Cotação do dólar vai ficar em R$ 6? Selic e até soja podem frear avanço, dizem economistas

Economistas explicam fatores para 2025 que devem frear cotação do dólar acima de R$ 6, mas revisam projeções de câmbio por piora fiscal

Dólar fecha em maior patamar da história, próximo a R$ 6. Foto: Lisa Marie David/Reuters)
Dólar fecha em maior patamar da história, próximo a R$ 6. Foto: Lisa Marie David/Reuters)

A cotação do dólar dispara em 2024, apesar de o mais recente salto, que levou a moeda norte-americana a superar R$ 6,10, ter sido provocado pela divulgação de pacote de ajuste fiscal do governo. Enquanto a moeda americana se valoriza em 23% no ano contra o real, economistas dizem que o câmbio chegou a um patamar de desvalorização insustentável, e tem tendência de alta em 2025. Ou seja, o real tem chances de ganhar terreno.

Ao mesmo tempo, o consenso do mercado financeiro é do dólar deve encerrar 2024 próximo da cotação de R$ 5,80, acima do que o Boletim Focus aponta hoje. No C6 Bank, os economistas revisam a projeção para o dólar em 2024 com viés de alta. A gestora Armor Capital prevê o dólar encerrando na banda de valores entre R$ 5,80 a R$ 5,90.

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A piora no câmbio leva os mesmos agentes, inclusive, a reverem a Selic no pico do ciclo de alta.

Agronegócio e Selic ajudam a frear cotação do dólar mais alta

Desde quarta-feira, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi em rede nacional anunciar o pacote de ajuste fiscal e mais mudanças de Imposto de Renda, a cotação do dólar saltou 3,30%. Os dados são da Armor Capital.

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A desvalorização mediante ruídos do mercado com o pacote de Haddad levou o real a ter o pior desempenho entre 33 divisas líquidas analisadas pelo Valor Econômico.

Já contra o peso mexicano, principal referência do real entre pares emergentes, a moeda sofre deságio de mais de 4%.

MoedaVariação (USD) desde quarta-feiraVariação (USD) na semanaVariação (USD) em 2024
Real (BRL)-3,30%-3,21%-23,66%
Peso Mexicano (MXN)+1,30%0,00%-20,33%
Fontes: Armor Capital, Valor PRO e Yahoo Finance

Mas, para economistas, a depreciação do real contra o dólar hoje não é sustentável no curto e no médio prazo.

Ao mesmo tempo em que a cotação do dólar ganha força com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a iminente alta de juros no Brasil e o fluxo de commodities para os próximos meses podem frear e até diminuir a força do dólar.

Na análise de Alfredo Menezes, CEO da Armor, os últimos meses do ano são “difíceis” para o real. Isso porque o fluxo de saída de dividendos de multinacionais aumenta, assim como a procura pelo dólar.

“Grãos têm pouca exportação nessa época do ano”, comenta Menezes. “E ainda juntou com decepção do pacote fiscal. É uma conjunção de fatores que leva o dólar a se valorizar. Me parece que vai terminar (o ano) entre R$ 5,80 a R$5,90”, completa.

Mas o primeiro trimestre de 2025 traz uma melhora no fluxo de exportações de grãos, que “tende a melhorar muito”. Na contramão, a queda na fuga de capitais pode favorecer a cotação do real frente o dólar.

Assim, a divisa pode recuar para R$ 5,70 na primeira metade de 2025, na visão do gestor.

Reação do Banco Central é ‘chave’ para cotação do dólar

Nesse sentido, quanto maior a reação do Banco Central ao dólar e pressões inflacionárias, maior o alívio no câmbio, descreve Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

“Possivelmente, o BC deve reagir aumentando a Selic em 0,75 ponto percentual ou em 1 ponto (no próximo Copom)”, diz.

Gala comenta que o preço do dólar a R$ 6 é um gatilho direto para aumentar a inflação ainda em 2024. O economista projeta um IPCA terminal de 5% em 2024 e de 4,5% para o ano que vem.

“Dólar a R$ 6 é a posição mais desvalorizada do real na história, tanto nominal quanto real (descontando inflação). A tendência é que ele volte um pouco nas próximas semanas, mas ficamos a depender da reação do BC e medidas do governo ao arcabouço.”

O C6 Bank vai mudar a previsão para a cotação final do dólar R$ 5,50 para 2024. É o que aponta Cláudia Moreno, economista do banco.

“Também devemos revisar a Selic para cima”, afirma Cláudia. “Hoje nosso cenário é de uma taxa Selic que termina o ano em 11,75% e vai a 12,50% no ano que vem. Mas, na nossa, visão, o BC deve intensificar a alta dos juros.”

O movimento vai em linha com a visão de bancos internacionais, como JPMorgan e Barclays.

O que pode levar o dólar a subir ainda mais em 2024?

Não é segredo que o mercado reagiu mal ao anúncio do pacote de ajuste de gastos. Mas se o governo dobrar a aposta na isenção, a volatilidade da moeda pode disparar para além do valor de R$ 6.

O dólar, nesse sentido, deve ficar em patamar mais alto até que o mercado financeiro entenda que gastos do governo estão sobre controle, avalia Alvaro Marangoni, country manager da Warren Investimentos nos EUA.

“Segue nessa linha. Na nossa visão, se não fosse o barulho político, estaríamos com cotação do dólar mais perto de R$ 5,80. Enquanto o governo não se adequar, a volatilidade vai continuar alta”, afirma Marangoni.

O dólar perdeu força no pregão desta sexta-feira (29) após líderes do Congresso reagirem à medida de isenção de Imposto de Renda.

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