Brasil ganha com decisão da Moody’s, mas sai de campo vaiado

Entenda mais sobre o enorme debate que ocorreu diante da decisão da agência de risco Moody´s de elevar a nota do Brasil

Foto do estádio do Corinthians em SP - Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão Conteúdo
Foto do estádio do Corinthians em SP - Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão Conteúdo

O assunto da semana na economia e nos mercados foi um só: a decisão da Moody’s de elevar a classificação de crédito do Brasil. Assim, o país ficou a um passo do paraíso. Leia-se: a um passo de obter o grau de investimento.

O que se seguiu, porém, não foi otimismo. Mas cautela em torno da ação da Moody’s e até certo pessimismo. Nesse sentido, o Brasil se fosse um técnico de futebol teria saído de campo vaiado mesmo com a vitória. Sim, foi o que ocorreu com Tite no domingo passado quando venceu em casa, mas foi criticado pela torcida. E depois demitido do Flamengo.

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A decisão da Moody’s

A agência de classificação de risco mudou para positiva a perspectiva do rating do Brasil. Foi a primeira manifestação desde 2018, quando a agência mudou a percepção do Brasil de negativa para estável. No comunicado emitido, a agência usou os seguintes argumentos: melhora na perspectiva de crescimento do país, também por conta da reforma tributária, e a transição energética proposta pelo governo com o objetivo de atrair investimentos privados.

Além disso, a agência ainda citou o arcabouço fiscal para a consolidação do fiscal, o que tem levado à redução gradual desse déficit fiscal.

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Fazenda comemora

O ministério da Fazenda celebrou. E em nota postada em seu site, afirmou: “A elevação da nota de crédito pela Moody’s reflete o reconhecimento dos avanços das contas públicas, de um cenário propício ao crescimento e da solidez dos fundamentos da economia brasileira”.

A impressão que ficou foi a de que o governo foi o único a comemorar.

Debate em torno da decisão da Moody’s

Economista-chefe do BTG Pactual, Manseuto Almeida se disse surpreso ao Valor Econômico. De acordo com ele, ainda não há clareza sobre quais medidas serão tomadas pelo governo para conter o avanço das despesas obrigatórias.

“Quando a gente olha a dinâmica da dívida daqui para frente, ela é pior hoje do que era no início do ano. Tínhamos metas de primário mais audaciosas, embora o mercado tivesse muita dúvida se o governo iria entregar a meta de primário zero”, comentou na entrevista que você pode conferir aqui.

Ato contínuo, outra agência de classificação de risco, a S&P Global Ratings informou ser difícil enxergar a possibilidade de sinalizar a melhora do rating brasileiro.

E na sexta-feira, no finalzinho da semana, o Itaú Unibanco emitiu relatório assinado por Mario Mesquita, economista-chefe da instituição e colunista da Inteligência Financeira. No relatório, o especialista ponderou que o governo precisa retomar o controle de despesas para dar sustentabilidade à trajetória do gasto público.

“Sem o controle de gastos obrigatórios, uma estratégia de ajuste fiscal com foco maior no aumento de receitas pode não ser capaz de produzir a confiança de que haverá uma consolidação fiscal sustentável”, escreveu o economista.

Afinal, foi gol de quem?

Diante do otimismo da Moody´s de um lado e do pessimismo na outra ponta, vale se debruçar sobre a análise da MB Associados. O relatório chamado Comentário Quinzenal de Conjuntura é assinado pelo economista-chefe da consultoria, Sergio Vale.

Primeiro, o relatório lembra que a última vez que o Brasil esteve nesta condição na Moody’s foi em agosto de 2007, portanto, 17 anos atrás. E as condições econômicas em 2006, o ano-base para a tomada de decisão, eram quase todas melhores do que as atuais.

Assim, de acordo com a MB Associados:

  • O PIB per capita em dólar cresceu pouco em quase 20 anos; saiu de US$ 16,3 mil para US$ 20 mil;
  • O crescimento econômico era maior em 2006, mas com a diferença populacional nos dois períodos não pode-se dizer que a diferença é tão grande;
  • A inflação em 2006 era baixa e abaixo da meta de 4,5%. Hoje, a meta é 3%, mas o país tem dificuldade de chegar a esse número.

“Os resultados fiscais são nosso ponto de stress. Tanto a dívida quanto as leituras de resultados primários e nominais mostram uma economia pior em 2023 do que em 2006”, descreve o relatório.

E conclui:

“Para atingir o investment grade, o governo terá que fazer mudanças efetivas na estrutura fiscal, como temos discutido em outros momentos neste espaço (o relatório). Sem isso, parte importante dos números positivos que se mostram agora na economia vão se perder, a começar pelo crescimento”.

Trocando em miúdos, o governo vai ter de continuar jogando o jogo para vencer, convencer e não ser vaiado pela arquibancada.

Com informações do Valor Econômico

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