Inflação e baixa renda inibem recuperação do consumo no Brasil
Indicador da FGV mostrou uma melhora da confiança entre as faixas de maior poder aquisitivo
O aumento de 3,5 pontos no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getulio Vargas (FGV) em junho ante maio, para 79 pontos, na prática, não representa começo de retomada sustentável no consumo do brasileiro. A análise partiu de Viviane Seda, economista da fundação responsável pelo indicador. Para a especialista, o desempenho foi influenciado por fatores que ocorreram no mês, como renda adicional originada de saque de FGTS e de antecipação de 13º salário para aposentados e pensionistas. Ou seja: as razões que levaram à alta do ICC não se repetem nos próximos meses. E, no longo prazo, a inflação em alta e o orçamento apertado das famílias de menor renda tem potencial de frear continuidade de alta na confiança, ponderou ela.
Ao detalhar o ICC de junho, a técnica informou que os dois sub-indicadores componentes que compõem o índice mostraram alta no mês. O Índice de Situação Atual (ISA) subiu 1,3 ponto, para 70,4 pontos; e o Índice de Expectativas (IE), avançou 4,9 pontos, para 85,9 pontos. A técnica reiterou que as rendas adicionais ajudaram a impulsionar a alta do ISA e, no caso, do IE, com também impacto positivo nas expectativas.
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No entanto, ao se olhar a situação financeira das famílias por faixa de renda, também pesquisada pela Sondagem do Consumidor – pesquisa da qual o ICC é indicador-síntese – é possível visualizar que o orçamento das famílias não está favorável, em todas as faixas de poder aquisitivo. Entre as famílias com ganhos mensais até R$ 2.100,00, esse tópico diminuiu de 67,2 pontos em maio para 59 pontos em junho. Na mesma comparação, entre famílias com ganhos mensais acima de R$ 9.600,00, esse tópico subiu de 68,9 pontos para 70,9 pontos.
Para ela, esse aspecto da pesquisa demonstra que, além da renda adicional, as famílias mais ricas também impulsionaram a alta do ICC no mês. Mas ela duvida da sustentabilidade de aumento do indicador. Ela citou o resultado, hoje, de alta de 0,69% em junho ante 0,59% em maio, no IPCA-15, prévia de indicador oficial do país, o IPCA. Com isso, a inflação pelo IPCA-15 em 12 meses até junho já está em 12,04%.
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A especialista observou que não há sinais, até o momento, de arrefecimento da inflação no curto prazo e, ao mesmo tempo, as rendas adicionais de junho não devem se repetir. Isso vai ajudar a pressionar ainda mais o orçamento das famílias, principalmente as de baixa renda, pontuou ela, deixando menos espaço para consumo. “Não parece provável [sustentável retomada de consumo nos próximos meses]” resumiu ela.