Inflação nos EUA pressiona Fed a manter juros altos por mais tempo, dizem analistas

Gastos pessoais aumentaram consideráveis 1,1% em janeiro (1,8% em dólares atuais), depois de quedas consecutivas em novembro e dezembro

Sede do Federal Reserve em Washington, D.C. (Foto: Reuters)
Sede do Federal Reserve em Washington, D.C. (Foto: Reuters)

A alta acima do esperado do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos EUA em janeiro pode fazer com que o Federal Reserve (Fed) volte a adotar altas de juros de 0,50 ponto percentual (p.p.) em sua próxima reunião, marcada para 22 de março, disseram alguns analistas nesta sexta-feira (24), depois da divulgação dos dados.

O PCE, publicado na manhã desta sexta-feira (24), é o índice de preços de gastos com consumo, indicador preferido do Fed para operar a taxa de juros.

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O Federal Reserve (Fed) deve elevar os juros em 0,25 ponto percentual nas próximas três reuniões de política monetária, de acordo com o analista James Knightley, do banco ING.

“Concordamos que este é o caminho mais provável a seguir, mas será doloroso para o setor imobiliário, com dificuldades relacionadas a inflação e a alta dos custos de empréstimo”, apontou o analista do banco holandês.

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O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida preferida do Fed, subiu 0,6% entre dezembro e janeiro, segundo comunicado divulgado hoje pelo Departamento do Comércio. O núcleo do indicador, que exclui itens voláteis como energia e alimentos, também subiu 0,6% e superou a projeção do consenso de economistas consultados pelo “The Wall Street Journal”. Em dezembro do ano passado, o índice cheio havia mostrado uma alta mensal de 0,2% e o núcleo de 0,4%.

“A combinação de crescimento de renda, gastos crescentes e inflação robusta significa que os aumentos nas taxas de março e maio são muito prováveis e temos que aceitar que um novo movimento em junho é mais provável do que improvável”, avalia Knightley.

O banco holandês destaca que mantem cautela por conta da combinação entre o aperto da renda, taxas de juros mais altas e condições de empréstimo mais rígidas, ao mesmo tempo.

Oxford: projeção de taxa final para 5,50% nos EUA

Os dados de renda pessoal, gastos e inflação de janeiro dos EUA mostraram uma economia aquecida demais para o Fed e justificam uma mudança em nossa previsão para a trajetória da política monetária, avalia a economista-chefe para os EUA da Oxford Economics, Nancy Vanden Houten. Segundo ela, agora a projeção é de que os juros chegarão ao intervalo de 5,25% a 5,50% no meio do ano, adicionando 0,50 ponto percentul à projeção anterior da Oxford.

“Salários e rendimentos salariais aumentaram mais desde julho, os gastos do consumidor foram robustos e o indicador de inflação preferido do Fed, o núcleo do PCE, mostrou uma aceleração na inflação. Não esperamos que o ritmo de consumo de janeiro seja mantido, mas o Fed não vai contar com isso”, afirma a economista, em nota.

Ela avalia que os gastos pessoais nominais foram mais fortes do que o esperado, subindo 1,8%, liderados por um salto de 2,8% nos gastos com bens e 1,3% nos gastos com serviços. Já os gastos reais do consumidor subiram 1,1%, com os gastos com bens subindo 2,2% e os gastos com serviços subindo 0,6%.

Pantheon: risco de alta de 0,50 pp em março

Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, ressalta, em nota a clientes, a alta de 0,58% do núcleo do setor de serviços do índice PCE excluindo energia, a maior desde novembro de 2021. A medida tem sido uma das mais observadas pelo Fed. “Desta forma, não podemos descartar um retorno a [altas de] 0,50 p.p.”, diz Shepherdson.

No entanto, ele pondera que este não é seu cenário-base e argumenta que seria um erro caso o Fed opte por reacelerar seu aperto monetário. Para o economista, os próximos dados de atividade, emprego e inflação nos EUA deixarão de repercutir fatores sazonais e, por isso, devem perder força.

