Itaú processa um dos seus principais executivos até julho por ‘grave conflito de interesses’ e vantagens indevidas
Banco afirma que executivo teria recebido R$ 4,86 milhões indevidamente. Em resposta, Alexsandro Broedel comunicou que tomará as medidas judiciais cabíveis e que serviços mencionados eram do conhecimento do banco
O Itaú Unibanco ajuizou na sexta-feira (6) uma ação na Justiça de São Paulo contra, entre outros, Alexsandro Broedel. Trata-se de um dos seus principais executivos até cinco meses atrás.
No sábado (7), a CVM comunicou que deve abrir processo administrativo sobre caso; o Banco Central não se pronunciou.
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Broedel ocupou o posto de executivo-chefe de finanças do Itaú (CFO, na sigla em inglês) entre 2021 e julho. Depois, pediu demissão para ocupar um cargo executivo na sede do Santander, na Espanha.
A Inteligência Financeira teve acesso a ata da assembleia extraordinária de 5 de dezembro. Nela, o banco informa que apurações internas, finalizadas em 24 de novembro deste ano, identificaram que Broedel violou as políticas internas do banco.
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Segundo o documento, Broedel “atuou em grave conflito de interesses e em benefício próprio.”
Como Broedel teria obtido vantagens indevidas?
De acordo com a ata, o executivo usou, de forma irregular, alçadas e prerrogativas do seu cargo, para aprovar pagamentos ao referido fornecedor no valor histórico total de R$ 10.455.000,00 (R$ 3.380.000,00 em 2021; R$ 1.850.000,00 em 2022; R$ 3.350.000,00 em 2023; e R$ 1.875.000,00 em 2024).
Na ação movida pelo banco contra Broedel e outros, o Itaú conta que apurou que o ex-executivo tinha uma empresa em sociedade com o consultor Eliseu Martins. Este, é ex-diretor da CVM e do Banco Central. Ele e ex-CFO do Itaú montaram a Broedel Consultores (da qual o ex-CFO tem participação majoritária). Martins também está sendo processado.
Broedel contratava a Care, outra consultoria de Martins, para prestar serviços de consultoria para o banco. Os pareceres eram emitidos pela Care. Pelo esquema montado, Martins repassava 40% do valor para outra empresa, Evam (também de Martins), que pagava Broedel.
Ao identificar as transações, o Itaú realizou apurações, presididas pelo seu Comitê de Auditoria, que afirmou que não houve impacto sobre as suas demonstrações financeiras.
Da mesma forma, segundo informou o banco, “as condutas permaneceram restritas à Companhia, sem afetar outras empresas que integram o seu Conglomerado”
Além disso, o banco certificou “a ausência de irregularidades com relação à contratação de outros fornecedores de pareceres da Companhia e de seu Conglomerado.”
Os resultados foram comunicados tempestivamente ao Banco Central do Brasil, e aos auditores independentes, da PwC.
Os auditores da PwC, informou o banco, ao serem comunicados do assunto e dos valores envolvidos e com base nos fatos até então apurados, não indicaram a necessidade de reemissão dos respectivos relatórios de auditoria, sem ressalvas, para os exercícios de 2021, 2022 e 2023.
O Itaú informou ainda que anulou a aprovação das contas de Broedel para os exercícios de 2021, 2022 e 2023.
O que disse o Itaú em comunicado
A Inteligência Financeira obteve o comunicado oficial do banco, que é reproduzido abaixo.
“O Itaú Unibanco esclarece que, após meses de apurações internas, identificou que seu ex-administrador, Alexsandro Broedel Lopes, violou gravemente o Código de Ética da instituição, ao exercer atividade externa incompatível com seu cargo, e manter sociedade com fornecedor técnico-contábil do banco, não declaradas aos controles internos, que se renovam anualmente.
Broedel Lopes ainda atuou em grave conflito de interesses, transgredindo as regras internas e as leis aplicáveis, usando irregularmente as alçadas do seu cargo, e nos últimos cinco anos, aprovou contratações de pareceres e pagamentos no valor total de R$ 13.255.000,00 – sendo 10.455.000,00 entre 2022 e 2024-, para empresa ligada ao fornecedor do qual era sócio.
Foram apurados, ainda, fortes indícios de que o fornecedor redirecionava parte do recebível diretamente para contas de Alexsandro Broedel Lopes, em 23 transferências, realizadas no período de 2019 a 2024, no valor total de R$ 4.860.000,00, primordialmente para contas em outras instituições, usando empresa intermediária.
Situação isolada
O banco reforça que se trata de uma situação isolada e que não há prejuízo relevante à instituição, que está limitado aos valores acima. Inclusive, não foi identificada nenhuma preocupação com relação aos pareceres recebidos.
Ressalta-se, ainda, que seus balanços foram reavaliados pelo Comitê de Auditoria da Companhia e por consultoria externa e independente, a PWC, que certificaram a lisura e a ausência de impacto nas demonstrações financeiras e nos resultados do Itaú Unibanco.
O Itaú reafirma que seu robusto ecossistema de políticas e processos de ética e conformidade permanecem íntegros e não houve falha interna neste sentido. Com a devida tempestividade e transparência, o Itaú reportou o caso a todos os órgãos reguladores competentes. Por fim, declara que está ajuizando as medidas adequadas contra Broedel Lopes e o fornecedor para buscar o ressarcimento dos valores.
Ética é um valor inegociável do Itaú Unibanco, por isso, não toleramos e não toleraremos qualquer desvio de conduta, de qualquer hierarquia, e buscaremos reparação, mesmo em casos como este, em que o envolvido não faz mais parte dos nossos quadros.”
Outro lado
A assessoria de Alexsandro Broedel enviou aos veículos de imprensa nota informando que “Alexsandro Broedel sempre se conduziu de forma ética e transparente em todas as atividades ao longo dos seus 12 anos no banco.”
A nota diz que o parecerista mencionado pelo Itaú já prestava serviços ao banco muito antes de Broedel ser convidado para a diretoria da instituição e que os serviços mencionados eram do conhecimento do Itaú.
Por fim, informa que Alexsandro Broedel tomará as medidas judiciais cabíveis neste caso.”
Já Eliseu Martins disse, em nota, que contesta as declarações da instituição financeira e fala em má interpretação dos fatos pelo banco.