Inflação deve disparar com combustíveis mais caros, projeta economista da FGV

Reajuste deve provocar impacto de 1,05 ponto percentual no IPCA de março e acréscimo de 0,47 p.p. no índice de abril

Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Os combustíveis mais caros a partir deste mês vão causar um forte impacto na inflação. Os aumentos anunciados essa manhã pela Petrobras na gasolina (18,7%); diesel (24,9%) e GLP (16%) devem conduzir a um impacto de 1,05 ponto percentual (p.p.) na inflação apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, e acréscimo de 0,47 p.p. no IPCA de abril. Ou seja: um impacto total de 1,52 p.p. nas taxas dos indicadores de março e de abril. Os cálculos são do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e responsável pela elaboração dos indicadores da família dos Índices Gerais de Preços (IGPs). André Braz.

Isso significa que, se nenhum outro produto subir de preço no período, as taxas de inflação oficial de março e de abril já subiriam no mínimo 1,52 p.p. nos dois meses.

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No caso dos IGPs, Braz calcula acréscimos de 0,75 p.p. no IGP-DI de março, e de 0,35 p.p. no de abril.

Os reajustes vieram após 57 dias sem altas e foram influenciados pela guerra entre Ucrânia e Rússia, que fez disparar o preço do petróleo no mercado internacional.

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O especialista ponderou ainda que, como o conflito no Leste Europeu não dá sinais de término no curto prazo, isso na prática significa que não há para saber, com certeza, se o preço do petróleo não continuará a disparar. Hoje, o barril do tipo brent, desde a guerra, já opera acima de US$ 100 lembrou ele. Ou seja: não há como saber se haverá outros reajustes de combustível, admitiu ele.

Braz fez a observação ao comentar sobre a primeira prévia do IGP-M de março, anunciada hoje pela fundação, e que mostrou estabilidade, ante alta de 1,38% em igual prévia em fevereiro, favorecida por queda de 11,77% no preço do minério de ferro no atacado. “Mas com o reajuste essa primeira prévia [elaborada antes do anúncio da Petrobras de combustíveis mais caros] não representa mais a realidade da inflação”, comentou ele, admitindo que a primeira prévia está desatualizada.

Outro alerta mencionado pelo técnico, além de possíveis novos reajustes de combustíveis devido à guerra, é o fato de que indiretamente combustíveis em alta de preço deixam mais caros outros produtos não relacionados a petróleo. “Vai aumentar custo de frente, custo de produção”, comentou ele, notando que a logística de transporte de itens do país é dependente de caminhões, que operam a diesel. “Esses aumentos vão transbordar para outros setores”, resumiu ele. O técnico lembrou ainda que há outros produtos que levam petróleo em sua elaboração, como tubos de PVC por exemplo, que também devem ficar mais caros por conta do barril em alta – pressionando os indicadores inflacionários.

Fora do setor de petróleo, o especialista reiterou ainda o alerta de disparada em preços de commodities originadas do setor agrícola, no exterior, devido à guerra. Isso porque a região do conflito é produtora de trigo, centeio e aveia, itens que têm longa cadeia de derivados no varejo brasileiro.

“A guerra está longe de acabar” opinou. “E mesmo que acabe, as sanções à Rússia devem permanecer”, comentou, notando que isso vai restringir acesso a produtos da Rússia, como trigo por exemplo, na oferta global, o que eleva preços, no mercado doméstico.

Ele fez uma ressalva. Não é impossível que o petróleo, ao longo do ano, da mesma maneira que disparou com início do conflito, vá diminuir de patamar, a depender da resolução do embate entre Rússia e Ucrânia. “Temos que levar em conta que o petróleo segue em flutuação”, frisou ele. “Temos que ver como vai ficar o ‘pós-guerra’ e a relação de outros países com a Rússia ao longo do ano”, afirmou.

No entanto, ele admitiu que, com as informações atuais, o viés dos indicadores inflacionários com os aumentos dos combustíveis opera em alta, no momento.

Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico

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