Agenda da semana: Mercado aguarda a Super Quarta e arcabouço fiscal em meio à crise de confiança instaurada

Mais aguardado que as reuniões de juros, o novo arcabouço fiscal deverá ser revelado nesta semana, antes da viagem de Lula à China e Emirados Árabes

Telão durante pregão da Bolsa de NY (NYSE) mostra discurso de Jerome Powell, presidente do Fed. Foto: Reuters/Andrew Kelly
Telão durante pregão da Bolsa de NY (NYSE) mostra discurso de Jerome Powell, presidente do Fed. Foto: Reuters/Andrew Kelly

A semana que entra terá uma agenda cheia de eventos e indicadores importantes, que parecem perder um pouco do brilho diante dessa crise de confiança instaurada nos mercados globais nos últimos dias.

Entre os principais destaques da semana, as decisões das taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos, na quarta-feira (22), e finalmente a apresentação do novo arcabouço fiscal brasileiro, prometido pelo presidente Lula para acontecer ainda nesta semana, antes de sua viagem para China.

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As decisões de Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) e do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) estavam, antes da última semana, precificadas pelo mercado que seria mantida no Brasil e que avançaria 0,25 ponto percentual nos EUA.

A crise dos bancos, no entanto, mudou a percepção dos agentes. Nos EUA, o aumento de 0,25 ponto na quarta-feira não é mais a única aposta. Assim como foi na reunião do Banco Central Europeu (BCE) na última quinta, agentes apostam na manutenção da taxa para evitar novas crises bancárias.

O BCE, no entanto, pagou para ver e elevou em meio ponto suas taxa de juros, para 3%. No entanto, a entidade dirigida por Christine Lagarde havia demorado tempo demasiado para iniciar o ciclo de aumento, deixando a inflação atingir níveis recordes no velho continente.

Copom

Se o Banco Central não sinalizar um corte na taxa de juros na reunião seguinte, o “caos pode se instalar no mercado”, avalia o economista André Perfeito.

Ele acredita que o BC sinalizará uma queda para o futuro próximo, ainda que mantenha a taxa nos atuais 13,75% na próxima reunião.

O Itaú avalia que o banco central deve manter a taxa em 13,75% na próxima reunião, “a fim de assegurar a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária”, afirma o banco em comunicado.

“O Copom deve reforçar a sinalização de manutenção da postura vigilante da política monetária, a fim de perseverar no processo de desinflação até que a convergência às metas e ancoragem das expectativas sejam alcançadas”, completa a instituição.

Nesse contexto macro desfavorável, o Copom “ganha novo argumento técnico para defender a redução da taxa de juros”, avalia Antonio van Moorsel, estrategista-chefe e sócio da Acqua Vero. “Ao mesmo tempo, é possível atender ao desejo do governo sem que se possa dizer que o Banco Central se dobrou às pressões políticas”, completa o analista.

Para Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, a Selic deve seguir em 13,75%, assim como o consenso. “Mas se a decisão não parece ser um tema de debate, a dúvida fica por conta do comunicado do BC”, reforçou.

A semana que passou

Na semana que passou, os mercados brasileiros – e exteriores também – apanharam feio diante de duas crises bancárias que elevaram a desconfiança dos investidores no sistema e gerou risco sistêmico na rede.

A quebra do SVB e do Signature Bank, na sexta-feira anterior (10) fez o Federal Reserve, o FDIC e a Secretaria do Tesouro dos EUA emitirem uma nota no domingo (12), dizendo que garantiriam o dinheiro dos depositantes e que o sistema bancário do país era forte.

Esse foi o tom do início da semana, de desconfiança. Quando parecia melhorar, eis que o Credit Suisse voltou a jogar lenha na fogueira, com risco de quebra por má gestão nos últimos anos, derrubando suas ações, as bolsas europeias, e consequentemente, de todo o globo.

Novamente, o banco central da Suíça precisou garantir liquidez ao banco e os mercados deram uma aliviada. Na sexta, no entanto, o clima voltou a pesar e os principais índices do mundo fecharam no negativo. O Ibovespa, inclusive, fechou no menor nível desde 27 de julho, oito meses atrás.

