Itaú capta R$ 2 bi para apoiar empreendedorismo feminino
Segundo banco, emissão de letra financeira social foi pioneira no país
O Itaú Unibanco levantou R$ 2 bilhões na primeira emissão de letras financeiras sociais (LF) por um banco brasileiro no mercado local. A captação tem como objetivo apoiar o empreendedorismo feminino no âmbito do programa Itaú Mulher Empreendedora, que completa dez anos em 2023.
Do volume total, R$ 1 bilhão foi captado junto à International Finance Corporation (IFC), membro do grupo Banco Mundial. A outra metade foi obtida no mercado. Segundo a instituição, os recursos vão financiar pequenas e médias empresas lideradas por mulheres no Brasil. E 10%, ou seja, R$ 200 milhões, vão ser direcionados exclusivamente para empreendedoras do Norte e Nordeste do país.
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De acordo com o diretor de tesouraria do Itaú, Daniel Goretti, “os títulos de três anos [de vencimento] fazem parte da agenda de operações ESG [dimensões ambiente, social e governança] do banco, que prevê entregar R$ 400 bilhões em ativos ligados aos temas até 2025”. O executivo aponta ainda que “a operação foi a maior no mercado de capitais brasileiro com foco no tema de gênero”.
A diretora de relações institucionais e de sustentabilidade do banco, Luciana Nicola, ressalta que “dentro do programa de Mulheres Empreendedoras podemos mostrar que o crédito pode ser uma alavanca para o crescimento do negócio e não apenas uma dívida”. Além de acesso a financiamento, a rede, explica a executiva, estimula a educação das participantes, “que aprendem umas com as outras”.
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Na visão do responsável pela área de instituições financeiras no Brasil e Cone Sul do IFC, Rogério Santos, “essa foi a primeira emissão de um ‘gender bond’ [título de dívida atrelados a metas de gênero] feita por um banco privado no país”. O especialista lembra ainda que um volume financeiro expressivo, de R$ 200 milhões, vai atender o Norte e o Nordeste, regiões com penetração do crédito em relação ao PIB entre 15% e 20% menor do que o restante do Brasil. “E nesses Estados, cerca de 70% das mulheres que empreendem são afrodescendentes”, acrescenta.
O gerente-geral da IFC no Brasil, Carlos Leiria Pinto, ressalta ainda “haver evidências que o crédito dado a empresas lideradas por mulheres tem risco menor em relação ao concedido a organizações chefiadas por homens”. O executivo citou o caso do México, onde o regulador local permitiu que financiamentos concedidos a companhias com lideranças femininas tenham menor requisito de capital.
De acordo com o Itaú, estima-se existir no Brasil mais de 10 milhões de empresas comandadas por mulheres. Levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com mais de 13 mil empresas em 70 países revelou que os negócios que passaram a ter liderança feminina tiveram crescimento nos lucros, facilidade para atrair e reter talentos, e melhora na criatividade e inovação.
A diretora de sustentabilidade do Itaú acrescenta ainda que um dos propósitos da captação recém-realizada é a possibilidade de reforçar a atuação entre empreendedoras afrodescendentes e indígenas. O diretor de tesouraria do banco completa ainda ver “apetite [de investidores] para fazer mais desse tipo de operação”. Santos, da IFC, explica que, quando ocorre uma emissão grande de títulos ligados à sustentabilidade, “vários clientes nos procuram querendo fazer a mesma coisa, ou seja, [emissões do gênero] têm um efeito demonstração muito grande”.
Por Sérgio Tauhata