Com melhora da economia, cresce a demanda por viagens de intercâmbio
Setor busca superar a inédita marca de 500 mil participantes de programas
Fábio Fernandes é um profissional de seguros. Há anos, alimentava o sonho de fazer uma viagem de intercâmbio e aprimorar a fluência do idioma inglês para ampliar oportunidades na carreira. Em maio passado, tirou os planos da gaveta e foi para a África do Sul, num programa de quatro semanas.
Neste sentido, o caso ilustra a retomada das viagens de intercâmbio, um mercado que movimentou R$ 3,7 bilhões em 2022 no Brasil, superando pela primeira vez os níveis pré-pandemia.
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Com as barreiras sanitárias e os desafios econômicos que se sucederam, muitos interessados não tiveram escolha a não ser deixar para depois.
A Belta, entidade que representa as agências, estima que as vendas de pacotes para quem queira fazer viagem de intercâmbio cresceram entre 15% e 20% no primeiro semestre deste ano na comparação com um ano antes.
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Mantido esse ritmo, o setor deve superar em 2023 a inédita marca de 500 mil estudantes, após ter atingido 455 mil no ano passado, quando se recuperou da paralisação quase total em 2020-21.
Em 2019, o mercado havia movimentado 386 mil pacotes dos programas chamados de intercâmbio cultural.
“Por causa da pandemia e de condições financeiras eu tive que adiar”, disse Fernandes. “Se eu tivesse condições de ir antes, eu teria ido”, disse Fernandes.
Planejamento
Além da retomada de planos que estavam represados, o setor também se beneficia da demanda de um público menos vulnerável a ciclos econômicos.
Adicionalmente, o setor tem percebido interessados potenciais que estão se preparando mais cedo.
Segundo levantamento recente da Belta, uma em cada cinco famílias interessadas em intercâmbio planejam comprar o programa para 2025. Ou depois.
“Percebemos que esse público está se antecipando cada vez mais no planejamento”, disse a STB, uma das maiores agências do país.
A agência relatou aumento de 35% no volume de programas nos primeiros sete meses deste ano, ante a mesma etapa de 2022.
Esse número inclui a crescente demanda por cursos mais extensos, de valores maiores, como um ano de high school na Suíça, que não sai por menos de R$ 400 mil. Só o curso.
Preços
Por outro lado, dentre os pacotes mais simples para viagem de intercâmbio, um curso de quatro semanas no Canadá, por exemplo, ainda o destino mais procurado por brasileiros para aprendizado de inglês, sai a partir de US$ 2,5 mil em algumas agências.
Ou cerca de R$ 10 mil pelo câmbio atual. Esse valor pode ser parcelado em até 18 vezes, num pacote que inclui aulas e hospedagem.
Poré, em qualquer caso, o investimento total num programa pode facilmente dobrar em relação ao preço-base, quando se incluem passagens, alimentação e eventuais passeios.
No caso de Fernandes, o orçamento total foi de cerca de R$ 25 mil, inviável para públicos mais amplos.
Por isso, a recuperação até agora tem sido puxada por públicos de renda mais alta, dizem especialistas.
“O mercado está atendendo um público mais elitizado, que não sofreu tanto com a crise econômica”, disse Alexandre Argenta, presidente da Belta.
Ou por casos como o de Fernandes, que apenas adiou seu projeto, mas já vinha se preparando para isso.
Pop de novo?
A esperança de profissionais do setor de viagem de intercâmbio é de que, com a gradual estabilização da economia, famílias de menor renda voltem ao mercado.
“Anos atrás, chegamos a vender para cabelereiros e porteiros, que compravam programas para seus filhos, e vaquinha com ajuda da avó”, disse Celso Luiz Garcia, diretor da CI.
Além da crise sanitária provocada pela pandemia, a volatilidade econômica dela derivada nos últimos anos, incluindo inflação, juros altos e dólar alto, fulminaram a demanda nesses públicos.
O executivo disse que o movimento do mercado neste ano tem sido até melhor do que o que se esperava no final de 2022, refletindo a melhora do cenário.
Por outro lado, a queda do dólar nos últimos meses, porém, isoladamente, ajudou pouco na procura por viagens de intercâmbio, dizem os especialistas.
Por dois motivos principais: apesar da queda recente, a cotação do dólar ainda está cerca de 25% maior do que em 2019, quando fechou o ano cotado a R$ 4.
Além disso, a inflação nos próprios países de destino também encareceu os planos, mesmo em dólar.
“Há uma discrepância significativa de preços em relação ao que havia em 2019”, disse Garcia, da CI.
Na média, o preço médio de um programa de viagem de intercâmbio, incluindo aulas e hospedagem, exige um investimento médio acima de US$ 8 mil.
No final de 2019, essa média era de US$ 5.900.
A boa notícia é que com o alívio na inflação e a valorização do real nos últimos meses, as consultas sobre programas vêm crescendo, inclusive por parte de públicos que já tiveram experiências anteriores, dizem os profissionais do setor.
É o caso Fernandes.
“Agora, se eu tiver oportunidade, vou de novo”, afirmou ele.