No acumulado da semana, após muitos altos e baixos, as ações do Credit Suisse perderam 25,6% de valor na bolsa de Zurique, negociando a 1,86 francos suíços.

O Ibovespa acumulou perdas de 1,43%, enquanto o dólar avançou 1,34% no período, com muita oscilação nos últimos cinco dias.

A crise também derrubou o petróleo. O Brent – utilizado como referência de preço para a Petrobras – fechou em queda acumulada de 12,45% na semana, negociado a US$ 72,97 o barril.

Bitcoin

Não foi todo mundo que chorou na semana de crise dos mercados, os investidores na criptomoeda viram o Bitcoin (BTC) encerrar a semana com valorização de 33% e cotação recorde no ano, em US$ 26.940. Em reais, 1 BTC vale R$ 142.324,48.

O ether (ETH) seguiu o BTC e fechou a semana com alta de 22%, a US$ 1.800.

Lula na China

O presidente Lula viajará para a China no 24 e retornará no dia 31 de março. Ele prometeu aos interlocutores que apresentará o texto do arcabouço fiscal antes de sua viagem ao gigante asiático e maior parceiro comercial do Brasil.

A expectativa do governo é pela assinatura de 30 acordos comerciais entre os países. Na capital chinesa, Pequim, Lula se reunirá com o presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro, Li Qiang, além do presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji.

Segundo comunicado do governo, serão tratados temas como comércio, investimentos, reindustrialização, transição energética, mudança climática, paz e segurança.

Lula vai atrás dos investimentos. O governo que viabilizar dinheiro para as áreas de energia renovável, infraestrutura e setores manufatureiros. Além de acordos de cooperação em temas como satélites e tecnologia 5G.

Ainda durante sua visita de Estado ao país, a terceira em sua história (as outras foram em 2004 e 2009), Lula irá a Xangai, onde participará de eventos e visitará a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado banco dos Brics.

Presente na comitiva, a ex-presidente Dilma Rousseff deverá ser indicada à presidência do NBD.

A delegação que vai à China terá mais de 200 pessoas, entre membros do governo e da iniciativa privada. Estarão presentes os ministros Fernando Haddad, Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Nísia Trindade (Saúde), o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o assessor especial de Lula, Celso Amorim, e o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana.

Emirados Árabes

O presidente deverá visitar os Emirados Árabes durante sua volta da China. O convite partiu das autoridades locais e foi aceito, devendo permanecer entre os dias 31 de março e 2 de abril nos emirados Abu Dhabi e Dubai.

PNAD e desemprego no Brasil

A taxa de desemprego no Brasil aumentou de 7,9% para 8,4% no trimestre móvel encerrado em janeiro. O resultado veio acima do consenso, que apontava para 7,9%. Foi a primeira alta no desemprego em 10 meses. No entanto, o patamar de janeiro é o menor para o período desde 2015.

A força de trabalho (PEA) chegou a 107 milhões de pessoas, estabilidade quando comparada ao mês anterior. O dado vinha de 4 quedas consecutiva e a população ocupada, em termos dessazonalizados, ficou em 98,2 milhões, também estável em relação ao mês anterior.

“O resultado de hoje veio um pouco pior que o esperado, mas quando olhamos o quadro geral do mercado de trabalho, ele segue praticamente inalterado, com indícios de perda de fôlego, mas mantendo uma abertura bastante robusta. Isso é reflexo do desempenho defasado da atividade econômica no quarto trimestre de 2022”, afirmou João Savignon, Head de macroecnonmia da Kínitro Capital.

Segundo ele, espera-se que o mercado de trabalho continue apresentando moderação ao longo dos próximos meses, com gradual aumento da taxa de desemprego, em linha com a desaceleração esperada da atividade e a manutenção das condições monetárias apertadas.

Agenda da semana

Segunda, 20

No Brasil, o Banco Central divulga o Boletim Focus às 8h25.

União Europeia divulga sua balança comercial de janeiro, às 7h.

Alemanha reporta seu índice de preços ao produtor (IPP) de fevereiro e acumulado de 12 meses, com projeção de queda de 1,6% no mês e avanço de 16,4% nos últimos 12 meses. 

