Escolha de novo diretor do Banco Central vai testar relação de Campos Neto e governo Lula
Primeiras vagas na diretoria serão abertas em um mês; presidente tem mandato até 2024
O cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central ficará vago em um mês e a escolha do sucessor de Bruno Serra está sendo lida dentro e fora do governo como um marco da relação do BC autônomo com a gestão Lula.
Para interlocutores do Ministério da Fazenda, o nome que for encaminhado pelo governo e a forma como esse cargo for escolhido irá demarcar como o atual governo irá se relacionar com o Banco Central.
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Próximo presidente do BC
Além disso, pode apontar os caminhos para a escolha do próximo presidente do BC, já que o mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto, se encerra em 2024.
Ainda não há consenso por um nome, o perfil e nem mesmo se essa solução deve ou não ser combinada com Campos Neto — que já sondou economistas do mercado para a posição, embora a indicação formal caiba ao Palácio do Planalto.
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A vaga na Diretoria de Política Monetária será aberta formalmente no dia 28 de fevereiro, quando terminam os mandatos de Serra e também do diretor de Fiscalização, Paulo Souza. Mesmo que não sejam reconduzidos, eles podem aguardar no cargo a nomeação dos novos membros.
Essas são as primeiras vagas que irão se abrir no BC durante o governo Lula.
Diretoria de Fiscalização
No caso da diretoria de Fiscalização, a expectativa é de manutenção de Souza, já que se trata de uma posição mais técnica e ocupada por servidores do BC. Desde o ano passado, porém, Serra já dizia que não queria continuar no cargo.
Há diversas leituras dentro do governo sobre quem ocupará o cargo. Uma ala mais política defende um nome que seja um “contraponto” dentro do Comitê de Política Monetária (Copom, que define a taxa de juros) aos nomes atuais.
Uma parte do Executivo com interlocução com o mercado alerta, porém, que a escolha não pode gerar ruídos que causem um descolamento da inflação e da curva de juros dos fundamentos econômicos.
O nome precisará ser validado pelo Senado e interlocutores do governo alertaram para o risco de um nome que cause um estresse muito grande no mercado acabe sendo barrado pelos senadores.
Falas de Lula
Em meio a essa indefinição, o sindicato dos funcionários do BC pediu ao governo para que servidor da categoria ou um acadêmico fique com a vaga de Serra. Dos nove integrantes do Copom, quatro são funcionários de carreira do Banco Central. São eles Paulo Souza (Fiscalização), Carolina Barros (Administração), Otávio Damaso (Regulação) e Maurício Moura (Relacionamento e Cidadania).
Em declarações recentes, Lula criticou a autonomia do Banco Central e o comportamento dos juros, dizendo que era uma “bobagem” a autonomia do banco.
“Nesse país se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência, é uma bobagem achar que o presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente era que indicava”, disse Lula à GloboNews.
Reação Haddad
A reação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava em Davos quando o presidente Lula falou de “surpresa”, segundo auxiliares do ministro. A fala não havia sido combinada com o principal nome da pasta econômica do governo, que assegura a equipe que não está sendo cogitado alterar a autonomia do BC.
Internamente, a avaliação da Fazenda é que eventual ruído já foi mitigado, especialmente após as falas de Campos Neto em palestra na University of California, em Los Angeles, na semana passada. Disse que o mercado seria muito mais volátil se não houvesse a independência em lei.
Em Buenos Aires, Haddad disse Campos Neto deu uma ” declaração muito feliz quando ele interpretou de forma generosa o que disse o presidente Lula” e se empenhou em explicar a fala do presidente:
“O que ele disse, basicamente, foi o seguinte: você pode ter um Banco Central independente, sem que a lei tenha sido estabelecida, como aconteceu no governo dele, e é óbvio que a lei é um passo importante na direção da independência. Mas ela é em si mesma não garante independência, você tem que cobrar a independência do BC, independentemente da lei”, disse o ministro na Casa Rosada.
Depois de justificar o que Lula falou, Haddad disse que foi desta forma que Campos Neto leu a “provocação” feita por Lula.
Crítica política monetária
Lula também criticou o patamar atual da taxa básica de juros e a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a qual, segundo ele, atrapalha o crescimento da economia. A meta de inflação para 2023 é de 3,25%, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Já a Selic está em 13,75% ao ano.
Formado por Haddad, Campos Neto e a ministra Simone Tebet (Planejamento), o CMN faz a primeira reunião do ano no dia 16 de fevereiro, mas não deve discutir a meta de inflação neste momento.
Procurada, a Fazenda e disse que não vai comentar o assunto. O BC não respondeu.
Com reportagem de Manoel Ventura e Jeniffer Gularte — O GLOBO, Brasília.