Juros futuros voltam a subir com exterior pressionado e espera por pacote fiscal
Os juros futuros voltaram a subir no pregão desta segunda-feira, em meio ao cenário externo global desafiador para países emergentes e à espera dos agentes locais pela divulgação das medidas do governo para a redução de despesas e contenção de gastos. Neste contexto, a precificação de mercado já embute uma Selic terminal próxima de 14%, […]
Os juros futuros voltaram a subir no pregão desta segunda-feira, em meio ao cenário externo global desafiador para países emergentes e à espera dos agentes locais pela divulgação das medidas do governo para a redução de despesas e contenção de gastos. Neste contexto, a precificação de mercado já embute uma Selic terminal próxima de 14%, no momento em que as projeções do Focus também seguem exibindo deterioração adicional.
No fim do dia, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu de 13,095% do ajuste anterior para 13,115%; a do DI para janeiro de 2027 avançou de 13,14% para 13,20%; a do DI para janeiro de 2029 permaneceu em 12,975%; e a do DI para janeiro de 2031 também ficou em 12,82%, mesmo nível do ajuste anterior. Na precificação embutida na curva de juros, os agentes já esperam uma Selic acima de 13,75% no próximo ano.
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O dia foi novamente marcado pelo cenário externo desafiador para ativos de países emergentes. Após a ampla vitória de Donald Trump e do partido republicano nas eleições presidenciais americanas, investidores globais têm se afastado de ativos de risco de fora dos Estados Unidos. A frustração com o anúncio de estímulos fiscais na China corrobora o sentimento dos agentes.
Perto do horário de fechamento, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de seis divisas principais, subia 0,50%, aos 105,52 pontos, nos maiores níveis desde julho. Ao mesmo tempo, a divisa americana saltava 1,31% contra o peso mexicano; 1,76% frente ao rand sul-africano; e 2,42% ante o peso chileno. A moeda também fechou em alta de 0,56% frente o real, negociada a R$ 5,7695 no segmento à vista.
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Ao mesmo tempo, no ambiente local, a indefinição sobre as medidas de contenção de gastos, que já se arrasta há semanas, também segue ampliando a desconfiança dos agentes financeiros. Conforme apuração do Valor, a impressão de algumas fontes é que o corte deverá ser mais modesto do que se esperava e ser insuficiente para equilibrar as contas públicas. Em entrevista dada ontem, Lula voltou a criticar o mercado ao afirmar que não “se deve acreditar no mercado financeiro porque o setor fala bobagem todo dia”.
Em meio ao cenário externo e local mais pressionados, as projeções macroeconômicas dos agentes voltaram a exibir deterioração no Focus divulgado hoje. A mediana das estimativas para o IPCA subiu de 4,59% para 4,62% em 2024; de 4,03% para 4,10% em 2025; e de 3,61% para 3,65% em 2026. As projeções de Selic para 2024 e 2025 foram mantidas em 11,75% e 11,50%, respectivamente, enquanto as estimativas para o dólar subiram de R$ 5,50 para R$ 5,55 neste ano e de R$ 5,43 para R$ 5,48 ao fim do ano que vem.
Apesar do reconhecimento de que o ambiente local e externo parecem bastante desafiador neste momento, o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha, aponta para a possibilidade de que, dado o nível de preços e posicionamento do mercado, uma janela um pouco mais positiva para os ativos locais se abra no curto prazo.
“Já existe uma expectativa muito baixa para o tal pacote de redução de despesas. Parece uma história clássica de que pode pesar mais o gesto, o aceno, do que o próprio impacto econômico. A única prerrogativa para satisfazer o mercado é que o arcabouço fique vigente e ganhe algum reforço para se sustentar em 2025 e 2026. Acho que precisa ser acima de R$ 30 bilhões, seja com economia ou liberando mais discricionárias. Com esse valor e vendo o governo topar, é claro que ele não vai solucionar, mas discutir esses problemas complexos, pode ser uma combinação positiva”, afirma.
O estrategista da BGC faz uma comparação com a divulgação do arcabouço fiscal no início do governo. “Já era sabido, desde o primeiro momento, que o arcabouço tinha falhas que precisavam ser corrigidas e que ele teria muita dificuldade de parar de pé. Mas isso não impediu que os preços tivessem uma melhora importante nos dias e meses que sucederam o anúncio. A assimetria parece estar no evento de o pacote descomprimir riscos no curto prazo mais do que o cenário contrário. Isso dado o sentimento, os preços e o posicionamento do mercado”, diz.
No contexto descrito pelo estrategista, ele chama a atenção para o fato de que, desde sexta-feira, o real ter exibido desempenho bem superior aos pares.
Também vale apontar que não houve negócios no mercado de Treasuries na sessão desta segunda-feira devido ao feriado do Dia dos Veteranos nos Estados Unidos. Com isso, a liquidez no mercado de juros futuros hoje foi bastante reduzida. Enquanto a média diária negociada no contrato do DI para janeiro de 2026 foi de R$ 58 bilhões ao longo do ano, o volume negociado hoje foi de apenas R$ 35 bilhões.
*Com informações do Valor Econômico