México divulga indicador de vendas no varejo de janeiro, com projeção de alta de 3,2% no acumulado dos últimos 12 meses.

À noite tem balança comercial da Nova Zelândia.

Terça, 21

Feriados no Japão (Equinócio da Primavera) e na África do Sul (Dia dos Direitos Humanos)

Alemanha tem inflação ao consumidor (IPC) de março e de 12 meses, com projeção de avanço de 0,8% em março e 8,8% nos 12 meses acumulados.

No Reino Unido, pela madrugada, serão divulgados os dados de licenciamento de veículos de fevereiro e do ano,  além da dívida líquida do setor público de fevereiro.

Itália, Alemanha e França também reportam seus dados de licenciamentos de veículos.

Suíça divulga sua balança comercial de fevereiro.

Canadá reporá seu índice de preços ao consumidor (IPC) de fevereiro, anual e seus núcleos. O mercado projeta elevação de 0,7% em fevereiro e 6,1% no ano.

Nos Estados Unidos, destaque para o relatório de estoque, produção e venda de petróleo bruto e seus derivados, às 11h30.

Às 16h a Argentina divulga sua balança comercial de fevereiro.

Balanços do dia: Itaúsa, holding de investimentos do Itaú, pela manhã.

Nike nos EUA, Vibra Energia e JBS no Brasil, após o encerramento das negociações nas bolsas.

Quarta, 22

Super Quarta, ou seja, dia de decisão de juros no Brasil e nos Estados Unidos.

No Brasil, a taxa atual é de 13,75% e há uma expectativa de manutenção, no entanto, alguns agentes do mercado já idealizam um possível início de corte.

Nos Estados Unidos, a taxa atual está entre 4,50% e 4,75%, com a projeção de alta de 0,25 ponto percentual na Fed Fund Rate.

Feriado na Indonésia (Ano Novo Hindu)

Reino Unido reporta, durante a madrugada, índice de preços ao consumidor (IPC) de fevereiro, acumulado de 12 meses e seus respectivos núcleos (métrica que exclui preços de combustíveis e alimentos).

As projeções para a carestia inglesa são: queda de 0,5% no núcleo do IPC de fevereiro, mas avanço de 6,2% no acumulado de 12 meses. No IPC total, recuo de 0,4% no mês e alta de 10,3% nos 12 meses.

África do Sul também divulga seus dados de inflação ao consumidor, com projeção de 0,3% no núcleo de fevereiro e de 4,9% no acumulado.

Argentina divulga seu PIB anual de 2022, do quarto trimestre e sua taxa de desemprego. Segundo as projeções, o PIB do país deve avançar 5,8% em 2022 e o desemprego ficar em 7,2%.

Balanço do dia: Braskem, após o fechamento da bolsa

Quinta, 23

Feriado na Indonésia (Ano Novo Hindu)

Cingapura e Hong Kong divulgam seus índices de preço ao consumidor (IPC) de fevereiro e anual.

No Reino Unido, o Bank of England (banco central) divulga a nova taxa de juros do país. A projeção é que seja elevada dos atuais 4% ao ano para 4,45% ao ano. O resultado deve sair por volta das 9h da manhã (Brasília).

União Europeia divulga índice de confiança do consumidor na região.

Estados Unidos tem Índice de Atividade Nacional pelo Fed de Chicago, vendas de casas novas e Índice de Atividade Industrial do Fed Kansas City.

No fim do dia, Japão divulga IPC mensal de fevereiro e do consolidado de 12 meses. País também divulga PMI Industrial de março.

Balanço do dia: Cogna Educação, Sabesp, Oi e Aliansce Sonae, todas após o fechamento do mercado.

Sexta, 24

Feriado na Argentina (Dia da Memória pela Verdade e Justiça)

No Brasil, o IBGE divulga o IPCA-15, com a inflação dos primeiros 15 dias de março.

Reino Unido divulga dados de Vendas no Varejo de fevereiro e anual.

Espanha reporta seu PIB do quarto trimestre.

França, Alemanha, União Europeia e Estados Unidos divulgam suas pesquisas PMI Industrial,  PMI Composto e PMI do Setor de Serviços.

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