BNP Paribas vê Selic de volta a dois dígitos em 2025 com piora do fiscal e Estados Unidos
Banco prevê que atual ciclo de corte da Selic contratado pelo BC terminará em 8,5% em 2024, mas taxa deve subir por piora no quadro fiscal
O banco de investimentos europeu BNP Paribas acredita que a taxa de juros básica da economia brasileira deve subir novamente para dois dígitos em 2024. O BNP estima que o ciclo de corte de juros deve acabar em 8,5% até o final do primeiro semestre de 2024, mas prevê um ciclo de aumento logo em seguida porque “a taxa pode se provar baixa demais para a política de gastos do governo federal”, afirma Gustavo Arruda, head de Pesquisa Macroeconômica para América Latina do banco.
Além disso, o outro motivo que leva a uma previsão da Selic acima dos 10% a partir de 2025 é a economia americana. Segundo Arruda, os Estados Unidos devem sofrer com uma “leve recessão” no ano que vem, como consequência da resiliente inflação que atrapalha o Fed (banco central dos EUA) a cortar o juros.
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BNP Paribas crê em déficit de -1% do PIB em 2024
Para o banco europeu, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deve atingir a meta de zerar a dívida pública em 2024. Conforme o arcabouço fiscal aprovado em maio, o governo central deve reduzir o déficit para 0% em relação ao PIB brasileiro.
Contudo, para Arruda, “o governo não deve entregar o (déficit) a zero em 2024”. Nas estimativas do BNP Paribas, ao invés de zero, a dívida pública deve ser negativa em 1% do PIB, fora da banda de 0,25% definida pelo arcabouço.
O economista afirma que, para chegar a este resultado, o banco prevê uma postura fiscal “mais orientada para o lado da arrecadação” do que corte de despesas. “A discussão daqui até o final do governo será mais voltada para o resultado de coleta de imposto do que o corte de gastos. Por consequência, prevemos aumento de dívida pública ao longo da administração”, completa.
Nos cálculos do BNP, a trajetória da dívida deve subir para 80% do PIB até o final de 2025. Mas Arruda crê que o olhar do investidor estrangeiro “não parece preocupado investidor estrangeiro. “A impressão é que o estrangeiro acaba relativizando um pouco (a trajetória da dívida.”
Fed deve chegar a juros neutros ao final de 2024, diz BNP
Ainda no cenário externo, o BNP Paribas estipula que o Federal Reserve deve atingir o nível de juros neutros – taxa que nem estimula e nem desestimula a economia – ao final de 2024. Para isso, a autoridade monetária americana deve cortar juros a partir do segundo semestre do ano que vem, comenta Arruda.
Quanto ao cenário de “leve recessão” na economia americana, Arruda pontua que a inflação por lá tem se mostrado mais resiliente. “Isso porque a economia americana é mais flexível do que a europeia”, prossegue.
Além do cenário de recessão, o head de pesquisa do BNP Paribas afirma que “não é improável” um cenário chamado de “no landing” pelo banco. Nesta projeção, a inflação obrigaria o Fed a baixar os juros apenas em 2025.
Como isto afeta o Brasil?
Para Arruda, a discussão sobre os juros praticados pelo BC em relação ao Fed deve se tornar “cada vez mais importante” daqui para frente.
Isso porque o Brasil, assim como o resto da América Latina, começou o movimento de corte de juros antes do que economia desenvolvidas. Na avaliação de Arruda, isso levará a uma discussão de “apetite marginal” do investidor. Ou seja, quão atrativo são os mercados emergentes com juros baixos contra os bonds americanos.
“Isso poderia gerar uma pressão sobre a reprecificação de ativos”, diz.
“A questão é de qual será a taxa de juros real no Brasil com juros nos EUA está a 5% e em dólar. Quão próximo os juros do Brasil devem se aproximar dos juros americanos sem depreciação do câmbio. À medida em que tempo for passando, esse debate será maior.”