Justiça acata pedido de recuperação judicial da Americanas, que tem R$ 43 bilhões em dívidas

Valor da dívida passou a ser conhecido, da ordem de R$ 43 bilhões. De forma aproximada, a empresa tem 16,3 mil credores

Americanas enfrenta sua pior crise e entrou em recuperação judicial no Brasil e nos EUA. Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
Americanas enfrenta sua pior crise e entrou em recuperação judicial no Brasil e nos EUA. Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

A Justiça do Rio de Janeiro acatou o pedido de recuperação judicial da Americanas, protocolado na tarde desta quinta-feira (19). No documento, o valor da dívida passou a ser conhecido, da ordem de R$ 43 bilhões. Assim, são aproximadamente 16,3 mil credores. Em poucas horas, a Justiça aceitou o pedido.

A companhia viu sua situação financeira se deteriorar rapidamente desde quarta-feira passada, quando revelou “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões.

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Sérgio Rial, que havia assumido o posto de CEO apenas nove dias antes, renunciou ao cargo depois de detectar os problemas.

Quais os pedidos da ação de recuperação judicial da Americanas?

  • Entre os principais pedidos na ação está a confirmação da tutela antecipada cautelar anterior. Essa tutela suspendeu por 30 dias as cobranças por credores, o que inclui bancos.
  • Pede ainda a imediata suspensão de todas as ações e execuções existentes, como o requerimento de bloqueio de R$ 1,2 bilhão concedido ao BTG, pelo período total de 180 dias.
  • Requer ainda a intimação do Ministério Público e comunicação do deferimento do pedido às Fazendas Públicas. Pede também que o juízo determine a dispensa de apresentação de certidões negativas de débitos para que continue a exercer suas atividades.
  • A Americanas ainda reitera o pedido de tratamento confidencial em relação aos bens pessoais de seus administradores e controladores, bem como aos dados de seus funcionários.
  • Por meio do pedido de recuperação judicial, o Grupo Americanas também protesta, desde logo, pela apresentação dos documentos necessários, no prazo mínimo de 30 dias, em complementação aos já apresentados. Declara-se, também, ciente da necessidade de apresentação de contas mensais.

Credores fecharam as portas

No pedido de recuperação judicial apresentado hoje, a Americanas pede a confirmação da tutela cautelar de caráter antecedente, que obteve na Justiça na sexta-feira, suspendendo as cobranças de credores por 30 dias. Diz ter sido uma atitude acertada para “evitar danos irreversíveis ao seu caixa”.

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Mas critica os credores que tentaram antecipar vencimentos logo depois da divulgação do fato relevante sobre as inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões e aqueles que foram ao Judiciário.

Quais bancos foram à Justiça contra a Americanas?

Pelo menos cinco bancos foram à Justiça contra a tutela cautelar da varejista:

  1. Bradesco
  2. Goldman Sachs
  3. Bank of America
  4. BV
  5. BTG

Este último foi o único que obteve liminar favorável até agora.

Nos autos do processo, a Americanas diz que alguns poucos credores, “sem pensar nos impactos para a coletividade, tomaram medidas precipitadas que culminaram no perigoso esvaziamento do caixa da companhia e, consequentemente, inviabilizaram a sua operação a curto prazo e uma solução negocial coletiva sem o remédio recuperacional”.

Argumenta que menos de 6 horas depois da divulgação ao mercado do fato relevante, na quarta-feira da semana passada, sobre as inconsistências nas demonstrações financeiras da companhia — estimadas na época em R$ 20 bilhões —, alguns credores, sem qualquer embasamento contratual ou legal, já haviam declarado o vencimento antecipado das obrigações da companhia.

Diz que isso teria fechado as portas para qualquer tipo de negociação amigável viável.

Por isso, a tutela cautelar teria sido pleiteada. Para impedir a efetivação das consequências de eventuais vencimentos antecipados, diretos ou cruzados, e da mora, decorrentes do fato relevante publicado naquela data.

“Porém, esses credores parecem não ter o mesmo empenho para devolver os expressivos valores dos quais se apropriaram como têm para litigar e fazer ilações especulativas sobre a gestão da companhia”, aponta no pedido de recuperação judicial.

Americanas rebate BTG

Sobre a atitude do BTG, a Americanas foi mais incisiva.

“Apesar do recentíssimo entendimento do STJ quanto à impossibilidade de impetração de mandado de segurança contra decisão passível de recurso ou correição, o eminente desembargador Flávio Marcelo de Azevedo Horta Fernandes, certamente induzido a erro pelo ávido banco, deferiu a temerária medida liminar pleiteada, para determinar que o valor compensado [R$ 1,2 bilhão] fique indisponível à empresa em dificuldades e permaneça retido em conta do próprio banco”.

Segundo a varejista diz na ação judicial, esses fatos, isoladamente, já tornariam extremamente difícil a continuidade das operações do Grupo Americanas por 30 dias, concedidos por meio da tutela cautelar. Mas a situação piorou em razão dos consecutivos rebaixamentos de rating pelas agências de classificação de risco.

Isso teria feito com que os bancos se negassem a adiantar recebíveis de cartão de crédito, operação rotineira e historicamente feita pelo Grupo Americanas para capital de giro, “drenando mais de R$ 3 bilhões do caixa da companhia”.

De acordo com o pedido de recuperação judicial, todos esses elementos fizeram com que o estado de crise instaurado pela publicação do fato relevante, que levou o valor das ações da Americanas a uma queda inédita de quase 80% em menos de uma semana, se agravasse ainda mais.

Restruturação da dívida é preferível à falência?

A Americanas diz estar certa de que conseguirá mostrar a seus credores os “enormes benefícios” decorrentes da reestruturação de sua dívida, em comparação com o “cenário indesejável” de uma falência de todo o grupo.

A quebra da empresa implicaria na perda de todos os investimentos, com impacto social e prejuízo ao país, diz o pedido de recuperação judicial apresentado nesta quinta-feira.

“Os próprios credores perderiam muito no caso de falência do Grupo Americanas, dada a clara possibilidade de recuperação do seu crédito a taxas mais elevadas num cenário de reestruturação das dívidas e de recuperação”, afirma.

O documento segue na defesa do instrumento, que argumenta ser capaz de levar à reestruturação de suas dívidas e à adequação de sua estrutura de capital, com respeito aos direitos e prioridades das diversas categorias de credores.

Além disso, diversos setores econômicos dependem da operação da Americanas, como empresários de pequeno e médio porte, que contam com a capilaridade da companhia para distribuição e revenda de seus produtos online. Em muitos casos possuem a varejista como principal ou único cliente.

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