Análise: petróleo será variável chave para avaliar impacto global de conflito entre Rússia e Ucrânia

Investidores estão atentos se as sanções ocidentais podem interromper o fluxo de petróleo e gás natural da Rússia

(Foto: Zbynek Burival/Unsplash)
(Foto: Zbynek Burival/Unsplash)

Embora o risco geopolítico seja, tipicamente, de curta duração, tendo em vista que os ativos de risco tendem a se estabilizar logo após o início dos conflitos, o comportamento dos preços do petróleo pode ser um gatilho para um impacto macroeconômico mais amplo ou duradouro no mundo, avaliam os estrategistas do Citi. “Se as sanções ocidentais interromperem o fluxo de petróleo e gás natural da Rússia, o impacto global poderia ser mais pronunciado. A reação do Ocidente é, portanto, a chave para avaliar quando esse episódio de risco irá passar.”

Para os profissionais do Citi, se os mercados chegarem à conclusão de que nem o sistema Swift nem as exportações de energia da Rússia serão afetados, “os ativos de risco cairão rapidamente”. Caso contrário, a questão chave passa a ser se a alta dos preços do petróleo pode ser recessiva. “Embora os picos do petróleo sejam preditores ruins para recessão, é possível que um novo pico nos preços do óleo inverta a curva [de juros] dos EUA, que deve ser levada mais a sério como um indicador de recessão.”

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Nesse sentido, os estrategistas do banco americano apontam que a incerteza permanece alta e, assim, os juros de mercados emergentes serão influenciados por taxas mais baixas nos EUA, mas, também, por um petróleo mais alto e maior aversão a risco e câmbio mais fraco. “Como tal, apenas poucos mercados emergentes podem se beneficiar do atual voo para a segurança”, dizem os profissionais do Citi.

Para o chefe de economia e pesquisa do Julius Baer, Norbert Rücker, a crise na Ucrânia parece ter escalado para pontos de inflexão cruciais. “Isso leva a economia e os mercados à beira do pior cenário, onde a crise começa a se transformar em um choque econômico, não apenas um choque de sentimento”, apontou em relatório.

Na avaliação de Rücker, qualquer interrupção dos fluxos entre a Rússia e a Europa, devido a danos ou sanções, aumentaria drasticamente a escassez de oferta da commodity. “Situações como as de hoje envolvem muito barulho e incerteza, e as coisas podem mudar para diferentes tipos de novas dinâmicas. O Ocidente acompanhará a escalada com sanções máximas, apesar do pesado custo econômico que um novo aumento nos preços do petróleo acarreta? Como a China e a Índia se envolverão no conflito, já que também pagam grande parte dos custos econômicos? As nações donas de petróleo se curvarão à pressão do Ocidente e removerão todas as restrições de fornecimento para bombear mais petróleo? Veremos um acordo nuclear revivido e o Irã voltando ao mercado de petróleo como um importante exportador?”, destacou no texto.

Impacto no PIB global

Depois que o preço do petróleo superou a barreira de US$ 100 o barril hoje pela primeira vez desde 2014, na esteira do ataque militar da Rússia contra a Ucrânia, a questão é agora até onde a cotação pode subir.

O banco suíço UBS projeta que se o preço do barril atingir US$ 125 ou mais por dois trimestres, isso resultaria numa contração de 0,5 ponto percentual no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global e em maior inflação. E isso afetaria o poder de compra dos consumidores em todo lugar.

A avaliação é de que a decisão de Vladimir Putin de aumentar a confrontação militar sinaliza uma disposição de aceitar custos econômicos para a Rússia no curto prazo, em favor do que considera objetivos geopolíticos de longo prazo.

Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico

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