‘Correlação do Ibovespa com S&P 500 é alta e índice americano pode cair’, diz estrategista do Santander

Para Aline de Souza Cardoso, a performance dos índices de Nova York pode retardar uma esperada recuperação do mercado doméstico

Foto: Pixabay
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O Ibovespa pode até estar barato, mas o mau desempenho do mercado americano é um risco para sua esperada recuperação – especialmente se o S&P 500, principal índice de Wall Street, continuar ladeira abaixo. Essa é a opinião de Aline de Souza Cardoso, estrategista institucional de ações para Brasil do Santander.

Em relatório adiantado ao Valor, ela conclui que, mesmo com o avanço da taxa de juros real e uma possível revisão de lucros das empresas locais, o índice segue negociando em níveis historicamente baixos, para além das exportadoras de commodities. No entanto, a performance dos índices de Nova York pode vir a retardar uma esperada recuperação do mercado doméstico.

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“A correlação do Ibovespa com o S&P 500 é bastante alta e considero que o índice americano ainda tem bastante espaço para cair. O tombo visto até aqui, segundo nossos cálculos, só foi suficiente para precificar a abertura do juro real. Partindo do princípio de que os lucros das empresas americanas recuaram em média 28% nas últimas recessões, o S&P justo pode estar mais próximo dos 3 mil pontos [fechou ontem em 3.821 pontos]”, disse a executiva ao Valor.

Ao utilizar estimativas de ERP (prêmio de risco das ações, da sigla em inglês, que subtrai do lucro o juro real de dez anos e a inflação de longo prazo), a estrategista diz que o referencial americano ainda negocia dentro da sua média histórica. Mais do que isso, sua análise indica que, no pior cenário, em que as taxas reais de longo prazo aumentam em 1,5 ponto percentual e os lucros das empresas caem 30% em 2023, o S&P deveria recuar 38%, para cerca de 2.200 pontos, de forma a preservar o ERP médio dos últimos dez anos, mostra o relatório.

Em termos de Ibovespa, ela se debruça ainda sobre dois outros pontos de preocupação dos clientes da casa, chegando às seguintes conclusões: os ativos locais estão baratos mesmo se o “valuation” (avaliação dos ativos) for ajustado pelo aumento de taxas de juros de longo prazo; e o Brasil não está barato somente por conta do desconto nas ações de commodities.

Para analistas do mercado financeiro, a premissa de que o Ibovespa está “barato” parte do cálculo do seu P/L (preço sobre lucro). Em junho, o índice chegou a negociar com P/L, segundo a Bloomberg, no patamar de 6,5, contra média histórica de 11,6. Trata-se do menor valor registrado nos últimos dez anos. Mesmo assim, investidores temem que o avanço dos juros de longo prazo corroa essa margem, juntamente com uma revisão nos lucros das empresas por conta de uma possível recessão.

Segundo a estrategista, no entanto, a tese é descartada com a utilização de estimativas de ERP. “Nossa análise sugere que mesmo que as taxas reais de longo prazo aumentem em 1 ponto percentual e, simultaneamente, os lucros caiam 30% em 2023 em relação aos níveis de 2022, o Ibovespa ainda estaria sendo negociado acima do seu ERP médio dos últimos dez anos”, diz, fazendo a ressalva de que, apesar da curva já precificar muitos “desaforos”, uma abertura maior dela diminuiria ainda mais a atratividade da renda variável em relação à renda fixa.

A estrategista nota que o mercado parece precificar um cenário parecido com o de 2015, quando o juro real chegou a 7,7%. E, mesmo que isso ocorra, os lucros das empresas precisam ceder mais que 25% para que o ERP, que é inversamente proporcional ao P/L, fique abaixo da média histórica de 0,3% (hoje é de 6,3%). Ela estima que algumas revisões de lucro até devem ocorrer no ano que vem, principalmente em setores como varejo e educação, que podem não conseguir repassar todos os reajustes ao consumidor final.

Em relação ao impacto dos setores da bolsa local na precificação do índice, a analista também utiliza o ERP estimado para inferir que há outros segmentos descontados para além das commodities.

“As empresas exportadoras de matéria-prima estão vendo seus produtos serem negociados em níveis historicamente elevados, o que faz com as próprias companhias fiquem mais baratas. Mas, mesmo quando olhamos para empresas cíclicas domésticas, com ou sem bancos, vemos papéis negociando abaixo do seu valuation histórico dos últimos quatro anos”, afirma.

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