Capital estrangeiro na Bolsa é pontual e investidor deve ter cautela com ações brasileiras, diz Marcelo Sá, estrategista-chefe do Itaú BBA

O cenário de inflação e juros altos ainda favorece estratégias de investimento mais defensivas

Fundos quantitativos, como o Medallion de Jim Simons, se destacam por sua capacidade de minimizar os vieses comportamentais que frequentemente afetam os gestores tradicionais
Fundos quantitativos, como o Medallion de Jim Simons, se destacam por sua capacidade de minimizar os vieses comportamentais que frequentemente afetam os gestores tradicionais

Os mais de R$ 32 bilhões de recursos estrangeiros que entraram no mercado secundário da B3 em janeiro destoaram de modo expressivo da média recente e não devem se repetir com tamanha intensidade nos próximos meses. Assim, em meio a um cenário macroeconômico bastante frágil e a uma dinâmica de resgates enfrentada pelos fundos locais, a postura do Itaú BBA ainda é de cautela com as ações brasileiras em 2022.

“O primeiro movimento de alta deste ano foi técnico e explicado pelo fluxo estrangeiro. A parte fundamentalista não melhorou para justificar o otimismo. Do lado fiscal houve a boa notícia do superávit, mas as perspectivas futuras são mais preocupantes, especialmente as relacionadas aos cortes de impostos”, afirma o estrategista-chefe do Itaú BBA, Marcelo Sá.

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A estimativa da instituição para o Ibovespa no fim do ano é de 115 mil pontos, o que representaria uma alta de aproximadamente 3% em relação aos níveis atuais. O estrategista, contudo, pondera que a recente melhora nos preços das commodities traz um risco de alta para o preço-alvo do Itaú BBA para a principal referência da bolsa, mas o cenário de inflação e juros altos ainda favorece estratégias mais defensivas, especialmente em relação a fatores ligados a liquidez.

“Existe um acúmulo de resgates que já foram pedidos, que não conhecemos o estoque e que devem se concretizar nesses próximos meses. Por isso, nossa recomendação para os investidores tem sido a de não ter small caps”, afirma Sá, em conversa com o Valor. Ele explica que as ações de menor liquidez sofrem mais com a dinâmica de resgates de fundos, fato que pode ser constatado nos últimos meses na bolsa.

“A melhor forma de se posicionar é ter ações mais líquidas, por conta dessas incertezas. Ao que me parece, a dinâmica [de fluxo estrangeiro contra resgates dos fundos locais] vai ditar os rumos da bolsa. Podemos continuar tendo fluxos externos positivos, mas a magnitude de janeiro me mais um ‘one-off’ [evento único]”, afirma Sá.

Neste contexto, a carteira de ações recomendadas pelo Itaú BBA oferece exposição ao crescimento global, por meio de commodities, e busca proteção contra o ciclo de aperto monetário local via exposição ao setor financeiro.

Além disso, participam da seleção companhias que possuem receitas em dólares, em uma estratégia de defesa contra a volatilidade do real em um ano de eleições no país, e companhias do setor elétrico, que possuem preços descontados e ainda não refletem a melhora da pluviometria observada nos últimos meses.

A carteira é composta por dez empresas e inclui as ações do Banco do Brasil, BTG Pactual, Eletrobras, Energisa, JBS, Petrobras, Suzano, Usiminas, Vale e WEG.

Chama a atenção a presença de três companhias estatais — Eletrobras, Banco do Brasil e Petrobras — na carteira do BBA, mesmo em um ano de eleição. “A gente acha que o ‘valuation’ está muito descontado atualmente, na comparação com pares privados e globais. A razão disso é que o mercado precifica um risco político ou interferência muito forte nas companhias, e, qualquer cenário em diferente disso, deve haver uma reprecificação”, explica o estrategista.

O cenário doméstico, no entanto, segue demandando cautela. A equipe econômica do BBA espera uma taxa Selic de 11,75% no fim do ciclo e uma queda de Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 0,5% em 2022.

“Achamos que é melhor ter exposição ao crescimento global do que ao crescimento doméstico, porque temos uma visão bem negativa para o mercado local em 2022. Em termos de alocação, por exemplo, não temos nenhuma empresa de varejo na carteira e não achamos que faz sentido ter agora. A dinâmica dos resultados ainda vai ser muito ruim para o setor, com pressão de margens, vendas piores e pressão de custos”, afirma Sá.
Ele cita como exemplo as ações do Magazine Luiza, que, mesmo após uma queda de 75% no preço das ações, ainda possuem múltiplos bastante elevados, ao se considerar a relação entre preço e lucro da companhia (P/L). “Ela continua cara nesse tipo de múltiplo. Ela não é uma ação que eu tenho confiança de comprar. Muitas ações de crescimento, hoje, não fazem sentido quando você utiliza métricas de ‘valuation’ tradicionais”, pontua.

Assim, uma ação mantida na carteira foi a do BTG, que, segundo o estrategista, tem características de crescimento, mas possui múltiplos considerados mais razoáveis. “No momento, eu não teria ação de uma empresa que não tem lucro ou que você precisa assumir uma reversão muito grande de resultado no futuro para aquilo fazer sentido algum dia”, afirma.

As apostas em empresas mais ligadas ao crescimento doméstico ou a teses de tecnologia, de acordo com Sá, podem começar a ganhar força mais para o fim do segundo trimestre, quando a inflação der sinais mais contundentes de arrefecimento.

e eu acredito que a balança é muito mais favorável para as ações de ‘value’ nos próximos meses. Quando a inflação começar a recuar e você tiver uma noção melhor de que nível vai ficar a Selic ou quando ela vai começar a cair, aí, talvez, faça sentido mudar a mão e apostar em ações mais ligadas ao mercado doméstico ou a teses de crescimento. Mas, hoje, commodities, bancos e utilities me parecem fazer mais sentido”, conclui.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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