Inflação vai cair mais? IPCA deve fechar 2023 dentro da meta? Como fica a Selic?
Especialistas respondem o que esperar nos próximos meses e o que muda no cenário para a taxa básica de juros
A deflação de 0,08% registrada em junho levou o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses ao menor patamar (3,16%) desde setembro de 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A mínima da taxa anual na ocasião chegou a 3,14%.
Mas o que esperar agora?
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
A tendência, segundo Luciana Rabelo, economista do Itaú Unibanco, é a inflação voltar a subir nos próximos três meses e se afastar do atual piso. O motivo é que o IPCA teve deflações seguidas em julho (-0,68%), agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%) de 2022 na esteira de cortes de impostos feitos pelo então governo Jair Bolsonaro.
“Diante desse efeito base que vai passar, podemos afirmar que o IPCA atingiu a mínima em 2023”, diz Luciana.
Últimas em Economia
“Deveremos ver agora a inflação em 12 meses voltar a rodar acima de 5% nos próximos três meses e aí em outubro o índice deve ceder novamente, fechando o ano em 5,1%, conforme as nossas atuais expectativas”, acrescenta a economista do Itaú.
O número do banco, se confirmado, mostra que a inflação vai estourar o teto da meta para este ano, que com a tolerância de 1,5 ponto percentual é de 4,75% (o centro da meta é de 3,25%).
Luciana Rabelo observa que, até aqui, o processo de desinflação foi puxado, entre outros fatores, pela queda dos combustíveis e dos alimentos, com apreciação nos preços das commodities. Ela indica que a alimentação no domicílio acumulada em 12 meses deve fechar 2023 em 0,6%. Isso depois de encerrar 2022 com alta de 13,23%.
Por outro lado, a economista destaca que os preços de serviços seguem rodando acima do esperado, na faixa de 6%, puxados pelo mercado de trabalho ainda apertado. Essa pressão limita o processo de convergência da inflação à meta.
A visão vai na mesma direção da avaliação da XP. “A composição do IPCA e suas medidas agregadas reforçam o primeiro estágio da desinflação no Brasil, puxado por alimentos e bens industriais”, anota em relatório o economista Alexandre Maluf.
“No entanto, as métricas de serviços seguem rodando muito acima da meta de inflação”, acrescenta.
Apesar disso, a XP acredita que a inflação pode fechar o ano dentro do teto da meta. “Mantemos nossa projeção de 4,7% para o IPCA de 2023”, diz o relatório.
O ritmo de queda taxa Selic
Tanto Luciana Rabelo quanto Alexandre Maluf confirmam a expectativa de que o Banco Central vai começar a cortar os juros em agosto. A persistência dos preços dos serviços, no entanto, vai afetar o ritmo de afrouxamento da taxa Selic.
“O resultado do IPCA de junho reforça o cenário de que a primeira queda vai ser de 0,25 ponto percentual, com a Selic fechando 2023 em 12%”, comenta a economista do Itaú.
“Nossa visão é de que o BC iniciará o ciclo de flexibilização cautelosamente com um corte de 0,25 ponto percentual em agosto, seguido de cortes de 0,50 p.p. a partir de setembro, encerrando o ano em 12%.”, reforça o economista da XP.
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, sustenta a leitura. “O resultado não deve ser capaz de alterar nossas expectativas de cortes de juros para o restante do ano, mas afasta a ideia de que os primeiros cortes possam ser já mais agressivos, de 0,50 ponto. O ciclo deve se iniciar com cortes mais graduais, de 0,25 ponto”, diz.
Por fim, Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, não descarta a chance de um BC mais agressivo na queda da Selic. “Vemos o caminho aberto para o ciclo de cortes em agosto, mas o debate entre um corte de 0,25 ou 0,50 deve continuar”, completa.