemas estruturais, como os desafios que a transição energética e a evolução quantitativa e qualitativa da indústria automotiva chinesa apresentam para parte do parque industrial europeu.

Bolsas europeias; bolsas da Europa

Aspectos institucionais, como legislações trabalhistas mais rígidas, também parecem influenciar as taxas de crescimento, também afetadas pela persistente incerteza emanada do conflito na Ucrânia.

Somado a isso, enquanto os estímulos fiscais da pandemia nos EUA focaram nas transferências às famílias, um forte suporte ao balanço dos consumidores que impulsiona a demanda doméstica até hoje, na Europa a ajuda fiscal ficou mais restrita a programas de proteção ao emprego.

Com isso, as taxas de crescimento da região devem seguir fracas. A inflação, por sua vez, parece, pelo menos em termos de medidas subjacentes, convergir para a meta de 2,0% ainda em 2024.

Nesse contexto, a equipe do Itaú espera que a política monetária tenha comportamento divergente entre EUA e zona do Euro.

Para o Fed, a combinação de atividade robusta e inflação persistentemente acima da meta deve levar ao adiamento do início da flexibilização monetária até dezembro, podendo ficar apenas para 2025 – a equipe do Itaú projeta quatro cortes de 25bps, um no fim deste ano e três no ano que vem.

Já na Europa, a queda da inflação, com atividade tépida, deve permitir que o ECB comece um processo de flexibilização em junho, que deve se estender até o ano que vem, com sete ajustes no total, sendo três ainda em 2024.

Com esses ajustes, as taxas de política monetária devem terminar 2024 em 5,0%-5,25% nos EUA e 3,25% na zona do euro, e 4,25%-4,0% na economia americana e 2,25% na europeia, em 2025.

Essa divergência deve manter o euro sob pressão ao longo do ano, o que tende a enfraquecer também outras moedas europeias.

Com os juros americanos mais altos, as moedas seguirão respondendo aos diferenciais de juros relativos aos padrões pré-pandemia, o que pode gerar um potencial de apreciação adicional do dólar, frente às demais moedas, ao redor de 1% até o final do ano.

O excepcionalismo americano acaba sendo também o excepcionalismo do dólar.

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