Dólar dispara, mas economista vê taxa de equilíbrio entre R$ 4 e R$ 4,40

Manutenção de moeda americana em atual patamar poderia, também, levar BC a subir juros

Notas da moeda norte-americana em primeiro plano. Foto: Getty Images
Notas da moeda norte-americana em primeiro plano. Foto: Getty Images

O alta contínua do dólar nas últimas semanas alçou a divisa norte-americana ao patamar de R$ 5,66 frente o real na última terça-feira. O pico, o maior desde de janeiro de 2022, está acima do consenso das previsões dos economistas do mercado financeiro, organizadas pelo Boletim Focus, que vê a moeda em R$ 5,20.

Nas contas do economista sênior da Julius Baer, Gabriel Fongaro, o dólar vem acumulando gordura frente ao real. “A gente faz as contas aqui e o patamar de equilíbrio para o dólar está entre R$ 4 e R$ 4,40”, afirma.

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A Julius Baer, casa suíça, é tida como a maior family office do mundo, com portfólio de cerca de US$ 500 bilhões. Para Gabriel Fongaro, em teoria, isso quer dizer que o real tem potencial de apreciação frente o dólar. Embora, na prática, isso não signifique uma queda do dólar nos próximos dias.

“Neste momento, a economia americana está forte. E o Brasil enfrenta uma problema de perspectivas. Existe um risco monetário e existe um risco fiscal importante. Essas questões estão embutidas nessa disparada do dólar”, conta.

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Dólar dispara, mas vai recuar?

Fongaro afirma que a moeda brasileira vem sendo penalizada pela trajetória da dívida interna brasileira. Isso porque o governo não conseguiu ainda sinalizar uma política de austeridade, que segundo o economista, é necessário.

“Para este ano, a gente projeta um déficit primário de 0,6% do PIB. O problema é para o ano que vem, que a gente visualiza um déficit de 1,5% do PIB”, conta.

Com uma regra mais frouxa no ano passado, o governo consegui postergar algumas receitas para o ano vigente e adiantou alguns gastos, o que deu certo alívio às contas neste momento.

“Mas para o ano que vem o governo não contará com esse expediente”, diz o economista, que também se preocupa com a sucessão do Banco Central, o tal risco monetário que ele levanta. “A gente não sabe o que esperar da nova direção do BC, que será indicada pelo governo”, diz.

Esse risco, de fato, entrou nas contas do mercado na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de abril, quando a autarquia optou por cortar a taxa de juros Selic em 0,25 ponto porcentual (p.p). Mas o comunicado evidenciou um racha no colegiado, com quatro votos a favor de um corte maior, de 0,50 p.p. A ala mais agressiva é composta por diretores conduzidos ao BC pelo atual governo.

“A decisão seguinte, unânime, de manter a taxa de juros em 10,50% restabeleceu um certo equilíbrio ao Banco Central. Mas o problema da sucessão está aí, para todos”, diz Fabiano Rios, da Absolute.

Juros vai subir?

Para além da sucessão, uma manutenção da taxa de câmbio em patamares acima de R$ 5,60 pode trazer impactos diretos já nas próximas reuniões do Copom.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz não acreditar na sustentabilidade da moeda americana em níveis tão altos quanto os atuais. No entanto, “se o câmbio ficar nesse patamar e não voltar, a inflação terminaria esse ano e ano que vem acima de 4%”, diz.

“Isso poderia levar o BC a ter que subir juros, sim. O problema é que isso levaria a mais ira do presidente (Lula) e, potencialmente, mais câmbio (alto) também”, aponta.

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