Lockdown já prejudica o transporte de carga na China
O impacto mundial de uma paralisação decorrente da covid na China pode ser semelhante ao que afetou as cadeias de fornecimento quando um navio de carga de contêineres bloqueou o Canal de Suez no ano passado
Alguns portos chineses já veem um aumento no congestionamento de navios e cargas, o que pode levar a mais aumentos das tarifas de transporte de contêineres. A preocupação sobre a volta dos problemas nas cadeias de fornecimento surge no momento em que empresas em todo o mundo começavam a ver uma melhora nos atrasos provocados pela pandemia.
Embora os grandes portos de Shenzhen e Xangai tenham informado que operavam normalmente, prestadores de serviços de logística reportaram atrasos no transporte por caminhões, por causa de restrições nas estradas e de testes, e porque algumas empresas em Shenzhen pararam de aceitar entregas em seus armazéns.
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Dados da Refinitiv mostram aumento no congestionamento de contêineres nos principais centros de transporte marítimo chineses. O número de navios na fila, esperando para atracar nos ancoradouros externos do estuário do Yangtze, do delta do rio das Pérolas e dos portos de Zhoushan e Qingdao, é mais do que o dobro da média de março de 2021.
Ontem, a China registrou um salto acentuado nas novas infecções por covid-19, com mais que o dobro de novos casos em relação ao dia anterior, atingindo o nível mais alto em dois anos e levantando preocupações sobre os custos econômicos crescentes das medidas de contenção da doença. Um total de 3.507 casos confirmados transmitidos internamente foram relatados na segunda-feira em mais de uma dúzia de províncias e municípios, acima dos 1.337 do dia anterior, segundo informou a Comissão Nacional de Saúde.
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Um modelo de previsão da covid-19 a Universidade de Lanzhou, no noroeste da China, prevê que a atual onda de infecções só será controlada no início de abril, com um total acumulado de cerca de 35 mil casos. Autoridades chinesas estão tentando conter o pior surto de covid-19 do país em dois anos, colocando milhões de pessoas em lockdown, restringindo o transporte e fechando fábricas.
Algumas das medidas mais duras foram aplicadas nos principais centros industriais de Shenzhen, Dongguan e Changchun. Em Xangai, centro financeiro chinês e que abriga o porto de contêineres mais movimentado do mundo, incentivou as empresas a permitir que os funcionários trabalhem em casa, mas por hora descarta a necessidade imediata de um lockdown.
Não há nenhum sinal de grande interrupção, mas os operadores portuários anunciaram restrições ao contato pessoal com embarcadores e marinheiros.
“O lockdown de Shenzhen cria riscos significativos de ruptura nas cadeias de suprimentos”, disse Rajiv Biswas, economista-chefe da Ásia da IHS Markit. O risco de interrupção global “aumentará se as autoridades em Xangai também decidirem impor um lockdown”.
O impacto mundial de uma paralisação decorrente da covid na China pode ser semelhante ao que afetou as cadeias de fornecimento quando um navio de carga de contêineres bloqueou o Canal de Suez no ano passado, segundo Stephanie Loomis, vice-presidente de compras internacionais da agência expedidora CargoTrans. “Se eles não deixam que nenhum desses caras vá para as fábricas e produza bens… então tudo vai parar.”
“Os surtos da doença impõem um risco de perda para a economia da China, pelo menos nos próximos meses”, disse Zhiwei Zhang, economista da Pinpoint Asset Management. “Uma desaceleração na China exacerbaria o risco de estagflação e os problemas nas cadeias mundiais de fornecimento.”
O banco ANZ estima que um lockdown de uma semana nas regiões afetadas pode reduzir em até 0,8 ponto percentual o crescimento do PIB chinês. Se mais cidades adotarem lockdowns para conter a covid-19, metade do PIB e da população da China podem ser afetados desta vez, diz o banco.
Para o Morgan Stanley, a economia da China provavelmente não crescerá no primeiro trimestre em relação ao anterior e cortou sua previsão para o 2022 para 5,1%, com Pequim “dobrando” sua aposta na política de covid-zero.