Como estão os salários em carreiras digitais
Demanda por profissionais da área vem aumentado e novo levantamento mostra quanto ganham desenvolvedores de softwares, product managers, UX designers e profissionais de dados e marketing digital
A transformação digital e o impacto da tecnologia nos negócios têm demandado cada vez mais profissionais das chamadas carreiras digitais. Um novo estudo, realizado pela startup de educação Tera, mapeou os salários das carreiras digitais hoje no Brasil e também apontou qual é a tendência para os empregos do futuro nessa área.
Mais da metade dos profissionais digitais ganham até R$ 6,6 mil, segundo o levantamento, que ouviu mais de duas mil pessoas que seguem carreiras digitais em áreas como product management (31% da amostra), UX design (14,2%), marketing digital (16,5%), dados (10,5%) e desenvolvimento de software (4,4%), além de profissionais desempregados ou que estão em transição de carreira para o mercado digital.
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De acordo com o levantamento, as carreiras digitais com os salários mais altos são product management e desenvolvimento de software – cerca de 50% dos profissionais que atuam nessas áreas apontam ganhar mais de R$ 10 mil por mês (veja quadro abaixo).
Em desenvolvimento de software, especificamente, 18,5% dizem receber mais de R$ 16,5 mil por mês. Na outra ponta, a menor média de salário fica com quem trabalha com marketing digital: 31,8% responderam ganhar até R$ 3,3 mil mensais.
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Quando se analisa o recorte apenas de professionais seniores, 100% dos executivos de product management, dados e UX design ganham mais de R$ 16,5 mil.
Mulheres e pessoas negras ainda são minoria em faixas salariais mais altas
Pessoas negras e mulheres brancas que trabalham com carreiras digitais continuam ganhando menos. Entre os que informaram ganhar mais de R$ 10 mil por mês, apenas 13% são pessoas negras (pretas e pardas), enquanto na faixa salarial de até R$ 3,3 mil esse perfil representa 39%.
Homens apresentam a média salarial mais frequente acima de R$ 16 mil (26%), e a maior concentração das mulheres está ganhando até R$ 3,3 mil (24,6%). O grupo que aparece em maior número na menor faixa salarial são mulheres negras.
Leonardo Herrera, CEO e fundador da Tera, diz perceber que nos últimos anos muitas empresas despertaram para a necessidade de diversidade em seus espaços. “É um movimento ainda lento, considerando o histórico de desigualdade e exclusão”, pontua. Para ele, para que essa transformação chegue mais rápido no mercado digital, as empresas precisam ir além da diversidade apenas no quadro de colaboradores, promovendo também inclusão. “Isso significa garantir que mulheres, pessoas negras e outros grupos historicamente menos representados tenham um espaço seguro e promissor para se desenvolver profissionalmente, com presença igualitária em todos os times da empresa e em todos os níveis hierárquicos.”
Para quem quer seguir uma carreira digital, Herrera recomenda quatro ações.
- O primeiro passo, ele diz, é entender como levar a sua bagagem para uma carreira digital, fazendo uma autoavaliação dos seus conhecimentos e do seu perfil profissional para entender em quais áreas o que você já sabe pode ser usado. “Vemos alguns profissionais com receio de investir em uma carreira digital por não querer colocar na gaveta diversas experiências e saberes adquiridos durante anos no mercado tradicional, mas a transição de carreira não é sobre isso”, afirma. “Pelo contrário, é sobre levar todas as habilidades técnicas, conhecimentos multidisciplinares e soft skills para um mercado mais aquecido e com mais oportunidades de atuação e impacto.”
- Depois, diz Herrera, é necessário perceber o contexto em que empresas digitais estão inseridas, no que isso muda o jogo no mundo dos negócios e, consequentemente, na atuação profissional nesse mercado. “A economia digital tem um ritmo diferente, muito mais dinâmico, já que acompanha de perto as intensas transformações tecnológicas e sociais. Metodologias como agilidade e design thinking e práticas como orientação a dados e autogestão são muito comuns nesses espaços justamente porque é impossível operar um negócio em um cenário tão complexo e com tantas variáveis e desafios sem abandonar algumas práticas do mercado tradicional.” O empreendedor continua dizendo que criar visão sobre como funcionam negócios digitais é essencial e profissionais podem fazer isso furando a bolha e trocando experiências em comunidades com tantos profissionais que já atuam no novo mercado.
- Mais um ponto é apostar no desenvolvimento de skills transversais. “É tão ou mais importante quanto desenvolver habilidades técnicas relacionadas a uma área específica como product management ou ciência de dados”, afirma. “Pensando em um futuro em que inteligência artificial e automação farão com que muitos cargos percam o sentido, o insubstituível e diferencial na nossa atuação profissional estará muito mais ligado a nossa humanidade. Isso envolve a forma como nos comunicamos e influenciamos pessoas, como usamos criatividade para resolver problemas e inovar, como usamos a tecnologia para criar soluções e até mesmo como conseguimos aprender por meio de diferentes estratégias.”
- Por fim, Herrera diz ser importante desenvolver uma mentalidade de adaptabilidade e desenvolvimento. “Novamente falando de mentalidade aqui, a de ‘lifelong learner’ é indispensável para quem quer começar nas carreiras digitais.” Isso porque uma das principais características do mercado digital, e da sociedade moderna como um todo, é a volatilidade, causando constantes mudanças. “Isso exige de nós, como profissionais, uma disposição consciente a continuar aprendendo e evoluindo para acompanhar tendências, novas tecnologias e novas formas de criar boas soluções no nosso dia a dia de trabalho.”
