Dólar alto vai pegar na inflação? Juro vai subir? Arcabouço fiscal vai mudar? Bradesco responde

Economistas do banco respondem às questões mais frequentes após a escalada recente do cãmbio

Logo do Bradesco (BBDC3; BBDC4). Foto: Sheldon Cooper/SOPA Images/Reuters
Logo do Bradesco (BBDC3; BBDC4). Foto: Sheldon Cooper/SOPA Images/Reuters

A disparada do dólar nas últimas semanas levantou uma série de dúvidas sobre os motivos desse movimento e seus possíveis impactos sore a inflação e a Selic.

Diante disso, o Bradesco (BBDC4) divulgou nesta quarta-feira (7) um relatório no qual procura responder cinco das perguntas mais frequentes sobre o assunto.

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Confira.

Haverá repasse do câmbio para os preços?

Sim, algum repasse deve ser observado já nos próximos meses, principalmente de bens industriais até o final do ano.

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Nas contas do banco, se os níveis atuais do dólar se mantiverem, o impacto seria de 0,5 ponto percentual nos próximos 12 meses.

Isso considerando o aumento de custo das empresas que serão repassadas ao consumidor.

Porém, levando em conta a evolução das commodities em reais, o impacto estimado é de 0,3 ponto percentual.

Com a economia aquecida e o mercado de trabalho segue firme, há um ambiente “mais propício para repasses de custos”, diz o relatório.

Banco Central precisará subir a Selic?

Apesar disso, o Bradesco avalia que a Selic ficará no nível atual de 10,5% ao ano até o fim de 2025.

“Não haverá necessidade de alta de juros, uma vez que o juro está em patamar restritivo e isso deverá levar a uma desaceleração da inflação”, diz o documento.

Isso, considerando a premissa do Bradesco de que o dólar perderá força nos próximos meses, fechando o ano entre R$ 5,30 e R$ 5,40.

Porém, num patamar de dólar a R$ 5,60 até o final do próximo ano, a estimativa do Bradesco para a inflação de 2025 seria de 4% ao final de 2025.

A inflação de 2025 ficará abaixo da de 2024?

Ainda assim, a tendência é de que o aumento de preços pelo IPCA seja menor no ano que vem do que neste, segundo as projeções dos economistas Myriã Bast e Thiago Angelis, que assinam o relatório.

Eles preveem inflação de 4,3% em 2024 e uma desaceleração para 3,4% no ano que vem, no cenário base.

Isso por causa da desaceleração dos alimentos, que subiram mais neste ano após o El Niño e enchentes no Rio Grande do Sul.

Mas, mais importante, é o efeito da taxa Selic.

Eles entendem que o juro real (acima da inflação) está em nível restritivo, ou seja, retarda o crescimento econômico.

Uma taxa neutra, que nem restringe nem acelera a economia, seria de 5% anuais.

Com a Selic no nível atual por mais tempo, a tendência é de que a economia brasileira cresça 1,5% no ano que vem, abaixo dos 2,3% deste ano.

O arcabouço fiscal terá que mudar?

O chamado arcabouço fiscal determina que as despesas do governo não podem crescer mais do que 2,5% ao ano em termos reais.

Além disso, o governo tem que fazer um resultado primário positivo, que é o crescimento das despesas, descontando o pagamento com juro da dívida.

Para 2024 e 2025, a meta de primário é de 0% do PIB.

Porém, nos últimos 12 meses, as despesas estão crescendo 14,9%.

Os economistas do Bradesco notam, porém, que esse ritmo deve ceder para perto de 0% no acumulado do ano, uma vez que já houve antecipação de pagamento de 13º do INSS.

Além disso, em dezembro houve antecipação de pagamento de precatórios atrasados.

Mas a preocupação é válida, uma vez que a despesa no Brasil é bastante rígida, com mais de 90% dos gastos sendo obrigatórios.

Só as despesas previdenciárias, por exemplo, representam 43% dos gastos, e estão crescendo em ritmo acelerado.

O governo vem sinalizando com algumas medidas para conter o aumento das despesas.

Dentre elas, está a promessa de cortes de R$ 25,9 bilhões de gastos anunciada em julho, que deve fazer parte do Projeto de Lei Orçamentária 2025.

“Neste caso, a trajetória das despesas discricionárias pode ser mais benigna, embora ainda desafiadora”, afirmaram os economistas.

Por que o real é a moeda que mais cai em 2024?

Em 2024, o real brasileiro já se desvalorizou em cerca de 16% na comparação com o dólar dos Estados Unidos.

Isso mesmo com o juro brasileiro se mantendo em patamar elevado, o que é um fator para proteção da divisa do país.

Além disso, após última reunião do Federal Reserve (BC dos EUA), o principal diretor, Jerome Powell, sinalizou que uma queda do juro americano pode acontecer em setembro.

Na verdade, a maioria do mercado, incluindo o Bradesco, aposta em três cortes da taxa de juros americana neste ano.

Em tese, isso deveria enfraquecer o dólar contra o real. Mas não é isso que vem acontecendo.

Para os economistas, uma série de fatores pode ajudar a explicar esse cenário.

Dentre eles, estão a mudança de postura de política monetária no Japão, riscos geopolíticos globais e medo de recessão nos Estados Unidos, que pressionam moedas de mercados emergentes.

Mas também há fatores domésticos nessa conta, incluindo temores já mencionados com a questão fiscal do Brasil e incertezas sobre condução da política monetária no próximo ano, quando haverá um novo presidente do BC.

“Esses seriam temas que nos deslocariam em relação aos pares, nos deixando ainda mais vulneráveis”, afirmou o Bradesco.

Apesar disso tudo, o banco considera que o Brasil tem fundamentos positivos, como o saldo em conta corrente, o crescimento econômico e a inflação controlada.

Levando em conta esses fatores, o câmbio deveria convergir para R$ 5,00 por dólar no médio prazo, concluíram.

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