Direitos de Transmissão no futebol representam entre 30% e 80% da receita dos clubes

E isso vale para os times no Brasil e no exterior; em 2022, 40% do faturamento dos clubes da Série A vieram das transmissões

Na semana passada fizemos o lançamento do Relatório Convocados 23 em parceria com a Galapagos Capital e a Outfield, que traz dados sobre as finanças e o consumo do futebol brasileiro em 2022, e aborda o momento de investimentos pelo qual a indústria brasileira está sendo impactada desde a lei das SAFs.

A partir dessa coluna, abordarei alguns temas inseridos no relatório, de forma a reforçar a análise. O pontapé inicial será dado com uma avaliação sobre Direitos de Transmissão.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

Qual é a importância do Direito de Transmissão?

O Direito de Transmissão é a receita mais relevante do futebol, seja no Brasil ou em qualquer país. O dinheiro que vem da venda de direitos de transmissão de campeonatos representa entre 30% e 80% da receita dos clubes, dependendo do alcance da instituição.

Sendo assim, clubes globais, que acessam grandes receitas comerciais e com o chamado matchday – as receitas obtidas com venda de ingressos e tudo que acontece dentro do estádio em dia de jogos – dependem menos da TV.

De acordo com o estudo Deloitte Money League, na média dos 30 clubes de maiores receitas do futebol mundial, os direitos de transmissão representaram 44% na temporada 21/22. Mesmo o clube que teve o maior faturamento recorrente da temporada, o Manchester City, essa receita representou 40% do total.

Portanto, quanto mais avançamos no ranking de receitas, maior a relevância dos direitos de transmissão. Ou seja: chega-se ao ponto do 20º clube na lista, o Newcastle, gerar 70% de suas receitas a partir dos direitos de transmissão, ou o Milan, em 17º da lista, atingir 55% das receitas via transmissão de suas partidas.

Em contrapartida, no Brasil esse número segue relevante. Em 2022, a média dos clubes da Série A foi de 40% das receitas, número pouco inferior aos 42% de 2019, último ano pré-pandemia. Importante explicar a composição desses números. Tanto na Europa quanto no Brasil esses valores correspondem a todas as competições. Falamos de Estaduais, Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores, Sulamericana, Copa do Nordeste. Inclui valores fixos e valores por performance, assim como pay-per-view.

Contudo, a análise ideal deveria considerar os impactos por competição, ajustar a diferença obtida através de performance, mas nem todos os clubes detalham da forma ideal. Portanto, vimos sempre sob a ótica geral.

Dependência do dinheiro das transmissões

Já no Brasil também vemos uma distinção de dependência do dinheiro das transmissões conforme o porte de clube, mas também conforme o desempenho (vide gráfico abaixo). Cada vez mais o dinheiro que vem das transmissões está associado à performance esportiva, e este é um ponto que tratarei na sequência.

O problema da sazonalidade

Um dos aspectos que estrangula a gestão dos clubes brasileiros é a sazonalidade. Isso porque o primeiro semestre é o momento de formação de elenco, com mais gastos nas contratações, mas também o de menores receitas. Com quase 4 meses de pré-temporada e Estaduais, os clubes costumam operar com déficit de caixa estrutural.

Para piorar, o Campeonato Brasileiro tem parcela importante referente à performance e paga no final da competição, asism como a parcela de exposição. Temos também as copas, que pagam conforme evolução, e tudo isso depende sempre da performance.

Isso representa um incentivo perverso. Pois bem, clubes gastam além do que podem para buscar receita no final da temporada, mas isso leva muitas vezes a operar com déficit de caixa, que os obriga a antecipar cotas e recebíveis, e isso vira uma bola de neve.

Quando conquista, o dinheiro no final do ano alivia a situação, mas quando o resultado esportivo não vem, o problema é certo.

Portanto, aqui há dois pontos importantes: alongar o Brasileiro para que os recebimentos sejam feitos mais cedo – tirando São Paulo e Rio de Janeiro, a maioria dos Estaduais gera poucas receitas de transmissão – e reduzir a parcela de performance.

Premiar a performance

A questão é simples: premiamos a competição ou o competidor? O vencedor atrai mais audiência? Se sim, a parcela de exposição resolve. Se não, premiar a performance em demasia aumenta o risco de os clubes errarem, pois apenas um vence. Vale para o Brasileiro, mas também para a premiação da Copa do Brasil. Seria mais saudável aumentar a premiação das fases iniciais, irrigando os clubes de menor acesso a receitas, e valorizando a participação na competição, e reduzir o prêmio aos finalistas. Aliás, o finalista tem dupla premiação: um bom valor em dinheiro e a vaga na Libertadores do ano seguinte.

Outro aspecto que temos ouvido falar é sobre a negociação de direitos internacionais. Por mais que o trabalho feito até o momento tenha gerado poucos frutos, é preciso lembrar que esta é uma construção de longo prazo. Nenhuma liga conseguiu valores elevados nas primeiras temporadas negociadas fora dos seus países.

Aliás, este é um ponto interessante: conversando com alguns profissionais do setor na Europa, todos dizem que em países onde a liga nacional é muito forte, as demais são apenas componentes de grade. A audiência costuma ser baixa, e não faz sentido pagar valores elevados pela transmissão. Mesmo em relação a ligas grandes, como Premier League e LaLiga.

Ainda assim, essas duas ligas conseguiram bons resultados nas vendas internacionais, como veremos no quadro abaixo. Mas se tomarmos as maiores ligas europeias, é uma realidade exclusiva dessas duas. Em geral, a venda de direitos internacionais rende substancialmente menos que os direitos locais, o que indica que o trabalho de vender o Brasileirão fora do país e para além de brasileiros, é desafiador.

Futebol é um ativo importante

Não faz nenhum sentido sonhar com valores elevados quando a grade dos países que pagam por direitos está ocupada por ligas mais tradicionais e com maior destaque técnico.

A briga por espaço é grande, e é preciso oferecer um bom produto, no local e horários certos, para um público mapeado corretamente, e com a expectativa de crescimento justa.

Precisamos avaliar o tema com atenção. O futebol seguirá sendo um ativo importante para quem transmite.

Além disso, o Brasil tem um mercado interno relevante, e a expansão internacional é uma maratona, e não será vencida com a expectativa de cumpri-la em menos de 10 segundos.

Antes de sonharmos em dominar o mundo, é preciso pensar e avaliar melhorias na estrutura interna. Há muito a fazer.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


VER MAIS NOTÍCIAS