Eleição acentua volatilidade do real
Instabilidade esperada para a taxa cambial um mês à frente atinge maior nível do ano
O segundo turno da eleição presidencial bate à porta e, na medida em que as pesquisas de intenção de voto mostram uma distância apertada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), o mercado tem contratado momentos de instabilidade no câmbio à frente. Medida que serve como termômetro da variação projetada do real um mês à frente, a volatilidade implícita do câmbio brasileiro de um mês disparou e, ontem, alcançou o maior nível do ano, ao subir para 25,8%.
O aumento da volatilidade tem como pano de fundo as incertezas derivadas do cenário eleitoral, na medida em que, cinco dias antes do segundo turno, a disputa entre Lula e Bolsonaro continua aberta. No pregão de ontem, o câmbio voltou a descolar da maioria dos pares emergentes e, por aqui, o dólar voltou a subir e fechou em alta de 0,29%, negociado a R$ 5,3179.
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“Desde o fim de setembro, tivemos um movimento muito forte de aumento da volatilidade. Vimos um movimento forte do real se valorizando com as pesquisas mostrando a diferença diminuindo entre Lula e Bolsonaro. No entanto, com o ‘efeito Roberto Jefferson’, as pessoas acreditam que o Bolsonaro pode ser afetado”, destaca o diretor de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ao notar a reversão forte vista nos ativos brasileiros em relação aos níveis da semana passada. Para ele, o número elevado de incertezas antes da eleição ajuda a explicar o aumento na volatilidade esperada para o câmbio à frente.
Visão semelhante é defendida por Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital. “A eleição está chegando, as pesquisas e os ‘trackings’ estão mostrando uma disputa apertada e o mercado está bastante ansioso”, observa. Ele nota que, além dos eventos recentes em torno do ex-deputado Roberto Jefferson, o mercado também observou de perto os desdobramentos em torno da acusação da campanha de Bolsonaro de que rádios da Bahia não teriam veiculado inserções da propaganda do presidente.
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“Tudo isso faz com que o mercado se proteja. O nervosismo é porque estamos chegando perto da eleição e porque o mercado busca proteção”, diz Portella. Ele observa, adicionalmente, que o Congresso do Partido Comunista da China também aumentou a instabilidade nos mercados emergentes, o que levou os ativos brasileiros a sofrerem por tabela, especialmente na sessão de segunda.
Na avaliação do gerente de tesouraria do Bank of China, Jayro Rezende, a preocupação com a volatilidade da curva de juros americana e sobre como o aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) irá se refletir se soma ao pano de fundo da China, que criou um movimento adicional de instabilidade. “E, para completar, temos as nossas questões domésticas, com o mercado bastante atento às pesquisas de intenção de voto”, afirma.
O aumento da instabilidade esperada para o câmbio não ficou restrito à medida de um mês. A volatilidade implícita do real de uma semana à frente saltou para níveis próximos a 40%, na medida em que a eleição se aproxima. “A maior parte do movimento é apenas mecânica”, diz Juan Prada, estrategista do Barclays para América Latina.
Ele nota que, normalmente, a volatilidade tende a diminuir após eventos de risco. “Os participantes do mercado provavelmente estarão mais cautelosos nesta semana, então pode haver um leve alívio após a eleição, com a resolução da incerteza”, diz Prada. O estrategista, porém, ressalta que a dinâmica dos dias seguintes deve depender de como se dará a transição de poder e, potencialmente, de anúncios de gabinete e de política econômica, caso haja um novo governo.
Rezende, do Bank of China, concorda que, em algum momento, a volatilidade esperada para o câmbio deve perder força. “Estamos vendo os movimentos do real contra o dólar até exacerbando a média dos pares. Nossa questão interna adiciona mais volatilidade. No pós-eleição, quando conhecermos o presidente eleito e tivermos mais informação sobre o que será o futuro governo, existe uma chance de redução da instabilidade”, diz.
É preciso apontar que o mercado tem esperado um dia bastante instável no câmbio logo após a eleição. Nos cálculos de Prada, do Barclays, a volatilidade esperada para o real na segunda-feira, dia 31 de outubro, aumentou de 3,25% para níveis próximos a 3,75%.
Na visão de Sérgio Zanini, gestor da Galapagos Capital, “os acontecimentos do fim de semana ajudaram nesse processo [de aumento da volatilidade esperada logo após a eleição] e potencialmente aceleraram ajustes de posição que talvez aconteceriam ao longo da semana de maneira mais ordenada”. Ele, inclusive, lembra que haverá a formação da Ptax de fim de mês no pregão de 31 de outubro, o que tende a acentuar a instabilidade do real.
No entanto, na medida em que o mercado se afasta do curto prazo, a volatilidade esperada volta ao padrão histórico. “Apesar dos níveis esperados para uma semana ou um mês à frente serem muito altos, quando se olha para a volatilidade de três ou de seis meses, ela volta a operar por volta de 20%”, nota o executivo de um grande banco. “A expectativa é de especulação de curto prazo, mas, passado isso, o mercado não vê uma mudança significativa de tendência”, enfatiza.