“Esperamos que os números do payroll, das vendas no varejo e CPI antes da próxima reunião do Fed acalmem alguns dos temores do mercado de que a economia não está respondendo ao aperto” monetário, diz. Shepherdson, no entanto, admite que a inflação de serviços nos EUA está “persistente” e uma tendência definitiva de queda ainda está para começar”.

Capital: venda de automóveis ajudou a elevar índice

O aumento surpreendentemente forte de 0,6% no núcleo do PCE em janeiro ante dezembro, que empurrou a taxa anual de núcleo da inflação para 4,7%, de 4,6%, é outro sinal de que o Fed pode ter que deixar sua taxa de juros mais alta por mais tempo, afirma o economista-chefe para América do Norte da Capital Economics, Paul Ashworth.

Segundo ele, a alta foi impulsionada pelos preços de bens e serviços, que subiram 0,6%. “Os serviços excluindo preços de energia também aumentaram 0,6%, o que, mesmo considerando o aumento de 0,7% nos preços de habitação, significa que os serviços excluindo habitação – indicador preferencial do Fed – também subiram perto de 0,6%, uma aceleração notável em ganhos mensais recentes”, afirma o economista, em nota.

Na análise de Ashworth, ele diz que os gastos pessoais ajustados aumentaram consideráveis 1,1% em janeiro (1,8% em dólares atuais), depois de registrarem quedas consecutivas de 0,3% em novembro e dezembro.

“O aumento foi em grande parte esperado, dado o aumento nas vendas de veículos, parcialmente compensadas por uma queda relacionada ao clima nos gastos reais com serviços públicos. Continuamos projetando consumo real de 3,5% no primeiro trimestre, com crescimento do PIB total de 1,5%”, informa.

O economista também afirmou que o aumento de 0,6% na renda pessoal foi um pouco decepcionante. “O aumento de 0,9% na remuneração foi menor do que o aumento do emprego e das horas semanais trabalhadas, sugerindo que este último pode ter sido afetado por alguns problemas de sazonalidade”, afirma.

Inflação ganhou ímpeto, diz Fed de Cleveland

A presidente da regional do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, disse que ainda não decidiu se gostaria que o banco central aumentasse as taxas de juros em 0,50 ponto percentual em sua próxima reunião, em março. “Eu não prejulgo. Entro nas reuniões e vou analisar os dados e teremos um novo conjunto de previsões e isso ajudará a orientar onde precisamos chegar ”, disse Mester em entrevista à rede de TV americana CNBC hoje.

“Percorremos um longo caminho, mas ainda temos um pouco mais de trabalho a fazer”, acrescentou ela. Mester foi um dos poucos membros do Fed que disseram ter pressionado por um aumento de 0,50 ponto na última reunião do Fed, realizada de 30 de janeiro a 1º de fevereiro. Os membros votantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) finalmente votaram unanimemente para aumentar a taxa dos fundos federais em 0,25 ponto para uma faixa de 4,5% a 4,75%. Mester não é membro votante do comitê de juros do Fed este ano.

Mas o fato de algumas autoridades do Fed quererem uma ação mais agressiva gerou especulações de que o banco central pode decidir aumentar sua taxa de referência em 0,50 ponto no próximo mês.

Os operadores de contratos futuros de fundos federais esperam principalmente um aumento de 0,25 ponto na reunião de 20 a 21 de março. Mas eles veem uma chance de 30% de um movimento maior de 50 pontos-base, de acordo com o CME Group.

Na entrevista, Mester disse que viu “um pouco mais de ímpeto” nas medidas de inflação do que muitos de seus colegas, pelo menos em dezembro, quando as autoridades apresentaram pela última vez suas previsões econômicas formais. “Não vi muita mudança em minhas perspectivas para a economia desde aquela época”, disse ela.

O Fed precisa trazer sua taxa de referência “um pouco acima de 5%” e mantê-la por um tempo para colocar a inflação em uma trajetória descendente sustentável para 2%, disse ela.

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