Congelar combustíveis jogará inflação para frente e trará incerteza, diz economista

André Braz, da FGV, avalia que medida pode embaralhar a estratégia de política monetária

O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Foto: Leo Pinheiro/Valor
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Foto: Leo Pinheiro/Valor

Congelar o preço do combustível jogará a inflação para frente, irá embaralhar a estratégia de política monetária e trará incerteza aos acionistas da Petrobras, afirma André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

Diante da escalada do preço do petróleo no mercado internacional, agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, o governo do presidente Bolsonaro quer que a Petrobras suspenda temporariamente os reajustes nos preços dos combustíveis. A medida seria mantida enquanto durasse o conflito no Leste Europeu.

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“Não apoio muito essas medidas porque no passado não funcionaram, só geraram ambiente de maior incerteza e obrigaram a transferir a inflação do presente para o futuro. Se isso acontecer, estaríamos devendo um reajuste que foi adiado. Isso complica expectativa de inflação, previsões e sobrecarrega a estratégia de política monetária”, afirma.

Braz argumenta que o momento é atípico, com grande volatilidade trazida pela guerra, mas a valorização recente do real talvez possa mitigar a magnitude desse ajuste. “É importante não sobrecarregar a Petrobras, uma empresa de economia mista, que também tem acionistas.”

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Segundo o economista, congelar qualquer reajuste sobre os combustíveis pode ter efeito futuro perverso sobre a economia. “Suponha que parte do aumento que deveria ser praticado neste ano seja jogado para o ano que vem. Isso vai comprometer a meta do ano que vem. A política monetária fica desalinhada. Vai aumentar juros para convergir na meta do ano que vem, quando haverá um impacto desse reajuste, o que faz com que a meta nunca seja batida.”

Braz observa que o reajuste da gasolina é mais visível no IPCA e no orçamento doméstico, enquanto um aumento do diesel impacta o preço do frete, de energia, se espalha para outros produtos e acaba contaminando a estrutura produtiva. A inflação não fica contida ao preço do combustível, portanto.

“Se esse aumento ficar mais para o fim do ano, terá reflexos para a inflação em 2023”, diz.

Diante do cenário atual, o economista revisou as projeções de inflação para este ano e o próximo. Para 2022, a projeção passou de 5,8% para 6,2%. Para 2023, passou de 4% para 4,2%

“Algumas medidas extremas podem ser necessárias em casos atípicos para mitigar esses impactos na economia. Mas uma estratégia não significa ausência de aumento. Algum aumento teríamos de dar, respeitando as leis de mercado”, afirma.

Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico

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