Paridade euro-dólar: moeda americana pode ficar ainda mais valorizada?
Entenda o que tem provocado a depreciação da divisa da zona do euro
Nos últimos meses o euro sofreu uma depreciação consistente em relação ao dólar, acumulando um recuo superior a 11% desde janeiro deste ano. Nas sessões recentes, a moeda da zona do euro caiu para o nível de paridade em relação à moeda americana, algo que não ocorria desde a criação da divisa, em 2002. Para a economista-chefe da Upon Global Capital, Nicole Kretzmann, tal relação, resultado de uma série de dinâmicas, deve se tornar o “novo normal” por algum tempo.
Kretzmann aponta que a paridade entre as moedas é resultado de uma “tempestade perfeita” de alguns fatores que exercem pressão negativa sobre o euro e de outros fatores mais relacionados aos Estados Unidos, que valorizam o dólar. No caso da Europa, “o ponto mais importante de todos é o possível racionamento de energia, principalmente na Alemanha e na Itália”. Como recorda a economista, esses países são mais dependentes do gás natural russo para a indústria e aquecimento. “O corte da oferta de gás os obrigaria a racionar energia e diminuir atividade –depreciando o euro via um pior diferencial de crescimento. Além disso, as perspectivas de crescimento para a região já estavam deterioradas desde a eclosão da guerra na Ucrânia.”
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Mas não é só esse impacto do problema de energia. Kretzmann salienta que o euro sofre pelo canal dos termos de troca. “A falta de gás faz com que aumente muito o preço dessa commodity, tornando as importações muito mais caras, o que também força uma depreciação da moeda.”
Ao lado isso ainda há a questão do aperto monetário pelo Banco Central Europeu (BCE). A economista aponta que o BCE passa por um dilema: “precisa subir juros para controlar a inflação, causada principalmente pelo aumento de energia e expansão fiscal durante a pandemia, mas não pode ajudar a empurrar a economia para uma recessão”. Como diz Kretzmann, essa menor liberdade de atuação diminui a taxa longa de juros projetada, o que diminui o diferencial de juros entre o euro e o dólar, e pressiona a cotação dessas moedas para ainda mais perto da paridade.
Se não bastam fatores do lado do euro para uma depreciação, na ponta do dólar também não faltam motivos para uma valorização. “Ainda que haja receio de uma recessão em um futuro próximo, os dados [econômicos] estão bem mais fortes, o mercado de trabalho segue firme e ainda há muito espaço para o Federal Reserve (Fed) subir juros”, diz a economista.
Além disso, ela lembra que, em tempos de incerteza e aversão a risco, o dólar funciona como a grande reserva de valor do mundo. “Ainda que a economia americana enfraqueça, os agentes econômicos fazem o “flight to safety” (fuga para o ativo de qualidade) – o que reforça a valorização da moeda em relação aos pares.”
Dito isso, como a projeção é que a crise energética na Europa deve se manter por alguns trimestres e o receio de recessão continuará, “o mais provável é que esse cenário de o euro rodando próximo da paridade ante o dólar deve ser o ‘novo normal’ por mais algum tempo.”