Brasil é solução para os EUA e Trump está mais experiente, diz Alckmin

Em entrevista ao Valor, Alckmin, disse ver uma “avenida” de oportunidades em áreas como energia renovável, minerais críticos, infraestrutura e semicondutores

Alckmin: Nome do ex-governador ganhou força após dois empresários declinarem do convite; bom entrosamento com Lula e Mercadante pesam a favor — Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Alckmin: Nome do ex-governador ganhou força após dois empresários declinarem do convite; bom entrosamento com Lula e Mercadante pesam a favor — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

O Brasil é “solução” para os Estados Unidos em termos comerciais, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin.

O novo ocupante da Casa Branca disse em dezembro que o Brasil é um dos países que “cobram muito” dos Estados Unidos em termos comerciais.

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Para Alckmin, há uma “avenida” para fortalecimento do comércio entre as duas partes, em áreas como energia renovável, minerais críticos, infraestrutura e semicondutores.

Além disso, afirma que Trump está mais “experiente”, o que pode fazer inclusive com que o presidente eleito adote uma política migratória menos radical.

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Confira a entrevista:

Valor: Após a eleição de Trump, o senhor disse que o comércio entre Brasil e EUA tinha tudo para crescer. Por que acredita nisso?

Alckmin: O crescimento do fluxo de comércio entre as duas partes está batendo recorde.

No ano passado, ela chegou a quase 80 bilhões de dólares, e é superavitária para os Estados Unidos.

Nós compramos mais do que vendemos para lá. Somos solução para eles. Eles são o maior investidor do Brasil, é uma amizade que tem 200 anos.

Valor: Mas, em dezembro, Trump citou o Brasil como um dos países que “cobram muito” dos Estados Unidos. Isso não preocupa?

Alckmin: O Brasil não tem imposto de importação tão elevado. Os Estados Unidos vendem muito mais para nós do que nós vendemos para eles.

Então, na realidade, não há problema no Brasil. É uma balança comercial que cresce dos dois lados, e é importantíssima para nós porque é diversificada e de alto valor agregado.

Eu destacaria olhar para o futuro.

Temos oportunidades muito positivas em várias áreas de ponta para dar um salto de qualidade na relação comercial: inteligência artificial, energia renovável, minerais críticos, infraestrutura, tecnologia da informação, semicondutores.

Temos uma avenida de possibilidades de parceria. Cada um tem uma vantagem comparativa, e se faz um entendimento para os dois crescerem.

Valor: Mas o governo brasileiro pensa em alguma estratégia específica para lidar em termos comerciais com o governo Trump no segundo mandato?

Alckmin: Sim. O presidente Lula é um homem do diálogo. Aliás, já governou com o Partido Republicano nos Estados Unidos, com o Bush filho, e teve uma boa relação.

É preciso separar relações de Estado das questões partidárias. Então nós vamos trabalhar para fortalecer a relação.

Mundo se tornou mais protecionista, admite Alckmin

Valor: O senhor destacou a importância da “recomposição tarifária” para manter a competitividade da indústria nacional, afirmando que “o mundo se fecha”.

Isso não é negativo para o comércio mundial?

Alckmin: Você vive momentos, né? Depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma enorme globalização.

Depois da Covid, isso mudou um pouco porque, de repente, você não consegue fabricar o carro, se faltou uma peça, um chip.

Então, a globalização continua, mas tem um novo princípio da precaução. No mundo inteiro, há preocupação dos países em defender as suas empresas e os seus empregos.

Existem ciclos de mais abertura, de maior proteção. Nós somos muito cautelosos no sentido da questão tarifária.

Tanto é que, quando aumentamos o Imposto de Importação para salvar as empresas na área de siderurgia, fizemos uma cota.

Só aumentava o Imposto de Importação se as compras extrapolassem uma determinada cota.

No caso da indústria química, teve o Regime Especial da Indústria Química, para melhorar a competitividade. A gente em sido muito cauteloso.

Brasil quer ampliar comércio, diz Alckmin

Valor: Mas há temores sobre possíveis impactos indiretos do governo Trump sobre o comércio brasileiro?

Mesmo que ele não aumente tarifas para o Brasil, as tensões comerciais não poderão crescer?

Alckmin: Temos que aguardar a posse ver o que efetivamente vai ocorrer. Agora não há dúvidas de que houve uma mudança pós-Covid no mundo, no sentido de procurar fortalecer um pouco a indústria local.

Mas a disposição do Brasil é para o comércio.

Temos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, então 98% do comércio está fora do Brasil. Por isso, o comércio é fundamental.

Os países que mais crescem no mundo têm no comércio exterior uma força muito grande. Então, o presidente Lula avançou, a Bolívia entrou no Mercosul, o quinto país do bloco.

Fizemos acordo o Mercosul-Singapura, agora o acordo Mercosul-União Europeia, o maior do mundo, e estamos avançando no acordo com o Efta (área de livre comércio formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), que também é importante.

Vamos fechar até o fim do ano a entrada das importações no Portal Único de comércio.

Então, desburocratizar, facilitar, reduzir custo é o que estamos fazendo permanentemente.

E a reforma tributária ajudará muito, porque desonera totalmente a exportação.

Imigração ajuda no crescimento, defende vice-presidente

Valor: O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que, se os Estados Unidos brigarem com a China em termos comerciais, há espaço para o Brasil avançar no mercado chinês. O senhor concorda com essa avaliação?

Alckmin: Sim, no caso de alimentos em especial, porque a China precisa comprar.

O Brasil é hoje o grande protagonista nos três grandes temas planetários: segurança alimentar, segurança energética e clima.

E finalmente uma palavra sobre a questão migratória. A migração, muitas vezes, ajuda o país.

O Estado de São Paulo, que era pequeno dois séculos atrás, hoje tem um PIB do tamanho da Argentina.

A migração fez diferença. A presença migratória no Estado impulsionou a economia.

O presidente Trump é experiente, assume pela segunda vez, e a experiência faz diferença, ajuda.

Então, vamos aguardar, mas acho que nós teremos aí muitas oportunidades.

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