Fed pode manter juros no pico por mais tempo
Menos da metade dos economistas ouvidos espera cortes nas taxas em 2023
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) deve decepcionar Wall Street e manter as taxas de juros em seu pico ao longo de 2023, o que frustrará as esperanças que os mercados embutiram para as reduções nas taxas no segundo semestre e tornará uma recessão muito provável. Essa é a estimativa de economistas consultados pela Bloomberg às vésperas da reunião desta quarta-feira, em que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) tomará sua decisão e divulgará nova projeções.
Para esses economistas, os responsáveis pela política monetária aumentarão a taxa referencial em 0,50 ponto percentual nesta semana – depois de quatro altas consecutivas de 0,75 ponto – e em 0,25 ponto nas duas reuniões seguintes.
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A expectativa é a de que a mediana das projeções do Fomc indique que a taxa de referência de sua política atingirá um pico de 4,9% em 2023 – o que reflete uma meta de 4,75% a 5% -, em comparação com os 4,6% observados em setembro. Isso seria uma surpresa dura para os investidores, que atualmente apostam em uma redução nas taxas de 0,50 ponto porcentual no segundo semestre do ano que vem, embora também admitiam a hipótese de que as taxas atinjam um pico de cerca de 4,9%. Na pesquisa da Bloomberg, os economistas preveem que o Fed cortará as taxas para 4% até junho de 2024 e para 3,5% até o fim daquele ano.
O presidente do Fed, Jerome Powell, já disse que está disposto a aceitar que a economia sofra um pouco para reduzir a inflação, que está perto de seu nível mais alto em 40 anos, e isso deve tornar-se um pouco mais perceptível na nova projeção. O sumário das projeções econômicas do Fed deve mostrar que seus dirigentes esperam um crescimento mais fraco nos EUA e um desemprego ligeiramente mais alto do que previam em setembro. Eles podem rebaixar as estimativas de crescimento de 2023 para 0,8%, em comparação com 1,2% em setembro, e estimar que o desemprego suba para 4,6%.
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Expectativas de inflação de curto prazo nos EUA caíram
A pesquisa foi realizada com 44 economistas entre os dias 2 e 7 de dezembro. Dados divulgados na sexta-feira mostram que as expectativas de inflação de curto prazo nos EUA caíram inesperadamente para o seu nível mais baixo em mais de um ano, enquanto os preços ao produtor subiram mais do que o previsto em novembro.
“A resiliência dos gastos do consumidor e o mercado de trabalho pressionam a inflação e, como resultado, elevam os riscos de alta para nossa previsão de taxa final”, de 5% a 5,25%, disse Kathy Bostjancic, economista-chefe da Nationwide Life Insurance.
Menos da metade dos economistas ouvidos espera cortes nas taxas em 2023. Aqueles que o fazem avaliam que a taxa de desemprego saltará de 3,7% para 5%, e a maioria considera o aumento do desemprego e a recessão como principais causas da reversão.
Powell tem argumentado que taxas mais altas e por um período mais longo são necessárias, mesmo em meio à debilidade econômica, para reduzir as pressões sobre os preços, e acrescenta que não quer cometer o erro de abrandar a luta contra a inflação de forma prematura. Esse foi o erro que na década de 1970 e início dos anos 1980 alimentou a alta persistente da inflação e levou o Fed a infligir uma recessão grave para controlá-la.
Em 30 de novembro, Powell disse que as elevações das taxas poderiam ser amenizadas na próxima reunião, sinalizando um movimento de redução de 0,50 ponto, mas isso era “muito menos significativo” do que o pico que as taxas atingem e por quanto tempo ele se mantém.
“Este será um período muito desafiador para os responsáveis pelas políticas em todos os níveis”, disse Hugh Johnson, presidente da Hugh Johnson Economics. Para ele, embora seja evidente que o Fed deseja manter as taxas no pico ao longo do ano, “essas decisões dependem muito claramente dos dados e serão contestadas se, como suspeitamos, a economia se contrair e as taxas de inflação continuarem moderadas durante o primeiro semestre de 2023”.
Em suas projeções, é provável que o Fed conclua que a inflação será um pouco mais elevada do que a que previa em setembro, de 5,6% em 2022 e 2,9% no ano que vem. O Fed tem como meta uma inflação de 2%, medida pelo índice de preços de gastos com consumo pessoal, que subiu menos do que o esperado em outubro, embora tenha sido mais alto e mais persistente do que o previsto durante grande parte do ano.
Enquanto as autoridades do Fed veem um caminho estreito para um pouso suave, 81% dos economistas consultados consideram provável uma recessão nos EUA. A maioria dos demais espera um pouso forçado, com um período de contração ou de crescimento zero que fique muito perto de uma recessão declarada formalmente. Uma recessão mundial também é considerada provável por 76% dos economistas.
Erro de política monetária?
“Existe um grande risco de erro de política monetária”, disse Thomas Costerg, economista sênior para os EUA da Pictet Wealth Management. “Se levarmos em consideração as defasagens, mesmo que explícitas na declaração do Fed, ainda parece que elas estão em segundo plano quando se trata da tomada de decisão de fato. A ideia de um pouso suave é cada vez menos provável”, avalia.
A expectativa é que o comunicado do Fomc mantenha a linguagem de dar diretrizes sobre as taxas de juros, prometendo a continuidade dos aumentos para um nível “suficientemente restritivo” que faça a inflação voltar à meta. Isso foi ajustado na última reunião, no início de novembro, para reconhecer o efeito do aperto cumulativo e os intervalos de tempo com os quais a política monetária impacta a economia real.
Um quarto dos economistas ouvidos espera que haja divergência na reunião, que seria a terceira de 2022. Em junho, a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, defendeu aumento menor, ao advertir que mudanças muito bruscas nas taxas podiam prejudicar a capacidade do Fed de alcançar a trajetória para os juros planejada.