Benefício social leva mercado a manter projeção de alta do varejo em 2022
Isso se deve à expectativa de um aumento de renda disponível depois de agosto
Dias após a publicação dos dados do varejo de junho, na quarta-feira (17) passada, consultorias e economistas passaram a analisar a possibilidade de revisar as projeções do desempenho do setor para o ano. Na ocasião, as principais varejistas abertas ainda não tinham divulgado os balanços do segundo trimestre, documentos importantes para buscar possíveis sinais de deterioração das expectativas.
O mercado então decidiu manter, ao menos por enquanto, as atuais estimativas. Isso se deve à expectativa de um aumento de renda disponível depois de agosto, com a distribuição de benefícios assistenciais do governo, e às previsões de uma gradual desaceleração da inflação, como consequência da política de elevação da taxa Selic.
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Além disso, varejistas de alimentos acenaram ao mercado, nas teleconferências de resultados, estabilidade no nível de demanda no início do segundo semestre, sem sinal de desaceleração em relação ao período de abril a junho.
Segundo os dados do IBGE já publicados, o volume de vendas no varejo restrito (exclui automóveis e material de construção) apurou queda de 1,4% em junho, ante maio, na série com ajuste sazonal (em volume vendido). E em maio, ante abril, houve leve alta de 0,1%.
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Nesse ambiente, a área econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) confirmou a manutenção da expectativa de alta de 2% nas vendas do varejo brasileiro em 2022, prevista em julho.
No mês passado, a entidade revisou para cima a alta esperada para o setor no ano, de 1,7% para 2%, por conta da entrada de R$ 16,3 bilhões em recursos para o consumo, com a aprovação em julho da PEC dos benefícios. Os cálculos são da entidade.
Na mesma linha, a equipe de análise da XP publicou relatório em que entende que, embora as últimas divulgações mensais de vendas do setor tenham exibido um menor impulso no consumo de bens em maio e junho, não está prevista uma tendência de queda nas vendas totais do varejo brasileiro no curto prazo.
“A massa de renda real disponível às famílias deverá permanecer em patamares elevados nos próximos meses, tendo em vista os estímulos fiscais adicionais trazidos pela emenda EC 123/22 [do benefício social]”, diz em relatório Rodolfo Margato, economista da XP. Segundo cálculos dele, a renda real crescerá 5,7% neste ano e, considerando fatores de impacto “macro”, a projeção é que as vendas no varejo ampliado e restrito aumentarão 2,6% e 2,3% em 2022, respectivamente.
Para a área econômica da Rio Bravo Investimentos, já estava dentro das projeções do mercado uma certa perda de ritmo no consumo ainda no primeiro semestre, antes da entrada dos novos recursos do Auxílio Brasil na economia, de maneira que os agentes do mercado acabaram não revisando estimativas após a publicação da Pesquisa Mensal do Comércio/IBGE de junho.
Neste momento, projeções de entidades setoriais e de bancos variam de 1,7% a 2,5% em 2022.
Desempenho dos shoppings no início do terceiro trimestre
A divulgação de expectativas preliminares de vendas no início do terceiro trimestre pelas empresas de shoppings de capital aberto vem levando analistas a considerarem pouco provável uma desaceleração na demanda nos empreendimentos. Isso fica mais claro nos negócios de empresas com ação em bolsa do que nas companhias de capital fechado, que ainda estariam mais lentas na recuperação.
A BR Malls, por exemplo, relatou em seu material do segundo trimestre que o período de abril a junho confirmou a tendência positiva da retomada do indicador de vendas totais, com crescimento de 18,8% versus o mesmo período de 2019. E as prévias para o mês de julho apontavam para uma alta de 16,5% frente ao mesmo período de 2019.
“Com as empresas divulgando números preliminares para o desempenho de vendas de julho e os dados de inflação diminuindo, parece improvável que o consumo desacelere nos próximos meses”, escreveu a equipe de análise do Credit Suisse, liderada por Pedro Hajnal.
Especialistas da área e a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) destacam também que a Black Friday, que pode ser mais forte no varejo de lojas físicas do que nos últimos dois anos, e os jogos da Copa do Mundo podem ser benéficos. Para a Moda, o segundo semestre deve ser mais fraco
Apesar da projeção de mais eventos e circulação maior de consumidores na segunda metade de 2022 — que podem ser fatores positivos de alta na demanda —, no varejo de moda, as cadeias líderes têm preferido manter uma cautela nas estimativas. As redes citaram que vão manter a política de proteger o caixa e a rentabilidade, em vez de buscar simplesmente aumento de receita.
O comando da rede de lojas Marisa disse, dias atrás, que o foco da empresa está em rentabilizar mais as vendas físicas e digitais e proteger a geração de caixa operacional nos próximos meses.
A direção da C&A citou o foco em preservar caixa e elevar margem bruta nos próximos trimestres.
Além disso, Renner e C&A projetam um segundo semestre mais fraco, em termos de ritmo de crescimento, do que o primeiro semestre. Para a Renner, ainda há o efeito da inflação sobre a renda, mesmo com a desaceleração gradual esperada e o novo Auxílio Brasil. E não haverá o mesmo impacto verificado, de janeiro a junho, da demanda reprimida por itens de moda. O comando da C&A citou o aperto monetário e seus impactos posteriores ao projetar desaceleração na taxa de expansão das
vendas.