Corretoras contratam jovens para atrair investidor com menos de 30 anos

Novos profissionais trazem clientes como amigos e familiares, deixam de lado as reuniões e resolvem quase tudo no WhatsApp

Rápida ascensão: Bernardo Yamane, de 27 anos, entrou no escritório de investimentos InvestSmart, ligado à XP, quando cursava Economia. Em pouco tempo virou assessor de contas de alta renda — Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo
Rápida ascensão: Bernardo Yamane, de 27 anos, entrou no escritório de investimentos InvestSmart, ligado à XP, quando cursava Economia. Em pouco tempo virou assessor de contas de alta renda — Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo

As corretoras miram em jovens investidores para manter o crescimento da indústria de investimentos pessoais no curto e no longo prazos. Entre as estratégias para alcançar quem ainda dá os primeiros passos na vida financeira está o recrutamento de assessores de investimentos igualmente jovens, que têm o mesmo estilo de vida do público-alvo e ainda uma boa agenda de contatos da mesma idade.

Gestoras e escritórios do ramo veem esses potenciais clientes como investidores do futuro. Não têm muito dinheiro agora, mas têm desejo de turbinar o patrimônio enquanto avançam em suas carreiras. Podem ser os ricos de amanhã.

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No contexto atual de alta de juros e fuga para a renda fixa, os jovens são os mais dispostos a correr riscos na Bolsa e em fundos de renda variável. Afinal, têm uma vida inteira pela frente para ganhar. Segundo dados da Bolsa de São Paulo, a B3, entre março de 2021 e o de 2022, 1,3 milhão de pessoas físicas entraram no mercado de capitais, sendo 46% deles na faixa de 25 a 39 anos.

O principal alvo das estratégias das corretoras são os que têm menos de 30 anos. Por isso estão formando e contratando mais assessores nessa faixa etária. Mais que diploma e cursos, interessam o linguajar descolado e a desenvoltura nas redes sociais, principal meio de contato com esse público, que não quer saber de reuniões ou longos telefonemas. Só se comunica por WhatsApp.

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Além dessas habilidades sociais, os jovens agentes trazem uma agenda de amigos e familiares para engordar as carteiras dos escritórios onde trabalham.

Amigos viram clientes

No InvestSmart, credenciado pela XP Investimentos e um dos maiores escritórios de finanças do Brasil, a proporção de assessores com menos de 30 anos subiu de 28% para 35% em quatro anos.

“Muito pelo crescimento do mercado, essa virou uma profissão inicial para muita gente. E os clientes mais jovens acabam vindo pelos jovens que começam a trabalhar com a gente”, conta Samyr Castro, CEO do InvestSmart.

O assessor de investimentos Bernardo Yamane, de 27 anos, ingressou no InvestSmart quando ainda cursava Economia. Cresceu rápido e hoje atende contas de alta renda.

“Agora tenho clientes de todas as idades, passando por pessoas da minha faixa etária até familiares de amigos e conhecidos”, conta Yamane.

O jogador de vôlei Gabriel Vaccari, de 25 anos, virou cliente da Ativa Investimentos a convite de um amigo. Luiz Henrique Moura, de 24 anos, também jogava vôlei, mas trocou as quadras pelo mercado financeiro.

Consciente de que a carreira de atleta é de curta duração, Vaccari queria aplicar seu dinheiro para ter recursos suficientes lá na frente para sua aposentadoria e para a educação da filha. A confiança no amigo ajudou na decisão.

“Já era amigo do Luiz e gosto de ele não centralizar a decisão de onde eu devo investir. Ele me passa as opções, mostra a razão, e eu escolho”, diz.

Luiz Henrique, que começou na Ativa em 2020 como estagiário, conta que a maioria dos clientes jovens é conquistada por meio de mensagens.

“Primeiro, falo por telefone só para entender o perfil de cada um e a estratégia que vamos adotar. Mas, no dia a dia, as comunicações costumam ser feitas por WhatsApp.”

Embora tenha 38 anos, a Ativa só focou nos jovens há dois. Além de contratar profissionais mais novos, a corretora adotou outras estratégias, como o redesenho de seu aplicativo para torná-lo mais dinâmico. Também adotou parcerias com influenciadores digitais e patrocina podcasts populares entre as gerações Y (millennials, nascidos entre 1980 e 1995) e Z (1997 a 2010).

“Estamos olhando para o futuro porque eles que vão se tornar os investidores qualificados. Por enquanto, só 20% dos nossos clientes estão abaixo dos 30 anos”, diz o diretor de Novos Negócios da Ativa, Fernando Rodrigues.

O Modalmais já tem uma maioria jovem entre seus clientes: 63% millennials e 11% da geração Z. Aposta na produção de conteúdo digital gratuito sobre investimentos e educação financeira. A ideia é que, a partir desse material disponível na internet, os jovens conheçam a marca, simpatizem e abram suas contas.

“Sempre tivemos a pegada de ensinar”, diz Patrícia Aiello, gerente comercial do Modalmais. “Dinheiro é confiança. Queremos acompanhar esse jovem até ele ter sua fortuna. Se a gente dá a mão agora, ele vai se lembrar no futuro.”

Apesar de poupar há cinco anos, foi na pandemia que o personal trainer Pedro Braga, de 27 anos, diz ter se tornado “arrojado”, acrescentando na carteira ações de elétricas e bancos, de olho nos dividendos, por meio do InvestSmart.

“Meu objetivo é a independência financeira. Não sei se é alcançável, mas quero uma renda para complementar meu salário antes da aposentadoria.”

Para Marcelo Flora, sócio do BTG Pactual, os jovens passaram a ter maior interesse no mercado de ações quando a Taxa Selic ficou em 2%, reduzindo o retorno da renda fixa. Ao notar que muitos tiveram a primeira experiência com o home broker (sistema que permite a negociação on-line de ações com um certo apelo gamer) nos últimos dois anos, o BTG lançou um novo produto: o Invest Flex, que permite negociar diversos ativos mesmo sem ter saldo em conta.

“Com base em outros ativos que tem conosco, damos um limite (de crédito) para que ele mantenha a posição dele, gerando alavancagem financeira”, explica Flora.

A Rico, que se tornou um braço da XP popular entre jovens, também aposta em conteúdos didáticos para a internet, com linguagem direta e simples. Rachel de Sá, de 32 anos, chefe de Economia da corretora, ainda faz vídeos em suas próprias redes sociais — só no Instagram são quase 20 mil seguidores — para tentar furar a bolha do mercado.

Mulheres também no alvo

Desde que ela se tornou uma das caras da Rico, há um ano, houve alta de 30% na abertura de contas por mulheres e de 40% por millennials. Apesar de mais equilibrado em relação às faixas etárias, o mercado financeiro ainda é bastante desigual no quesito gênero. De acordo com a B3, apenas 25% dos investidores em ações são mulheres.

Entre os motivos, Rachel aponta menores salários e menor exposição à educação financeira. Segundo ela, muitas jovens acham que não sabem o suficiente para “se darem ao luxo de investir”.

A profissional de relações públicas Vanessa Ferrari, de 25 anos, passou a juntar dinheiro quando começou a trabalhar, aos 18, mas só neste ano passou a investir por meio de uma corretora. O máximo que tinha feito antes era guardar recursos em conta digital, com rendimento de 100% do CDI.

“Investimento para mim era um tabu. Pensava: será que é para mim? Preciso de uma quantia grande?”, lembra Vanessa. “Conversando com amigos, descobri que meu dinheiro poderia render mais. Hoje, aplico em renda fixa e em alguns fundos. Com o tempo pretendo diversificar mais.”

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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