Campos Neto: ‘Haddad eliminou o risco de a dívida sair do controle’
Presidente do Banco Central fez o afago ao ministro da Fazenda ao comentar a proposta do novo arcabouço fiscal
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez um afago ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante evento promovido pela “Folha de S. Paulo”. “O ministro Hadadd trabalhou muito duro em uma ambiente onde até mesmo membros do governo estavam contra, conforme a gente viu pela mídia, e eliminou o risco de a dívida sair do controle. Não cabe o BC comentar [o arcabouço fiscal].”
Conforme Campos Neto, “o importante é [nova regra fiscal] ser feito com credibilidade e essa credibilidade é onde abre espaço para o BC atuar”.
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Segundo ele, “o BC é encarregado da política monetária e a gente sempre diz que não tem relação mecânica entre o arcabouço em si e a política monetária, a relação está no canal de expectativa”.
Meta de inflação
Campos Neto também afirmou no evento que “quem decide a meta de inflação é o governo”. “Seria muito conflituoso se o BC determinasse a própria meta”, afirmou.
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Conforme o dirigente, “teve um momento em que vários senadores ligaram perguntando se eu apoiaria um projeto que dizia que a meta só podia mudar com autorização do BC, mas eu disse que não apoiaria um projeto assim”.
Para Campos Neto, “o Executivo foi eleito e tem direto de mudar a meta de inflação que achar melhor para o país”.
O presidente do BC, no entanto, fez uma ressalva sobre o momento de fazer esse tipo de movimento.
“Mudar a meta quando está tendo muito questionamento tem fator negativo. Mudança de meta pode ser interpretada pelos agentes financeiros como uma mudança para ganhar flexibilidade. Quando a mudança de meta na Argentina foi feita para ganhar flexibilidade, perdeu-se credibilidade e flexibilidade e a inflação disparou.”
Críticas de Lula
“O presidente [da República] tem direito de entrar no debate de taxas de juros e está acontecendo em vários países”, afirmou ainda Roberto Campos Neto, em resposta a questionamento sobre as críticas que a instituição vem sofrendo por parte do governo.
“Confesso que depois de ter subido os juros da forma como foi feito, para assegurar um processo inflacionário mais tranquilo e da mais estabilidade à economia no próximo mandato [presidencial], imaginei que isso fosse reconhecido”, pontuou.
Conforme Campos Neto, “fizemos uma subida de juros muito grande em ano de eleição com muitos questionamentos e agimos de forma autônoma”.
Campos Neto fez uma crítica “à personalização na figura do presidente do BC”. Para o dirigente, “a autonomia vai na direção contrária e os diretores do BC têm autonomia em relação ao presidente do BC”.
Segundo Campos Neto, “a personificação demonstra uma falta de entendimento do processo que foi instalado”.