A economia está decolando? Como o mercado avalia o resultado do PIB do 1º trimestre
Crescimento de 1% entre janeiro e março ficou levemente abaixo das expectativas
O primeiro trimestre de 2022 foi de crescimento da economia brasileira. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou nesta quinta-feira (2) que o PIB (Produto Interno Bruto) do país avançou 1% entre janeiro e março em relação ao último trimestre de 2021. O resultado, apesar de positivo, ficou abaixo da expectativa do mercado, que projetava em média uma alta de 1,2%.
Leia abaixo análises de especialistas sobre o desempenho da economia até aqui e o que esperar para os próximos meses do ano:
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Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos
“O avanço de 1% no PIB do 1º trimestre de 2022 veio um pouco abaixo das expectativas da Órama, que apontavam para um crescimento de 1,2%. Sob a ótica da produção, a agricultura teve um desempenho levemente pior do que esperávamos, com queda de 0,9%, enquanto os serviços um crescimento pouco abaixo, em 1%. A indústria ficou praticamente estável, em 0,1%, que era a nossa expectativa. No acumulado em 12 meses o PIB cresce 4,7%.
Avaliando mais pormenorizadamente o resultado, o consumo das famílias, que possui grande relevância na composição, ainda não conseguiu ganhar tração, com modesto crescimento de 0,7%, enquanto a formação bruta de capital fixo (investimentos) recuou 3,5%. Já o consumo proveniente do governo teve desempenho estável, apenas 0,1%. No lado externo, as exportações cresceram 5% e as importações recuaram 4,6%.
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Vários fatores a serem analisados. Nos parece que a combinação da reabertura da economia, com um mercado de trabalho mais aquecido foi o lado positivo. Todavia, a inflação elevada, bem como a política monetária mais restritiva, parece ter afetado o comportamento da demanda para pior. Estamos interpretando os números mais cuidadosamente para reavaliarmos se faremos modificações no PIB do ano, que, por ora, está em 1,3%.”
Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research
“O que chama a atenção negativamente é o setor agrícola, que caiu 0,9% no primeiro trimestre, sendo que no trimestre anterior teve uma alta de 6%. Isso aconteceu principalmente pelo aumento de custo dos insumos e por conta da questão climática. No destaque positivo tivemos serviços, que subiu 1%, acelerando o crescimento e mostrando uma atividade mais forte, mais resiliente. Isso faz com que o mercado continue revisando a expectativa de PIB deste ano para cima.
Quando olhamos pela ótica da demanda, observamos consumo do governo parado, consumo das pessoas estável. Mas a principal notícia negativa foi a queda bem grande dos investimentos, de 3,5% no trimestre. Então, pelo lado da demanda, temos um crescimento focado em exportações e não tanto pelo consumo. Sendo que a queda dos investimentos é sempre ruim para a economia e para o médio e longo prazos.”
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter
“O bom desempenho da economia ocorre a despeito do significativo aperto monetário em curso. Apesar da inflação alta e do crédito mais restrito, devido à alta da Selic, observamos uma ‘despoupança’ do consumidor, com a utilização das economias acumuladas durante o período de restrições da pandemia e o consumo da família teve desempenho positivo.
O resultado corrente do PIB deixa um carrego estatístico de cerca de 1,5% de crescimento para o ano e devemos continuar vendo revisões para cima, uma vez que o segundo trimestre deve ser novamente positivo, conforme dados já observados, ainda que em um ritmo menor. O mercado de trabalho teve boa recuperação e a liberação do FGTS também deve impulsionar o varejo no 2º trimestre. A construção ligada à infraestrutura também deve continuar crescendo, seguindo um ciclo mais longo e os novos marcos regulatórios e novas concessões no país.
Para o segundo semestre, seguimos com uma visão mais cautelosa da economia, devido principalmente ao elevado patamar de juros que impacta a disponibilidade de crédito e deve desacelerar a economia. Mas o forte começo do ano deve contribuir para um crescimento do PIB mais próximo de 2% em 2022.”
João Savignon, economista da Kínitro Capital
“O resultado revelou um bom crescimento da economia no período, mas abaixo do esperado, dadas as sinalizações e os dados divulgados no período. Quando observamos as aberturas, verificamos que ainda persiste uma importante heterogeneidade entre as atividades econômicas, com algumas bem acima e outras ainda abaixo dos níveis pré-pandemia. No trimestre, os serviços e o consumo das famílias se destacaram, na esteira da maior demanda por serviços presenciais, mas, por outro lado, tivemos surpresas relevantes em agropecuária e investimentos. O carrego estatístico (carry-over) para 2022 ficou em 1,5%, mesmo valor que projetamos para o resultado do ano.
Com o dado de hoje, acreditamos que as revisões para cima do mercado no crescimento desse ano poderão ser mais tímidas do que o esperado. Olhando para frente, seguimos com a atividade econômica surpreendendo no curto prazo, ainda sob o efeito ‘reabertura’ e, principalmente, das medidas de estímulo adotadas pelo governo para o trimestre corrente. No entanto, acreditamos que esse momento favorável do crescimento no curto prazo será desafiado ao longo dos próximos trimestres por diversos fatores, como as eleições, a desaceleração da economia global, o impacto do aperto monetário e o menor impulso fiscal no ano que vem.”