EUA não devem cortar juros em 2023 mesmo se entrar em recessão, diz economista do Citi
Andrew Hollenhorst diz que uma aterrissagem suave em que a inflação cai sem um aumento significativo na taxa de desemprego é possível, mas não é provável
Mesmo que os Estados Unidos entrem em recessão, o Federal Reserve (Fed, o banco central Americano) não deverá iniciar seus cortes de juros em 2023 dado a força da atividade econômica no país, avalia o economista-chefe do Citi para os EUA, Andrew Hollenhorst. Na verdade, o economista prevê que o Fed continue a elevar os juros para um nível acima do esperado pelo mercado em geral. Para ele, os EUA seguem com a economia aquecida mas devem entrar em recessão no segundo semestre à medida que o aperto da política monetária comece a fazer efeito, com a inflação devendo permanecer elevada durante todo o ano. Para controlar esse cenário, o Fed “terá que compensar a desaceleração do crescimento com a necessidade de reduzir a inflação”, afirma.
Em entrevista ao Valor, Hollenhorst disse que uma aterrissagem suave em que a inflação cai sem um aumento significativo na taxa de desemprego é possível, mas não é provável. “O peso da evidência histórica é que a inflação, particularmente quando elevada e persistente, não diminuirá sem que a taxa de desemprego suba significativamente”, afirma. O economista diz que o mercado de trabalho continua muito apertado nos EUA e o aumento dos salários pode tornar a inflação do setor de serviços persistente. “O Fed pode se ver caminhando de forma mais agressiva para apertar as condições financeiras e afrouxar o mercado de trabalho. Nosso cenário base mais provável inclui uma recessão para os EUA”, avalia.
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Hollenhorst destaca o mercado de trabalho ainda muito aquecido nesse momento, apesar da desaceleração em seu ritmo de crescimento. Segundo ele, os juros terão que permanecer elevados durante todo o ano. “Esperamos que a preocupação do Fed em afrouxar as condições financeiras antes da hora e um mercado de trabalho ainda apertado leve a uma alta de 0,50 ponto percentual em fevereiro. O ritmo dos dos aumentos deve desacelerar para 0,25 ponto na reunião de março, com o Fed atingindo uma taxa de juros terminal entre 5,25 e 5,5% em junho”, disse.
Mas, para o economista, a questão mais importante não é a sequência exata de aumentos, mas se as autoridades do Fed param em 5% ou sentem a necessidade de ir além, para mais perto de 6%.
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Os mercados projetam uma taxa final de 5% e o Fed estima em torno de 5,25%. “A nossa projeção mais agressiva do Fed baseia-se parcialmente nos mercados que subestimam os riscos ascendentes para a inflação, incluindo o núcleo da inflação de serviços (excluindo moradia). Nesta quinta-feira, serão divulgados o índice de preços ao consumidor (CPI, da sigla em inglês) de dezembro.
“Se o Fed diminuir o ritmo de aumentos de juros para 0,25 ponto ou indicar que eles podem fazer uma pausa em breve, o risco é que as condições financeiras se afrouxem e o Fed eventualmente tenha que subir ainda mais. A fase mais agressiva de aumento das taxas pode ter ficado para trás, mas especialmente devido ao mercado de trabalho apertado e à inflação ainda muito alta, o Fed precisará continuar a aumentar as taxas pelo menos a um ritmo de 0,25 ponto e possivelmente a um ritmo de 0,50 pontos”, alerta.
O economista também destaca que os EUA estão atentos ao que está acontecendo globalmente, mas também estão bastante isolados com uma economia impulsionada principalmente pelo mercado interno. “Na medida em que o dólar americano se mantém forte ou se valoriza ainda mais, isso pesa no crescimento e na inflação e pode substituir alguns aumentos de juros”, disse.
Hollenhorst aponta que também é importante ficar de olho no potencial de saldos de reservas continuarem a diminuir este ano, à medida que o Fed reduz seu balanço de ativos. “Esperamos que o Fed pare de reduzir o balanço em algum momento após interromper a alta dos juros para evitar um cenário em que as reservas caiam abaixo do nível necessário de liquidez de bancos e outros serviços.