Carreiras do futuro na área de digital
O estudo da Tera mapeou também cinco carreiras do futuro na área de digital. Conheça cada uma delas:
Product managers
São profissionais responsáveis por definir diretrizes e acompanhar o cumprimento delas durante o processo de desenvolvimento de produtos. O papel de product manager é geralmente representado pela tríade de design, tecnologia e business.
Sete em cada dez profissionais de produtos digitais (69,6%) não começaram a carreira em funções relacionadas a essa área e 68,5% usaram bootcamps para chegar até o cargo atual. Os cargos mais frequentes são product manager e product owner. Entre as carreiras possíveis nesta área estão, além dessas duas, estão data product manager, group product manager, product marketing manager e product lead.
Para os participantes da pesquisa as habilidades mais importantes para o cargo são análise de dados e métricas (62,7%), priorização de entregas e atividades (53,8%) e capacidade de escalar produtos e processos (45,6%). Em relação às soft skills mais importantes para atuar na área, eles destacaram comunicação (18%), resiliência, tolerância ao stress e flexibilidade (13%) e liderança e influência (13%).
Digital marketers
Os profissionais de marketing digital precisam dominar ferramentas e canais, além de desenvolver estratégias essenciais como inbound, SEO, customer experience, marketing de conteúdo e growth. Segundo a pesquisa, mais da metade das pessoas (54,6%) diz ter começado a carreira já na área de marketing digital. As especialidades mais mencionadas são redes sociais (34,6%), produção de conteúdo (32,3%) e campanhas (22,3%).
Um terço dos participantes (33,5%) informou ganhar entre R$ 3,3 mil e R$ 6,6 mil. Já 31,8% afirmam receber até R$ 3,3 mil. Uma em cada cinco pessoas diz ter um salário de R$ 6,6 mil a R$ 10 mil.
Quatro em cada dez participantes da pesquisa (43,6%) destacam a mensuração e a análise de resultados como a principal habilidade para profissionais de marketing digital. Outras competências importantes são análise de negócios e cenários competitivos (28,9%) e conhecimento de diferentes canais (28,6%). Em relação às soft skills, se destacou criatividade, originalidade e iniciativa (19%), seguida por comunicação (16%) e mentalidade orientada a dados (14%).
Profissionais de dados
Na pesquisa, 58,6% dos participantes dizem que não começaram a carreira em funções ligadas a dados. Os cargos mais frequentes na amostra são analista de dados (29,3%), inteligência de mercado (10,5%) e cientista de dados (6,8%).
Entre as carreiras possíveis nessa área estão cientistas de dados, engenheiro de machine learning, analista de dados, arquiteto de dados, engenheiro de dados, especialista em MLOps (operações de machine learning), especialista em inteligência artificial e analista de business intelligence.
Um em cada três participantes informa ganhar de R$ 3,3 mil a R$ 6,6 mil. Para 20,9%, a faixa salarial varia de R$ 6,6 mil a R$ 10 mil.
A carreira exige principalmente as habilidades técnicas para análise de negócios (12,14%), análise exploratória de dados (11,59%) e métricas e KPIs (9,60%), segundo os participantes. Mentalidade orientada a dados foi a soft skill com maior destaque entre profissionais (19%), seguida de resolução de problemas complexos (17%) e comunicação (16%).
UX designers
É o profissional responsável pelo desenho da experiência de pessoas usuárias. Essa experiência não se restringe apenas à jornada em produtos digitais. Por englobar todos os aspectos da interação do usuário final com a empresa e seus produtos, ele é importante para todo e qualquer serviço.
Seis em cada dez participantes da pesquisa (62,9%) dizem que não começaram a carreira em funções relacionadas a UX design. Entre as carreiras possíveis, UX design, UX writing, UI design, visual design, UX/UI, service design, UX research e product design.
A faixa salarial mais frequente, informada por 38% dos participantes foi de R$ 3,3 mil a R$ 6,6 mil. Em seguida, 24,5% dizem ganhar de R$ 6,6 mil a R$ 9,9 mil.
Entre os entrevistados, 64,7% dizem que a pesquisa com usuários é a habilidade técnica mais importante para quem trabalha com UX design. Competências como arquitetura da informação (47,5%) e prototipação – de alta ou baixa fidelidade – (39,6%) também foram muito citadas. Entre as soft skills, a comunicação foi citada como importante (18%). Visão orientada para a pessoa usuária (17%) aparece com maior destaque em UX dentre todas as outras carreiras.
Profissionais de desenvolvimento de software
Na pesquisa, três em cada quatro participantes (76,1%) da área dizem que começaram a carreira em funções relacionadas a desenvolvimento de software. Mais de 40% das pessoas ocupam vagas sênior (especialista/líder técnico). O cargo mais citado foi desenvolvedor de software (Frontend, Backend, Fullstack).
Entre os entrevistados, 20% informam ganhar de R$ 3,3 mil a R$ 6,6 mil. A faixa salarial com mais participantes foi de R$ 10 mil a R$ 16,5 mil (32,5%). Já 13,8% afirmam receber de R$ 6,6 mil a R$ 10 mil.
Para desempenhar o cargo, os participantes da pesquisa contam que as habilidades técnicas mais usadas são lógica de programação (63,7%), padrões de projeto (34,5%) e compreender diferentes paradigmas e tipos de linguagem de programação (33,6%). Ter uma postura colaborativa se destaca como soft skill nessa carreira (19%) dentre todas as outras. Mais algumas competências importantes são resiliência, tolerância ao stress e flexibilidade (16%), resolução de problemas complexos (16%) e comunicação (16%).