Críticas duras à comunicação marcam reunião entre BC e economistas

De acordo com participantes do evento, que falaram condição de anonimato, diferentes sinalizações e ruídos provocados por dirigentes da instituição nas últimas semanas têm aumentado o custo da política monetária

Integrantes do Copom, que decidem a taxa Selic no Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Integrantes do Copom, que decidem a taxa Selic no Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB

As idas e vindas na comunicação de membros do Copom desde a última decisão de política monetária da instituição foram alvo de duras críticas em reunião realizada hoje entre economistas de mercado e autoridades do Banco Central.

De acordo com participantes do evento, que falaram com o Valor em condição de anonimato, as diferentes sinalizações e ruídos provocados por dirigentes da instituição nas últimas semanas têm aumentado o custo da política monetária e, neste cenário, uma alta de juros em setembro passa a ser cada vez mais provável.

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Chamou a atenção dos presentes no evento a contundência das críticas feitas durante as exposições dos economistas. “Acompanho essas reuniões faz tempo, mas nunca tinha visto uma em que o pessoal foi tão transparente nas críticas ao BC. O pessoal ‘indo para cima’ e pedindo de forma mais clara uma mudança na comunicação do BC”, aponta um dos presentes no evento.

‘Discussão de relacionamento’

Segundo esta fonte, o debate pareceu, em alguns momentos, até mesmo uma discussão de relacionamento. “Teve gente trazendo coisas lá de trás, como quando o Campos Neto mudou o ‘guidance’ em Washington [em evento no FMI, antes do Copom de maio, que culminou com a divisão de 5 a 4 no placar] e apontando que, desde esse episódio, a comunicação veio piorando muito”, apontou.

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Apesar disso, a visão de uma alta da Selic na reunião de setembro ainda não é consensual entre os economistas. “Se não fossem os problemas da comunicação, a sensação é que o BC até poderia passar sem subir os juros. Houve quem defendesse que sequer vimos os efeitos da pausa dos juros na atividade econômica, já que vínhamos de um processo de afrouxamento”, afirma.

Outro profissional complementa, ao notar que houve umas correntes em relação ao rumo dos juros na reunião. Na primeira, estão aqueles que defendem que o status atual da política monetária seria suficiente para lidar com a atividade mais aquecida, enquanto o segundo grupo contemplou aqueles que advogam pela necessidade de uma elevação da taxa básica de juros.

Comunicação precisa melhorar

O ponto de consenso, porém, foi justamente a ideia de que a comunicação do Banco Central precisa melhorar.

Neste sentido, as recentes intervenções cambiais promovidas pela autoridade monetária também foram alvo de críticas, em particular o leilão extraordinário de contratos de swap cambial na última sexta-feira. “E isso casou com a leitura de que a comunicação está difícil e que não há clareza nas direções do BC”, disse outro economista presente na reunião.

Outra fonte que esteve na reunião afirmou que houve alguma coesão ao avaliar o leilão de dólares à vista anunciado na noite de quinta-feira como defensável.

“Mas a entrada com os swaps, logo na sequência da fala do Roberto Campos Neto na sexta-feira, complicou muito e foi deletério para a credibilidade que o BC está tentando construir. O Copom diz que não está defendendo um nível do câmbio, mas foi o que acabou parecendo. Durante a reunião, foram três ou quatro intervenções bastante negativas sobre o leilão de swap”, aponta uma fonte.

Riscos de inflação

Participantes do evento ainda alertaram que houve uma discussão extensa sobre a divergência no modelo de hiato do produto utilizado pelo Copom e pelos participantes do mercado, o que ajuda a explicar a projeção de inflação mais baixa da autoridade monetária.

Por fim, a avaliação geral dos economistas que participaram da reunião é de que os riscos para a inflação de 2025 estão inclinados para cima, por conta das pressões oriundas do câmbio, da inflação de alimentos e de energia.

A reunião foi conduzida pelos diretores de política econômica, Diogo Guillen e pelo diretor de assuntos internacionais, Paulo Picchetti. Segundo uma das fontes, os diretores, como de costume, não fizeram intervenções e apenas ouviram os participantes do evento.

Um dos economistas presentes afirmou que, pela linguagem corporal dos diretores, Picchetti pareceu mais surpreso com as críticas emitidas ao BC, enquanto Guillen apenas anotava os comentários.

Os encontros ocorrem semanalmente e são usados pela autoridade monetária para a confecção do Relatório de Inflação (RI).

Com informações do Valor Econômico

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