BNDES: concessões vão parar se devolução ao Tesouro não for revista
Presidente da instituição, Aloizio Mercadante, quer escalonar a devolução de R$ 22,6 bilhões devidos ao Tesouro Nacional
O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, voltou a defender uma revisão do cronograma de devolução de recursos ao Tesouro Nacional.
O banco de fomento ainda tem de retornar R$ 22,6 bilhões à União.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Pelo prazo original, a instituição teria de fazer o pagamento integral neste mês, o que, afirmam seus executivos, reduziria a concessão de crédito.
“Se nós pagarmos R$ 22,6 bilhões agora, isso impacta decisivamente a liquidez. Teríamos de retardar aprovações e parar o desembolso”, disse Mercadante a jornalistas.
Últimas em Mercado financeiro
Essa paralisação afetaria a todos os setores, do agronegócio aos governos estaduais, de acordo com ele. O BNDES tem de devolver ao governo recursos que entraram no banco entre 2008 e 2014.
Ao todo, os aportes somaram R$ 440,8 bilhões.
Somados os juros e a correção, o banco devolveu R$ 689 bilhões desde 2015. Se incluídos aos dividendos pagos anualmente, a União recebeu R$ 798,1 bilhões da instituição nos últimos 14 anos.
Em outubro, o BNDES propôs ao governo dividir a devolução do restante em oito anos, em parcelas anuais.
O Ministério da Fazenda concordou, mas o cronograma ainda depende de aval do Tribunal de Contas da União (TCU).
Para o banco de fomento, diluir as devoluções é chave para manter o ritmo de expansão da carteira de crédito, que chegou em setembro ao maior valor em mais de quatro anos, de R$ 495,2 bilhões.
No terceiro trimestre, o BNDES desembolsou R$ 34,8 bilhões, alta de 18,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
Retomada
O diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do banco, Nelson Barbosa, afirmou que o BNDES não pretende ir muito além do tamanho relativo que tem hoje, de 7% do PIB, bem distante dos 16% vistos em 2015.
No ano que vem, a estimativa o banco é de chegar a R$ 137 bilhões. Em uma perspectiva conservadora, o banco de fomento concederá crédito equivalente a 1,1% do PIB nos próximos três anos.
O cenário base pressupõe que o montante chegaria a 1,4% em 2026 e, no mais otimista, subiria a 2% do PIB no final do período.
Postergar os pagamentos ao Tesouro ajudaria, mas o BNDES acredita que o balanço é robusto o suficiente para crescer no médio prazo.
O índice de Basileia do banco, medida do colchão de liquidez, estava em 34,4% no final de setembro, mais de 20 pontos porcentuais acima do mínimo exigido pelo Banco Central e bem acima dos grandes bancos comerciais.
O banco teve lucro líquido contábil de R$ 4,9 bilhões no terceiro trimestre, graças a R$ 1,2 bilhão em dividendos que recebeu da Petrobras. O lucro recorrente foi de R$ 2,9 bilhões, alta de 21,3% em um ano.
O diretor Financeiro e de Crédito Digital para MPMEs, Alexandre Abreu, vê uma conjunção rara de fatores neste ano: aumentou a carteira de crédito e o lucro ao mesmo tempo em que a inadimplência caiu para 0,01%.
“O resultado mostra alta do desembolso, do lucro e inadimplência em baixa”, disse o executivo.
Sem rivalidade
A retomada também passa pela participação do BNDES no mercado de capitais.
Parte dessa atuação é na estruturação de emissões das empresas, atividade em que movimentou R$ 15,5 bilhões neste ano até aqui, mais de duas vezes o volume observado em 2022.
No terceiro trimestre, obteve R$ 500 milhões em comissões com o serviço.
Em junho, o banco subscreveu R$ 1,8 bilhão dos R$ 3,8 bilhões em títulos emitidos pela concessionária de saneamento Iguá Rio, o que ajudou a viabilizar a oferta em um período de mercado restrito.
Em agosto, ficou com R$ 1,9 bilhão dos R$ 5,5 bilhões em papéis de outra empresa do setor, a Águas do Rio.
Ao todo, neste ano, levou ao balanço R$ 10,9 bilhões em debêntures.
Mercadante afirmou que o banco pretende também fazer a assessoria financeira a ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês).
Essa atividade cobiçada por bancos de investimento porque paga maiores comissões, mas têm sido raras.
O último IPO na B3 aconteceu em agosto de 2021.
Entretanto, o BNDES reiterou a visão de que não há conflitos entre sua atuação e a dos agentes privados.
Com Estadão Conteúdo