Itaú sobe projeção da Selic terminal, com chance de ciclo de cortes dos juros terminar antes
Para o banco, no cenário global, a inflação alta e a atividade econômica forte vão adiar a queda das taxas nos Estados Unidos
O Itaú Unibanco subiu de 9,25% para 9,75% a previsão da Selic terminal. Em relatório divulgado nesta sexta-feira (12), o banco espera uma desaceleração no ciclo de cortes dos juros a partir de junho. Entre os motivos para a piora da estimativa, o banco aponta um aumento das dúvidas internas, uma desinflação lenta e as dificuldades crescentes no exterior.
“No cenário internacional, a trajetória de desinflação em economias desenvolvidas tem se mostrado errática e o início de cortes de juros tem sido adiado, o que tende a ter impacto sobre a taxa de câmbio. Internamente, os reajustes salariais seguem superando a inflação, a inflação de serviços (especialmente em itens mais ligados ao mercado de trabalho e dinâmica salarial) tem ficado mais pressionada na margem, e as expectativas de inflação encontram-se acima da meta há alguns trimestres.”
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“Esperamos que a taxa Selic permaneça nesse mesmo nível ao longo de 2025 confiando que a autoridade monetária se manterá fiel ao compromisso de levar a inflação para a meta. Reconhecemos, no entanto, que dados os riscos altistas para inflação em 2025, pode ser necessário que a autoridade monetária encerre esse ciclo ainda antes.”
PIB acima de 2%
No mesmo relatório, além da Selic terminal, o Itaú passou a projetar um PIB mais forte em 2024, de 2% para 2,3%. Essa revisão para cima vem após dados mais fortes no começo do ano.
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“Os dados de janeiro e fevereiro, em especial para os setores de varejo e serviços, indicaram que a economia começou o ano em ritmo forte. Acreditamos que a surpresa pode estar relacionada ao pagamento extra de precatórios.”
“Além disso, a antecipação do pagamento dos precatórios regulares para março e o aumento real do saláriomínimo concedido no início deste ano devem continuar impulsionando o consumo nos próximos meses.”
Contudo, diante da perspectiva de Selic terminal mais alta, o banco baixou de 2% para 1,8% a previsão de crescimento da economia em 2025.
“A revisão do PIB em 2024 reflete mais surpresas de curto prazo e fatores pontuais mais concentrados no início do ano, que não devem se repetir em 2025. Além disso, a perspectiva de uma taxa de juros mais elevada no final do ciclo de afrouxamento intensifica o impacto negativo do impulso monetário sobre o crescimento no próximo ano.”
Riscos para inflação
Ao mesmo tempo, o banco elevou levemente as estimativas para o IPCA tanto em 2024 quanto em 2025. A inflação esperada para este ano foi de 3,6% para 3,7%, enquanto a taxa projetada para o ano que vem oscilou de 3,5% para 3,6%.
Nesse sentido, a revisão considera o mercado de trabalho apertado e a persistência da inflação de serviços. Adicionalmente, o banco cita a possibilidade do La Niña se estender ao longo do ano que vem, o que poderia afetar tanto preços de alimentos como de energia.
“Em particular, os fundamentos para inflação de serviços (mercado de trabalho e reajustes salariais) indicam pressão altista para o grupo. Enquanto parte da piora em serviços subjacentes tende a ser pontual (serviços bancários), os serviços ligados à mão de obra devem seguir pressionados ao longo de 2024.”
“Vale ressaltar que o balanço de riscos é altista para 2025, considerando o mercado de trabalho apertado, a persistência da inflação de serviços e a possibilidade do La Niña se estender ao longo do ano que vem, afetando tanto preços de alimentos como de energia. Isso se traduz também em certa assimetria para as possibilidades da política monetária.”
Juros nos EUA
No cenário global, a principal mudança do Itaú está na visão de quando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vai começar a corta os juros. Para o banco, a inflação alta e a economia forte vão adiar o relaxamento das taxas nos Estados Unidos.
“Deslocamos nossa expectativa de início do ciclo corte de juros de junho para dezembro desse ano e seguimos esperando três cortes em 2025.”
“Atividade econômica forte e inflação mais persistente devem levar o Fed a esperar mais tempo e coletar mais dados, antes de ter confiança para iniciar o processo de flexibilização monetária.”
Milei sob pressão
Sobre a Argentina, que tem passado por ajustes econômicos drásticos desde o início do governo de Javier Milei, o banco avalia que o processo caminha, “até agora, tudo bem.”
“O programa de estabilização continua, resultando em uma melhoria mais rápida do que o esperado em dados nominais e uma consolidação fiscal sem precedentes, contribuindo para a recuperação dos ativos argentinos.”
“A inflação mensal desacelerou, ajudada pela apreciação da moeda, enquanto o saldo fiscal tornou-se positivo nos dois primeiros meses do ano.”
Agora, o Itaú projeta um superávit fiscal primário de 0,5% do PIB em 2024 (de 0% do PIB do cenário anterior). A instituição ainda espera que a economia argentina contraia 3% em 2024, “com riscos de baixa considerando a enorme consolidação fiscal e a queda nos salários reais.”
“Ainda prevemos que a inflação cairá para 180% até o final de 2024, com riscos de alta, vindo de 211,4% em 2023. Reduzimos nossa previsão de taxa juros para 70%, de 80% anteriormente.”
“As perspectivas macro ainda são frágeis, e a confiança ainda elevada da população no governo será testada pelos efeitos do cenário estagflacionário nos próximos meses.”